sexta-feira, 28 de novembro de 2025

VELHOS COBIÇOSOS

 

Carobinha em flor - Arquivo JRS 

   Zé Roberto roda muito, leva um bom tempo para chegar ao seu local de trabalho. Vai pedalando uns quinze quilômetros, deixa a bicicleta guardada no quintal do Teteco porque diz que ali está bem guardada, sem perigo de ser roubada. Lamenta por viver assim, desconfiado de tudo, mas não pode dar sorte ao azar, pois a bicicleta é o meio de transporte dele e de mais gente que, estando de carro, sobretudo na temporada e feriados, querendo chegar logo em casa, acaba ficando parado no trânsito, sobretudo na Praia Grande. Disto se conclui que a bicicleta se torna uma solução possível.

   Paulo e Justino, ambos servidores públicos recém aposentados, moram no centro da cidade. Já não têm filhos pequenos e estão com suas vidas estabilizadas, sem preocupações essenciais, ganham o suficiente para viverem bem. Foi a respeito deles que Zé Roberto me contou o seguinte novidade:

   "Para mim, que sou relativamente jovem, é custoso ir todo dia a essa distância por causa do trabalho, mas não tem outro jeito. Agora me diga se há necessidade de dois homens já não tão jovens, aposentados, irem nessa mesma lonjura só por causa de dinheiro?". Pedi, então, que me explicasse melhor. Eu ainda não estava entendendo a que se referia o indignado amigo. "É o seguinte" - continuou ele - "Paulo e Justino resolveram abrir um bar lá no bairro, perto de onde eu deixo a bicicleta protegida. Sabe onde era a fábrica de blocos dos sócios Wilson e Nilo? Pois é, ali eles montaram um bar. Agora precisam viajar todos os dias se querem se estabelecer, ganhar freguesia, né? Será que eles precisam tanto disso ou é apenas cobiça? Quero ver se eles aguentam quando chegar a temporada, quando perderem horas nas idas e vindas. Não poderiam ficar em casa, curtindo suas famílias e netos que estão chegando sempre? E, além do mais, nem sei se ali é um bom ponto para montar um bar. São poucos moradores, famílias tradicionais, quase no pé do morro."

   Eu escutei e considerei os argumentos do Zé. Achei que ele estava com razão. Eu não faria esse sacrifício se não houvesse tanta necessidade. Me parece que a parceria dos dois aposentados se sustenta apenas na cobiça, na ânsia de ganhar mais dinheiro sem levar em consideração outros aspectos do resto de vida que têm pela frente. Eu, caso tivesse o tempo livre deles, sem querer ficar em casa atormentado a mulher, pegaria a linhada e iria pescar na costeira. Ou ficaria ali, na boca da barra, jogando baralho e conversa fora com a companheirada. Deixa pra lá, a vida é deles! Posso chamá-los de velhos cobiçosos?


quarta-feira, 26 de novembro de 2025

VELHOS COMUNISTAS

 

Caiçarada, a festa - Arquivo JRS 

     Em Ubatuba, na estrada do Morro da Berta, longe de cidade, moravam os dois mecânicos, velhos comunistas segundo dizia meu finado pai. Seo Pedro, outro do time de igual ideal, tinha casa e família numerosa no coração da cidade. Viviam na espreita, ariscos, porque era tempo difícil, de ditadura militar. Essas ideias de ter tudo por igual, repartido segundo as necessidades, são antigas! Se acreditarmos no que é dito nos Atos dos Apóstolos e em cartas de Paulo dirigidas aos primeiros seguidores das ideias e do exemplo de vida de Cristo, acharemos textos que comprovam a busca deste ideal: repartir os bens desta Terra, ser uma comunidade solidária, inclusiva etc. Se é verdade o que escreveram a respeito de Jesus, temos no grupo que o cercava os fundamentos explícitos de um autêntico e desafiador comunismo. No século XIX, na Inglaterra, vendo as agruras da classe operária, Karl Marx e seu parceiro Engels, inspirados nas comunidades primitivas, teorizaram uma sociedade diferente da capitalista. Em 1917, o império russo viveu inicialmente a sua revolução nos moldes dos princípios dos dois teóricos. Ao longo da história muita gente acreditou e segue firme nos mesmos princípios. Eu costumo dizer que as nossas comunidades de pobres caiçaras sobreviveram graças aos princípios comunitários, onde a pesca coletiva acontecia semanalmente, se ajudavam nos roçados e farinhadas, repartiam suas caçadas, festejavam na unidade etc. Houve experiência histórica de um Estado realmente comunista? Não! O que buscam implantar em diversos pontos do planeta é um Estado socialista. Socialismo é quando o poder estatal interfere fartamente nos rumos da sociedade visando uma vivência mais justa; seria uma etapa anterior ao comunismo, o grande desafio, a utopia do autogoverno de cada um dentro de uma comunidade que se auto governa também. Por um mundo assim, Cristo, outros líderes carismáticos e muitos que se identificaram com igual projeto foram imolados. Por isso se diz que ser cristão de verdade é ser revolucionário. Mas voltando à nossa história primeira, dos velhos mecânicos comunistas do Morro da Berta: eu me admirava de ver, como que abandonado no terreiro deles, um velho modelo de caminhão. Pensava que ali apodreceria sem prestar para nada. Foram anos vendo o estado de abandono, até que um dia, como se tivesse acontecido um milagre, lá estava o caminhão brilhante, parecendo novíssimo. Dava até para enganar que havia saído da fábrica naquele momento aquilo que, no meu entender, já era ferro velho. Inacreditável o que pessoas capacitadas e com firmes propósitos conseguem fazer! 

