terça-feira, 24 de setembro de 2013

O QUILOMBO DA CAÇANDOCA (IV)

        
Ainda não encontrei uma situação tão ruim que não tivesse ao menos uma flor (Arquivo JRS).
                  Já começo respondendo à questão principal do Chico: o que predomina na Caçandoca são cafuzos e mamelucos, ou seja, a miscigenação entre índios e negros e brancos e negros. Portanto, os negros são uma minoria na área, mas estão na conta de parentes. Na verdade, o que aconteceu no decorrer do movimento pela retomada das terras das antigas fazendas Caçandoca e Saco dos Morcegos, foi uma manipulação, por parte de uma das lideranças, para se aproveitar da brecha constitucional (de reconhecimento de área quilombola). Infelizmente prevaleceu a mentalidade de assistencialismo, o que já causou dissidência e desfigurou o objetivo original de reviver a dignidade da cultura caiçara. Posso falar com muita propriedade porque estive, juntamente com meus irmãos, no movimento desde 1990. Afinal, ali nasceu meu pai, meus avós, bisavós etc. É de onde vem a base dos Félix, Cabral, Lopes e Amorim. Outros ramos de nossa família caiçara nesse local eu já escrevi através das memórias de Aristeu (Proseando com o Aristeu). Tudo gente que empobreceu junto com o fim do ciclo cafeeiro nesse litoral, na segunda metade do século XIX, inclusive os Antunes de Sá, os últimos proprietários da região em litígio.

             Quando cheguei em casa, fui ao google e encontrei farto material sobre o quilombo da Caçandoca. É material acadêmico e técnico, resultado de pesquisa antropológica e com a finalidade de fazer valer aos remanescentes, o direito à propriedade da terra em que vivem. À partir da constituição de 1988, que atualizou o conceito de quilombo, foi possível a diversas comunidades remanescentes espalhadas pelo Brasil, enquadrarem-se na nova lei e reivindicarem a propriedade da terra.

            A situação da Caçandoca não é simples. Segundo me contou uma pessoa que mora na praia da Maranduba, além dos remanescentes, reivindicam a propriedade da região, uma empresa imobiliária que teria comprado a terra quando da abertura da  BR 101, a Rio-Santos e também os descendentes de um antigo proprietário, que dizem ter um documento de posse de séculos atrás. Por isso a minha dificuldade de obter informações dos atuais moradores. Mas eu ainda não entendi muito bem porque não encontrei nenhum negro por lá, isso ainda é um mistério para mim. Se alguém que conhece mais de perto a situação quiser explicar, eu agradeço.

        Quem se interessar, pode conferir o material técnico aqui.http://www.itesp.sp.gov.br/br/info/acoes/rtc/RTC_Cacandoca.pdf

        Enfim, o autor do texto termina lembrando que, além de mudar os nomes, nem mesmo fotos das pessoas ele quis publicar devido à situação melindrosa que estão vivendo.  Valeu, Chico!

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