domingo, 8 de maio de 2011

Mané Hilário (Parte 17)


(Aviso: esta é a última parte desta etapa)

Júlio: Conta algum causo de assombração pra nós

M.H.: Eu não posso dizê nada porque eu nunca vi assombração, mas o pessoá até hoje ainda tem medo. Uma criança que nem aquela ali [mostra o bisneto]: “Olha, não vai em tar lugá porque tem isso assim, assim”. Ele guarda aquilo consigo, né? Mais tarde... Agora tem uma coisa: quem disser que não tem o demônio, o coisa ruim... Tem! Porque nós tinha um cachorro em casa por nome de “Saúva”, um cachorro bonito. Quase toda noite o cachorro apanhava no lado de fora, mas nós escutava o rumor da guasca que batia no cachorro, e, o cachorro, coitadinho, botava a cauda no vão da perna e vinha na porta. Nós botava ele pra dentro. Um dia, uma noite, aliás, a minha tia Elídia, que morreu com cento e poucos anos, o cachorro tava apanhando, e ela: “Tá batendo no cachorro, seu porco, sem- vergonha, seu pé de pato”. E xingava o que era, né? “Espera aí que eu já vou com um tição de fogo aí”. E foi lá na cozinha, pegou um tição de fogo. Ela sabia reza, muitas rezas, né? Chegou no terrero, pegou a rezá arto, em voz arta. O que era saiu pelo caminho do poço. Quando chegou perto do poço deu dois sobiu: fiuiuuuuuuu.......fiuiuuuuuuu...... Ela: “Tá sobiando ainda, seu malandro, seu sem-vergonha, seu ordinário! Crêm’Deus Pai Todo Poderoso, Santíssimo Deus!”. E deu uma risada lá. Ela pegou um tição de fogo, largou com força. O tição foi assim, foi assim, caiu lá no meio do mato. Eu disse assim: “Vai pegá fogo! O capim melado tá seco”. Mas não pegou fogo. Aí o que era desapareceu; nunca mais vortou. O que era eu não sei. Então ela dizia: “Era o demônio meu filho; o coisa ruim que anda rodeando a casa da gente, atentando a vida da gente”. Então eu digo: tem. O  demônio tem! Porque eu acho que, uma pessoa pegá o revórver, uma espingarda, e, matá seu semelhante assim, de sangue frio, é o coisa ruim que tá invocado nele, né? Será que ele não alembra que a dor da morte só esperamos de Deus? Vamos matá uma pessoa antes do dia dele? É o demônio! É o demônio que faz isso! Que nem aquele João Floriano, lá no Taquará, que matou o finado Pinho, o avô da minha nora aqui. Ter a paciênça de mais de um mês, de ele cortá o mato, fazê vorta e vim pará na beira da cachoeira, onde passava todo mundo. Uma distância como daqui lá naquela cadeira, assim ele cortou um pauzinho, afincou (até o pau brotou!), pra ele tá esperando o Pinho fosse um dia sozinho e atirá. E até que pegou o dia e matou o homi. O que é isso? Isso é o demônio, o coisa ruim. Não pode ser outra coisa! Porque assim como a fé, a esperança pra nós em Deus, tem que ter o bom e ter o ruim. Teve pra Ele: foi perseguido pelo demônio. Quanto mais nós na Terra, né? Que nós, por muito bom que seja, mas argum erro nós temo. Só Deus que pode sabê! E acontece essa coisa toda.

(Muito bem! Ainda tem mais na gravação, mas deixarei para outros momentos. Agradeço pela fidelidade e paciência. Um abraço. Zé Ronaldo)

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