terça-feira, 25 de novembro de 2025

A CRIANÇA QUE DORMIA

 

Caminho das margaridas - Arquivo JRS 

  Era da metade do dia para o fim da tarde, quando eu me dirigia a uma festa de fim de ano. Na rua encontrei a Elen empurrando o carrinho da criança. Era comum ela, adolescente, sair para distrair a bebê todas as tardes enquanto os pais da criança trabalhavam. Também para ela era bom, fazia-lhe bem, se alegrava com as novidades pelos caminhos, pelos sorrisos das pessoas e por algumas cenas engraçadas.  Dia quente, imaginei a sede debaixo daquele sol. Certamente que ao menos uma mamadeira com água deveria estar sendo levada, pois no bairro não há chafariz como antigamente costumava ter em alguns lugares. Senão... só restaria parar em alguma casa ou ponto comercial e pedir por favor um copo d'água. Fui divagando em coisas assim até o local da festa, onde colegas me esperavam para celebrar mais um ano de trabalho no qual nos angustiamos juntos, pois as alegrias foram poucas. Cumprimentei a quem fui vendo mais perto. Manoel me levou à cozinha onde uma montanha de bifes já estavam prontos para serem devorados. Naquela hora, não sei porque, pensei em todas as pessoas que vagam com um mínimo de coisas no estômago devido às injustiças deste mundo, por não terem seus direitos reconhecidos porque os patrões desejam lucros e mais lucros, exploram sem compaixão. Pensei no tanto de gente que é destratada pela cor da pele, pela condição sexual e/ou física que lhe coube, pelo lugar que habita etc.   Fim da festa para mim; deixei o espaço bem antes de anoitecer. Poucas pessoas estavam pelas ruas. Voltando para casa também seguia Elen empurrando o carrinho. A criança chorava, devia ter se enfastiada dos trancos ou estar com fome. Senti tristeza. Naquele horários os pais ainda não teriam chegado de seus trabalhos. Elen daria banho na pequena, alimentaria, poria para dormir. Depois se retiraria para seu quarto, nos fundos. Naquela idade já era empregada doméstica. Nem conseguiu se matricular no ensino médio porque precisava ajudar nas despesas da sua família. Era aluna brilhante até o ponto em que conseguiu estudar. Os que sabem menos obedecem melhor é a máxima no Estado opressor. A criança cuidada por ela haveria de ter outro futuro. Continuei andando, indo para a minha casa. Amanhã será um novo dia, logo será outro ano.


sábado, 22 de novembro de 2025

SABE O QUE É?

 

Arte em casa - Arquivo JRS 

Sabe o que é morar num território controlado por bandidos, mas saber que os maiores deles não vivem ali, mas sim em mansões, com aviões particulares, dinheiro a rodo e contas em paraísos fiscais?

Sabe o que é entender de política ser a arte de fazer o bem para a cidade e não só para alguns?

Sabe o que é estar em constante temor, querendo os melhores caminhos aos seus filhos, mas sendo intimidado em seu próprio portão?

