quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

CAUSOS DO FIM DO MUNDO

Nossas tardes no BAMBU, depois do delicioso pirão. 


                Para aproveitar bem o fim do mundo, recordando partes importantes do nosso acervo cultural caiçara, eu recomendo, do amigo Júlio...

                A lenda do Boi de Conchas (I)

                O filhote do boi Marujo com a vaca Sereia, nasceu no dia 29 de junho, dia de São Pedro Pescador. Ao ver Cipriano, o bichinho deu um mugido parecendo som de ratambufe, um instrumento tipicamente ubatubano, misto de percussão e de fricção, inventado na década de 1940 por Domingos Anagro para se divertir no carnaval.
                - Ratambufe! Esse mugido, parecendo o ratambufe do Domingos, será de onde vem o seu nome. Você é forte, bonito e tem jeito de ser um bom carreador! Já que nasceu no dia de São Pedro Pescador, vou leva-lo para conhecer o mar! Você vai ver que beleza é o mar! Está ouvindo, Ratambufe? O recém-nascido bezerro, parecendo entender, fitava a promessa do velho Cipriano, seu dono.
                Ratambufe era um boizinho quase que inteiramente branco, apenas o rabo era preto, com destaque a uma mancha preta na testa com formato de concha.
                Cipriano era um tropeiro do Bairro Alto de São Luiz do Paraitinga que comercializava em Ubatuba. Descia e subia a serra semanalmente trazendo queijo, farinha de milho, carne seca, carne de porco e também animais como cavalo, boi, galinha, pato, cabrito e porco. Dentre os produtos que levava estavam banana, peixe seco, sal e farinha de mandioca.
                Ratambufe foi crescendo e ouvindo as promessas de que seu dono iria lhe mostrar  o mar. O que seria o mar? O que seriam as gaivotas, as conchas, os peixes e os guaruçás que Cipriano tanto falava?
                Ratambufe cresceu ouvindo falar do mar e das coisas do mar... Para Ratambufe o mar seria o céu, o paraíso.
                Dois anos se passaram. Ratambufe era o mais lindo animal de Cipriano. Era um boi forte, robusto, inteligente, mas o que mais importava era o seu peso, as suas arrobas. Aquela conversa de mar, na verdade, era “conversa pra boi dormir”. Cipriano, como bom comerciante que era, tinha na verdade outras intenções: desceria a serra com o boi, indo direto para o matadouro, venderia a sua carne e ganharia um bom dinheiro.
                O matadouro ficava no final da rua Coronel Ernesto de Oliveira; final também da rua Alfredo de Araújo. No mais tardar, o boi chegava ao meio-dia.
                -É amanhã, Ratambufe! Amanhã você vai conhecer o mar!
                Assim aconteceu. No mirante da serra, no Descanso do Tuniquinho, pela primeira vez Ratambufe viu o mar. Lá de cima da serra avistou aquela imensidão de águas azuis.
                - Tá vendo, Ratambufe? Lá é o mar! Lá estão as conchas, os peixes e as sereias! É lá que mora São Pedro Pescador! Falava Cipriano ao seu animal. Ratambufe parecia entender, e, completamente hipnotizado, não tirava os olhos daquela imensidão de águas azuis bem brilhantes com os raios de sol.
                - Calma, Ratambufe! Você vai ver o mar! Caaaalma! Fez Cipriano mais esta última promessa a seu boi.
                A descida da serra foi tranquila, por entre grotas e cachoeiras, sob sombras de manacás e bicuibas, ao som de arapongas e tangarás... Coisas que Ratambufe, em seus dois anos de vida, nunca tinha apreciado. O animal parecia ansioso, fazendo a tropa acelerar o passo.
                - Caaaalma, Ratambufe! Está chegando! O mar não vai fugir! Alertava Cipriano.
                Cipriano se arrependeu. E se arrependeu muito!

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