quarta-feira, 26 de novembro de 2025

VELHOS COMUNISTAS

 

Caiçarada, a festa - Arquivo JRS 

     Em Ubatuba, na estrada do Morro da Berta, longe de cidade, moravam os dois mecânicos, velhos comunistas segundo dizia meu finado pai. Seo Pedro, outro do time de igual ideal, tinha casa e família numerosa no coração da cidade. Viviam na espreita, ariscos, porque era tempo difícil, de ditadura militar. Essas ideias de ter tudo por igual, repartido segundo as necessidades, são antigas! Se acreditarmos no que é dito nos Atos dos Apóstolos e em cartas de Paulo dirigidas aos primeiros seguidores das ideias e do exemplo de vida de Cristo, acharemos textos que comprovam a busca deste ideal: repartir os bens desta Terra, ser uma comunidade solidária, inclusiva etc. Se é verdade o que escreveram a respeito de Jesus, temos no grupo que o cercava os fundamentos explícitos de um autêntico e desafiador comunismo. No século XIX, na Inglaterra, vendo as agruras da classe operária, Karl Marx e seu parceiro Engels, inspirados nas comunidades primitivas, teorizaram uma sociedade diferente da capitalista. Em 1917, o império russo viveu inicialmente a sua revolução nos moldes dos princípios dos dois teóricos. Ao longo da história muita gente acreditou e segue firme nos mesmos princípios. Eu costumo dizer que as nossas comunidades de pobres caiçaras sobreviveram graças aos princípios comunitários, onde a pesca coletiva acontecia semanalmente, se ajudavam nos roçados e farinhadas, repartiam suas caçadas, festejavam na unidade etc. Houve experiência histórica de um Estado realmente comunista? Não! O que buscam implantar em diversos pontos do planeta é um Estado socialista. Socialismo é quando o poder estatal interfere fartamente nos rumos da sociedade visando uma vivência mais justa; seria uma etapa anterior ao comunismo, o grande desafio, a utopia do autogoverno de cada um dentro de uma comunidade que se auto governa também. Por um mundo assim, Cristo, outros líderes carismáticos e muitos que se identificaram com igual projeto foram imolados. Por isso se diz que ser cristão de verdade é ser revolucionário. Mas voltando à nossa história primeira, dos velhos mecânicos comunistas do Morro da Berta: eu me admirava de ver, como que abandonado no terreiro deles, um velho modelo de caminhão. Pensava que ali apodreceria sem prestar para nada. Foram anos vendo o estado de abandono, até que um dia, como se tivesse acontecido um milagre, lá estava o caminhão brilhante, parecendo novíssimo. Dava até para enganar que havia saído da fábrica naquele momento aquilo que, no meu entender, já era ferro velho. Inacreditável o que pessoas capacitadas e com firmes propósitos conseguem fazer! 

4 comentários: