quinta-feira, 3 de abril de 2014

NEM SÓ DE PAU...


Remando...remando...remando...   (Arquivo Clóvis)

     No final da década de 1960, na Praia do Perequê-mirim, o caiçara Valentim de Jesus, o Xarazinho, era proprietário do Depósito Itajá, de materiais de construção. Mais tarde, em meados de 1970, vendeu esse ponto comercial para os irmão gregos. Se não me engano, hoje funciona uma danceteria no mesmo local.
     Por ali, naquele tempo, a rotina era pesca, roça, construção civil e diversão. O time de futebol do lugar, o Anchieta Futebol Clube,  era destaque. A cada domingo lá estávamos nós torcendo pelos jogadores de uniformes azuis. Destaque especial para o árbitro Domingos Barreto, filho do Licínio, o “homem que se tivesse estudado seria o melhor advogado da nossa Ubatuba”, conforme diziam muitos.
     Havia os canoeiros, os fazedores de redes etc. Das mãos do Ditão da Ditanha saíram os melhores remos daquele tempo. Hoje, ao me encontrar com o seu filho, o Roberto Paió, me recordo de tantas coisas...
     Depois de deixar os negócios de materiais de construção, o Xarazinho montou uma distribuidora de sorvetes da marca Kibon ao lado de sua casa, nos fundos do referido depósito. Bons negócios! O Joel Góis, rapaz muito compenetrado,  era como um gerente: monitorava tudo, desde os sorveteiros até as compras. “Menino esperto!” 
    Na temporada, sobretudo nas praias da Enseada e do Lázaro, os sorveteiros faturavam. Era do ponto comercial do Xarazinho que saía toda a mercadoria refrescante. Poucos não se aventuravam em faturar sob o sol escandante, aproveitando para apreciar as beldades tão variadas. Dizia o vovô nessas ocasiões veranistas: “Que beleza! Tá todo mundo lavando as ovas!”.
     Eu, de vez em quando, passava para uma prosa com o Joel. Aproveitava para admirar a movimentação. Alguns sorveteiros se destacavam: Almeidinha, Alcides Lopes, Tião Mortadela, Zé Corneta, Joel Pelado... Até o Ditão, especialista em tirar da madeira maravilhosos remos, se rendia à tentação de vender sorvetes na temporada. E faturava! Certa vez, enquanto aguardava ser atendido, vendo o Ditão se afastar empurrando o carrinho amarelo da firma, o Zé da Nhanhã comentou: “É como disse o 'irmão' Cláudio: nem só de pau vive o homem”. Nisso o Joel arregalou os olhos. Eu só ri e pensei um pouco. O velho caiçara, recém-chegado de Santos, era mesmo irreverente.

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