Sabe o que é acompanhar toda a trama política reacionária que busca proteger esses grandes bandidos?

Sabe o que que é ver os pobres massacrados em nome de uma falsa justiça?

Sabe o que é enxergar que o domínio das tecnologias está mantendo a opressão dos que trabalham?

Sabe o que é não querer que os filhos dos pobres evoluam e se libertem da opressão?

Sabe o que é sentir algo medonho dessa imensa massa manobrada por alguns, mas dizendo ser a vontade de Deus?

Sabe o que é ver essa disparidade entre as classes sociais?

Sabe o que é se angustiar vendo os pobres sendo usados para aceitarem o sistema de morte?

Sabe o que é ver vagando pelas estradas uma força jovem na desilusão?

Sabe o que é viver sem um teto, sem carinho e sendo perseguido por não ter nada?

Sabe o que é viver da compaixão alheia ou aguentar as injúrias a cada dia?

Sabe o que é vislumbrar o final da aventura humana na Terra?


segunda-feira, 17 de novembro de 2025

LIÇÕES MÍTICAS

   

Milhos - Arquivo JRS 

   Há muito tempo, cedo pela manhã, dois índios Siox, armados de arco e flecha, caçavam nas planícies norte-americanas. No alto de um morro, olhando em volta à procura de caça viram alguma coisa a distância que se aproximava deles de uma forma estranha e maravilhosa. Quando a misteriosa coisa chegou mais perto, notaram que era uma mulher muito bela, vestida de couro branco de gamo, carregando uma trouxa nas costas. Um dos homens sentiu imediatamente desejo sexual pela mulher. Disse ao amigo. O outro, porém, repreendeu-o, advertindo-o que aquela mulher não era, com certeza, uma mulher comum. Ela chegou bem perto nesse momento, e pondo no chão a trouxa, convidou o primeiro homem a aproximar-se. Quando isso aconteceu, os dois foram envolvidos subitamente por uma nuvem, e quando a nuvem subiu, havia somente a mulher e, o homem, nada mais restava do que os ossos a seus pés, que eram devorados por horríveis serpentes. "Olhe bem para o que está vendo!", disse ela ao outro. "Agora, volte para seu povo e diga-lhe para preparar uma grande cabana cerimonial para minha chegada. Eu quero anunciar ao povo algo de grande importância".


Todo homem apegado aos sentidos e às coisas deste mundo vive na ignorância e está sendo consumido pelas serpentes, que representam suas próprias paixões - assim explicou Alce Negro - Sacerdote Oglala Sioux (EUA - 1948)


(Do livro: O Voo do pássaro encantado - Joseph Campbell)



domingo, 16 de novembro de 2025

ONDAS NO GRANDE MAR

 

Arte em casa - Arquivo JRS 

    Um tal de Alfred Jeremias disse o seguinte: "As várias culturas da humanidade nada mais são do que dialetos da mesma linguagem espiritual". Bonito, né? Eu concordo! Afinal, a humanidade inteira tem uma mesma estrutura mental, os grupos humanos se fizeram partindo de mitos e elaborando rituais que se mantinham em sintonia com esses mesmos mitos. A identidade da estrutura mental levou a isto. Não é assim? Cada povo, cada grupo étnico, cada cultura que está na resistência até hoje seguem firmes em suas bases imemoriais, nas heranças e tradições que possibilitaram as suas existências. Cada grupo social, cada comunidade garante aos seus membros essa sensação de pertencimento. Quando a criança deixa o útero da mãe, ganha um segundo útero no qual a família está inserida. A comunidade é o segundo útero, nela está a fundamentação mitológica pela busca do bem e da felicidade. Todos os povos cultivam suas histórias e desejam isto. Portanto, todas as culturas são dialetos da mesma linguagem espiritual! Na comunidade, o meu corpo e o meu espírito se forma. O seu também! A gente vai projetando mundo afora o espírito cultivado a partir do segundo útero, da comunidade. E queremos, na diversidade das culturas, crescer como seres humanos na sociedade, alcançar essa linguagem espiritual universal. Os ritos, criados neste propósito, são ferramentas nos desafios. O conflito aparece quando determinado rito sofre deturpação por anomalias espirituais e quer se sobrepor aos outros ritos, deseja a opressão em vez do bem e felicidade geral. Anomalia espiritual é a ignorância, a auto-ilusão, a prepotência, a sede de se aproveitar para viver bem às custas dos outros. Esses tornam-se cegos e farão outros cegos, terão seguidores, se constituirão em bolhas (narcisismo coletivo) que rompem com a unidade da linguagem espiritual; criarão modelos de sociedades contrárias aos princípios comunitários. A política, sendo um instrumento pedagógico, está sujeita a ser atacada por anomalias espirituais mediante ações planejadas por essas bolhas contrárias à linguagem espiritual universal. Então... a sociedade pode deixar de ser libertária e se tornar reacionária, justificadora de todas as formas de violências. Que perigo corremos quando nos afastamos das nossas bases primeiras! Que perigo corremos com uma cultura fascista se apoderando de ferramentas eficientes, conseguindo iludir a nossa gente simples! Ainda bem que os mitos têm a previsão de morte e de renascimento! 

