terça-feira, 8 de janeiro de 2013

TROFÉU JANGOLENGO




         Finalmente eu consegui acessar a internet. Que sufoco! Eu não poderia de deixar de lado este texto do Júlio escrito justamente do dia do fim do mundo. E não valeu a arte na concha de marisco - o troféu do Jaür?

      Pra quem não sabe o que é um jangolengo, eu digo: é o tié-sangue do mar. Peixe de vermelho intenso, tal qual o vermelho do tié. Vivem em cardumes nos parcéis, costeiras de ilhas e lajes de mar. Chega atingir 30 cm de comprimento. O bicho é esfomeado por natureza e para pescá-lo não se faz muito esforço; basta um anzol com uma imitação de isca (isopor, elástico, plástico) ou mesmo uma isca artificial, tipo garatéia. É jogar ao mar e fazer a curricada. Quantos anzóis tiverem, quantos serão os peixes fisgados; enche-se um balaio em poucos minutos.
    Alguns pescadores, mais fantasiosos do que pescadores propriamente dito, inventaram um torneio de pesca: “Pesca ao jangolengo”. Quem pescasse mais, em meia hora, ganhava um troféu e não pagava a cerveja e nem a churrascada.
      Local marcado do torneio: na Lage Grande da baía de Ubatumirim, águas do mar de Ubatuba, aconteceu o primeiro torneio de pesca ao jangolengo. Pescadores a postos deram inicio ao torneio. Dentre os grandes pescadores de currico estava o primo Jaür Carpinetti que, com toda sua logística e estrutura pesqueira, era o favorito. Com sua molinete e vara de fibra de carbono, isca artificial alemã e linha de fibra óptica, iniciou sua pescaria. Joga pra cá, joga pra lá, currica à bombordo, à estibordo... e nada. Já se passava 15 minutos, e enquanto os adversários enchiam o balaio com jangolengo, Jaür Capinetti só dava banho nas iscas. E o tempo ia passando. Trocava isca artificial por isca natural, colocava chumbada pra tentar pescar de fundo, e nada... O que estava acontecendo? Nunca foi de perder uma pescaria! Notou então que suas mãos estavam com cheiro de certo perfume; lembrou então que ao sair de casa se lambuzou com repelente contra borrachudo; foi a conta, o cheiro do produto repelia também os jangolengos.              Fazer o que naquelas alturas do campeonato? Enquanto os adversários já contavam com mais de trezentos jagolengo pescado, o primo Jaür estava zerado e seria ele a pagar a cachaçada para os demais competidores. Restava uma saída para não ficar pagão e com a lanterna na mão. Limpou bem as mãos, passou a mão no saco, tirando uma salsicha do pão, iscou num anzolão e jogou ao mar de fundo. Pensou: perdido por perdido pelo menos tentaria, com a isca de salsicha, ferrar um garopão pra fazer um pirão com banana verde. Assim fez. Faltava poucos minutos para terminar o torneio. A isca mal chegou ao fundo, o bicho pegou em sua linha. –Minha Nossa Senhora! Gritou bem alto e falou aos adversários: -Se não for a poita de meu barco é um peixe muito grande! E puxa daqui, puxa dali, geme, peida,... até que o peixe aparece na flor d’água. Era um jangolengão do tamanho do capô de um fusca vermelho, de no mínimo cento e cinquenta quilos. Com a ajuda dos pescadores colocaram o peixão pra dentro de seu barco (a lancha Princesa). Momentaneamente, embora ter pescado o maior peixe, tinha pego apenas um; seria ele quem pagaria a bebedeira. Mas a surpresa apareceu no caminho de volta da pescaria. Com o balanço do mar e o tranco do barco nas marolas, o jangolengão começou a ter enjoo e passou a vomitar. O vômito do jangolengão era só jangolengo de tamanho natural. Foram contados 958 jangolengos que sairam da barriga do grandão.
    De lanterna, Jaür Carpinetti passou a ser o grande campeão do torneio “Pesca ao Jangolengo” e quem pagou a conta da cervejada foi o Guelinho da bicicletaria.
Taí o troféu e o Paulo Ramos para confirmar a história.
Julinho Mendes – Ubatuba, 21/12/12 (dia do fim do mundo)

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