segunda-feira, 5 de maio de 2014

EMPREENDEDOR FRANCÊS (I)

Madeira deve ser cortada no tempo certo.  (Arquivo Chiéus)


         No começo do século XIX, com a cafeicultura se apresentando como uma ótima ocasião aos empreendedores da época, sobretudo aos europeus, muita gente veio investir no território ubatubano. Um desses homens de negócio foi o trisavô do professor Zizinho Vigneron, natural da costa da Bretanha.

         Por esses dias eu recebi o Guia Prático de Agricultura Tropical. Nas palavras do Zizinho, “Este é o livro do meu trisavô Sigismond Victor Vigneron de la Jousselandière. Ele estava, na época, no Sertão do Cambucá”.

       Nas suas anotações relativas ao mês de maio, nota-se que o francês, além de trazer seus conhecimentos de outras terras, também já tinha anotado aspectos da cultura local. Exemplos: o corte das madeiras seguia um calendário para não dar bichos, o potássio da madeira tinha uma utilidade muito grande, o bagaço da cana era usado na cozinha etc... Não esquecer que o autor era um francês embrenhado na Mata Atlântica, se adaptando com a linguagem e com o lugar, cujo única facilidade era o acesso ao mar, ao transporte de seus produtos.
      Aos poucos vou apresentando no blog mais detalhes desse documento quase inédito.   Desde    já agradeço ao professor Zizinho pela dádiva. 


Maio


          Em maio, as pessoas  não fazem o plantio no sul, nos trópicos. A  preocupação é com a capina. “Capina e cafeicultores Butagira, estão no auge de sua Grag colheita do café”.

        Devemos continuar o trabalho de jardinagem,  das sementes de linho e até mesmo iniciar mudas especiais de abóboras, melancias, pepinos, ervilhas, etc.

        Este é o melhor momento para fazer derrubada (“cabidela”) de  madeira virgem. É época que as árvores estão sem seiva, que, portanto, não há fermentação, e que não há insetos que atacam. É também o momento adequado para fazer o potássio normal e carvão. Em tempo: para puxar o vinagre de madeira deve ser feito em tempo quente, quando a seiva da fermentação sai de imediato, dando mais vinagre. Quando você quiser fazer açúcar a partir da seiva, o oposto é verdadeiro, a menos que você cortou um dia a destilar o dia seguinte.


    Produtores de algodão devem manter árvores adequadas para controlar o desenvolvimento das flores, caso contrário, eles se esforçam, mas o algodão não produz como poderia, “não dá frutos”.
Produtores de cana também devem manter a limpeza, especialmente aquelas plantadas no arado e à enxada. O cavalo pode ajudar nessa limpeza. Eles também devem fazer a devasta com cuidado, tornando as canas mais suaves. Há insetos que destroem a casca, mas é verdade que isso faz a vara mais forte.

         Por fim, o curioso  Sigismond quer que seja bem aproveitado o suco da cana. Dá a entender que o trabalho não deve ser descuidado nem mesmo no período noturno:
   “...mas naquela noite como cilindros de madeira que devem ser abandonados porque não pressioná-los o suficiente para que o bagaço não pode ser usado na cozinha, e dar uma perda considerável em suco e de trabalho”.

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