 


sábado, 15 de novembro de 2025

PROSA NA ESQUINA

 

Cultivo em casa - Arquivo JRS 

    Eu estava me dirigindo à rodoviária, precisava ir até a Caraguatatuba resolver uma documentação pendente. Perto do terminal de ônibus avistei uma pessoa conhecida, Valdemar, o meu colega de infância que negociava, numa banca improvisada, umas frutas que já passavam da hora, estavam feias no meu critério. Parei para prosear om pouco, sem preocupação, porque daquele ponto eu controlava as linhas dos veículos que chegavam e partiam aos seus destinos. Valdemar é nativo do sertão do Ubatumirim, mas era bem criança quando a família se mudou para mais perto da cidade em busca de melhores condições de se viver. Naquele tempo ainda não tinha sido construída a BR-101, o trecho ligando Ubatuba a Paraty. Era quando o meu povo corajoso precisava de horas a pé ou de canoa para alcançar o centro da cidade. Tempos difíceis, né?

    Eu adoro encontrar esses velhos companheiros, parceiros de aventuras de outros tempos. Sai de tudo nas prosas dessas ocasiões. Valdemar, por exemplo, era um menino que nunca usava blusa, tinha sempre os braços e pernas desnudos, não se importava com o frio. Era comum vê-lo tomando banho em qualquer tempo no rio que passava perto de sua casa. "Era tempo em que aquela água era limpa, né Zé?". Era mesmo. Do mesmo rio, um pouco mais abaixo, a grande família Yamada fazia o mesmo no tradicional ofurô. Quando a gente estava por ali brincando, ajudávamos o Bernardo, o penúltimo dos irmãos, a buscar baldes de água no rio para assim restar mais tempo às nossas brincadeiras.

    Valdemar, com suas falas entremeadas de risadas e besteiras, é uma fonte de histórias populares, guarda muitos detalhes, me ajuda a recordar de fatos que já estão bem distantes. Melhor: tem uma engenhosidade mental inspiradora, dá tons engraçados em suas narrativas que se tornam engraçadas e formativas. Diante de gente assim, eu me pego refletindo sobre o alimento simbólico que é a linguagem para a cultura. No caso, o serviço que presta à cultura caiçara esses contadores e contadoras de causos, de histórias. Podemos dizer que cada contador e cada contadora, cada pessoa que mantém essa tradição oral brinca com a história, vai garantindo a sobrevivência da cultura local. Há, sem dúvida alguma, uma potencialidade permanente nas contações do meu povo! No fundo, esse espírito, esse gênio criativo que transparece nas nossas prosas é continuidade de uma herança milenar da arte de contar histórias. Portanto, é imemorial o talento do Valdemar, Maciel, tia Ana e de tanta gente do meu povo. Termino esta com um dizer da distante Zanzibar: "Se a história foi bonita, a beleza pertence a todos nós; se foi ruim, a culpa é inteiramente minha, que a contei"


terça-feira, 11 de novembro de 2025

PORMENORES (II)

 

Nossas raízes - Arquivo JRS 

     Sempre me pergunto porque eu escrevo das minhas lembranças, dos lugares, das pessoas, das coisas que marcaram minha memória, como se estivesse cheio de saudade. Hoje me peguei refletindo no mesmo tema e tenho uma resposta: é porque nesses lugares, essas coisas e esse tanto de pessoas fizeram crescer o meu corpo, formaram o meu espírito. As casas fechadas, as ruínas, os caminhos impedidos etc. não são fachadas! Na minha memória há gente dentro delas vivendo uma cultura do lugar, desenvolvendo seus afazeres, rezando, festejando e também sofrendo. Quando avisto um morro com muitas mansões, me recordo dos roçados que havia ali, da minha gente lavrando, colhendo, contando causos, transportando em balaios ou nos ombros aquilo necessário à sobrevivência. Quando olho o mato, diviso espécies que em outros tempos seriam coletados para confecção de cestarias, de esteiras; serviriam de remédios, dariam largas gamelas, imensas canoas etc. É, nossos olhos têm imensos horizontes! E nossas memórias também! 

