sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

O NOSSO MAR



A pequena Fabiana ainda teve o privilégio de se banhar na praia limpa do Itaguá.

                Em O Guaruçá, o meu amigo Júlio, um colega de ginásio que desde aquele tempo já era muito animado para tudo, escreveu um texto bem característico do seu perfil (alguém preocupado com a qualidade de vida em Ubatuba e com a cultura caiçara).               Dentre outros aspectos, chamou-me a atenção a questão da mortandade dos sapinhauás (marisco da praia) na praia do Itaguá. 
                Na metade da década de 1980, próximo da desembocadura da Barra da Lagoa, onde hoje se localiza o aquário, um dos pontos de turismo permanente da cidade, estando eu andando pelas areias, notei muitos caranguejos do mangue (guenzos) mortos e longos trechos de sapinhauás nas mesmas condições. A praia fedia demais! Na mesma hora, parando junto ao saudoso Florindo Teixeira Leite e seus camaradas de rede, escutei o desabafo do pescador caiçara:
- O que tá matando os guenzos e fazendo montanha de sapinhauás na areia da praia é o batedor de bosta do prefeito. É isso, Zezinho! Só pode ser isso! Desde quando começou a funcionar aquela porcaria que chamam de estação de tratamento de esgoto, na outra margem da barra, quase de frente com a barraca do Wilson Xavier, nós notamos o sofrimento desses coitados. Isso é pecado! E o fedor? Passe por ali logo depois do almoço que você vai entender bem o que lhe digo. Na água limpa, onde tem tantos siris, robalos e guaiviras, de repente é despejado no meio do mato do mangue  aquele caldo marrom. Aí o fedor empesteia tudo. Você não tá vendo aí no lagamar essa quantidade de feijão ainda na massa? É tudo bosta envenenada! Nem garoçá come essa porcaria! O culpado é o prefeito que montou aquilo de qualquer maneira. Que tratamento tá sendo feito?  A bosta só é batida e despejada para chegar ao mar. Até quando isso vai continuar?
Já naquele tempo pensei no período joanino, no Brasil de 1810, quando, por questões higiênicas, havia escravos especialmente escalados para carregar as barricas de fezes dos senhores e despejar nas águas da Baía da Guanabara. Disso resultou os “tigres” (negros com pele manchada devido as doenças contraídas pelo caldo que escorria por seus corpos).
Foi a fala do querido pescador que há tempos nos deixou, juntamente com algumas observações recentes que me faz discordar do Júlio, quando ele escreve que o mesmo fenômeno ocorrido naquele tempo está acontecendo agora e que o motivo é o aquecimento das águas oceânicas.
Não. O que está causando mais uma vez a mortandade dos sapinhauás é o esgoto mal tratado da Praia Grande, que chega à Baía de Yperoig, afetando os seres que nela ainda sobrevivem, via rio Acarau. Caso queira comprovar, sinta a fedentia próximo do trevo da Praia Grande. Ou busque essa oportunidade sobre a pontinha do Acarau, bem no centro comercial do Itaguá, ali na rua Capitão Felipe.
                Só não sei porque os moradores e comerciantes locais não se manifestam nesse assunto. No texto que enviei ontem para  publicação local, fiz as seguintes perguntas:
1-      Quais compromissos têm os poderes constituídos responsáveis pelo nosso meio ambiente?
2-      Por que não é realizado um verdadeiro tratamento dos esgotos de Ubatuba?
3-      Onde está a Cetesb, a Sabesp e tantos outros órgãos que se dizem atentos à qualidade de vida para todos?
4-      Como vai ficar essa situação assim que chegarem os turistas?
Enfim, agradecendo ao Júlio por externar as suas angústias e sonhos; querendo que mais gente se comprometa com a qualidade das nossas belezas naturais e com uma vida digna, encerro este com uma frase do grande poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade:
No mar estava escrito uma cidade”.

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