segunda-feira, 9 de setembro de 2013

DANÇA DE MOÇAMBIQUE

 
Grupo de Congada do Sertão do Puruba (Arquivo Júlio)
Hoje me peguei pensando numa dança dos antigos, lá na Caçandoca, no tempo dos meu avós  Estevan e Martinha. O nome era MOÇAMBIQUE.
De acordo com a vovó, só os homens dançavam. “Era do tempo dos escravos. Acontecia para festejar N.S. do Rosário e São Benedito. Santaria de preto, meu filho!”. E, continuando: “Os homens manejavam bastões e chamavam bem a atenção com as batidas; tinham fitas nas roupas e, na altura dos joelhos, carregavam um guizo feito de lata. Era aquilo que ajudava na marcação do ritmo”.
Então, podemos concluir que era uma dança votiva, onde se agradecia por alguma graça alcançada. Os bastões representavam as espadas nos combates. Sempre tinha viola acompanhando tambor e pandeiro. A vovó ainda citava uma tal de birimba que eu não sei do que se trata. Será parente do birimbau? Mais tarde, já morando no bairro da Estufa, soube de um grupo de Moçambique, onde dançavam o Tobias, o tio Aristides, o Mané Mariano e outros. Deles, eu escutei: “Tinha mais grupos como o nosso. No centro da cidade (Ubatuba) tinha o pessoal do Modesto. No Taquaral quem animava outros moçambiqueiros era a Maria Xana. Era um tempo bom aquele!”.
Atualmente, no município inteiro, só tem o grupo de CONGADA do Sertão do Puruba, sob o comando do mestre Dito Fernandes. É muito semelhante às descrições da Dança de MOÇAMBIQUE descrita pelos meus antigos. Ah! Tem também o grupo do CORTIÇO, cujo incentivadores são Papão e sua esposa. 
O velho Antonio “Sapato Branco”, um negro que conheci nas obras, no Perequê-mirim na década de 1970,  se dizia congadeiro na sua terra (Jacareí - SP). Dele eu escutei o seguinte:

“A história do rei do Congo é assim: três reis se dirigiam para adorar o Deus-menino, lá na Gruta de Belém. Isso faz muito tempo! Um deles era negro. Por isso, os outros dois quiseram lhe passar a perna, chegar primeiro no lugar santo. Então mostraram a ele um caminho mais longo, que tinha de dar muitas voltas. Imagine um preto ver primeiro o Rei dos reis!?! Ele foi pelo caminho indicado. Os outros dois se mandaram pelo mais curto. Mas Deus é pai de todos! Viu que o preto tinha sido logrado! Então fez o milagre: quando os outros dois avistaram a gruta com a Sagrada Família, quem estava lá? Isso mesmo! O rei escurinho,da cor do pião aqui, já adorava Jesus depois de ter dado o seu presente. Acho que era mirra, uma erva milagrosa que ainda existe. Fazia tempo que ele tinha chegado. Os outros reis se admiraram da façanha. Se arrependeram. Ao se ajoelharem diante do Filho de Deus, escutaram de sua boquinha: ‘Este rei que vocês enganaram, será a cada ano coroado como Rei do Congo’. Assim teve início a Congada nesse mundo”.

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