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| Caminho das margaridas - Arquivo JRS |
Era da metade do dia para o fim da tarde, quando eu me dirigia a uma festa de fim de ano. Na rua encontrei a Elen empurrando o carrinho da criança. Era comum ela, adolescente, sair para distrair a bebê todas as tardes enquanto os pais da criança trabalhavam. Também para ela era bom, fazia-lhe bem, se alegrava com as novidades pelos caminhos, pelos sorrisos das pessoas e por algumas cenas engraçadas. Dia quente, imaginei a sede debaixo daquele sol. Certamente que ao menos uma mamadeira com água deveria estar sendo levada, pois no bairro não há chafariz como antigamente costumava ter em alguns lugares. Senão... só restaria parar em alguma casa ou ponto comercial e pedir por favor um copo d'água. Fui divagando em coisas assim até o local da festa, onde colegas me esperavam para celebrar mais um ano de trabalho no qual nos angustiamos juntos, pois as alegrias foram poucas. Cumprimentei a quem fui vendo mais perto. Manoel me levou à cozinha onde uma montanha de bifes já estavam prontos para serem devorados. Naquela hora, não sei porque, pensei em todas as pessoas que vagam com um mínimo de coisas no estômago devido às injustiças deste mundo, por não terem seus direitos reconhecidos porque os patrões desejam lucros e mais lucros, exploram sem compaixão. Pensei no tanto de gente que é destratada pela cor da pele, pela condição sexual e/ou física que lhe coube, pelo lugar que habita etc. Fim da festa para mim; deixei o espaço bem antes de anoitecer. Poucas pessoas estavam pelas ruas. Voltando para casa também seguia Elen empurrando o carrinho. A criança chorava, devia ter se enfastiada dos trancos ou estar com fome. Senti tristeza. Naquele horários os pais ainda não teriam chegado de seus trabalhos. Elen daria banho na pequena, alimentaria, poria para dormir. Depois se retiraria para seu quarto, nos fundos. Naquela idade já era empregada doméstica. Nem conseguiu se matricular no ensino médio porque precisava ajudar nas despesas da sua família. Era aluna brilhante até o ponto em que conseguiu estudar. Os que sabem menos obedecem melhor é a máxima no Estado opressor. A criança cuidada por ela haveria de ter outro futuro. Continuei andando, indo para a minha casa. Amanhã será um novo dia, logo será outro ano.

Bem poucas almas, conseguem ver além do corpo físico e sentir empatia pelas diferenças e condições que a sociedade impõe!
ResponderExcluirVerdade, meu estimado irmão!
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