      A nossa memória se alimenta dela mesma, se retroalimenta e nos fortalece. A minha esposa, ao me ver comendo abacate com farinha de mandioca, diz que é parte da minha memória afetiva. (O primo Marcos também diz isto ao ler determinados textos que eu escrevo). É mesmo! Tal como a ova de tainha assada, o peixe com banana verde, o almoço em família, o ovo cozido com café e farinha, a prosa no jundu, as caminhadas, o artesanato e tantos outros traços culturais que estão além das fachadas de cada um de nós da cultura caiçara. Assim cresceu o meu corpo e se sustenta o meu espírito!

     Um exemplo: conheci aquele rio, aquela Barra da Lagoa, quando só havia uma ponte, mas escutei que o povo antigo recorria ao balseiro para atravessá-lo. Bem ali, onde hoje os pontos comerciais deram um fim na mata ciliar, eu conheci o rancho de canoa do Irson e um balcão para atender os que precisavam de uma pinguinha acompanhada de prosa. Depois, em meados da década de 1980, o esgoto da cidade saía por ali. Agora tem duas pontes. Todas as vezes que passo por lá, me recordo de dois meninos pescando: um deles pensava em levar os peixes para casa, o outro me disse que iria vendê-los. Perguntei onde moravam: "Nós somos do Ipiranguinha, mas quase todo dia a gente vem pescar aqui". Já faz muito tempo isso, hoje eles certamente estão casados. Seus filhos não pescarão mais naquele lugar, mas os dois meninos pescadores - do bairro do Ipiranguinha! - juntamente com o saudoso  Irson - do bairro da Estufa -, estão na minha memória, são sempre lembrados nas vezes que passo por aquele canal. Já dizia o Mané Bento: "Se os males não aturam, os bens não duram sempre".


segunda-feira, 10 de novembro de 2025

PORMENORES

 

Arte em casa - Arquivo JRS 

    Ao viajante cabe prestar atenção aos pormenores, pois são eles que fazem compensar as andadas, senão...seria como passar no céu de avião e dizer que viu tudo.

    Os pormenores são riquezas naturais e/ou artificiais, criações culturais. De Ubatuba, das praias onde vivi, eu posso falar de alguns pormenores: na praia do Sapê nós tínhamos as gamboas, áreas encharcadas com uma diversidade impressionante de seres vivos onde, periodicamente, bandos de pássaros migratórios pousavam. Nos dias quentes, de sol abrasador, os peixes se compunham nas superfícies. Cágados abundavam. Que espetáculo! Na Queimada a gente se fartava de manacarus, araçás, goiabas e pitangas, além das lindas orquídeas. Pescaria na praia acontecia no Porto do Eixo. Coleta de cambiás se dava próximo da Ilha do Pontal, na maré baixa, depois de um mar ressacado. Os melhores mergulhos aconteciam em torno das ilhas (Tamerão e Pontal), com pescaria garantida e, conforme a época, preguais tentadores. Quem conhece hoje esta iguaria da cozinha caiçara? No caminho para o Pulso existe o cemitério da Maranduba, onde os defuntos familiares apreciam a paisagem. Na Fortaleza, praia onde nasceu minha mãe, a Ponta e o Canto do recife são os pormenores mais evidentes. Desafio é saber onde está o Buraco da cobra, o "Salão" da Cachoeira, a represa do tio Dário, a Pedra da Igreja, o Morro da Anta e o Morro do Tatu. A casa da tia Martinha é um capitulo à parte (porque era a nossa escola) antes da municipalidade construir a que permanece até a atualidade, no local do bananal do sul, por onde partia o caminho do morro em direção à praia Grande do Bonete. No Perequê-mirim, infelizmente perdemos o sertão do Dito Coimbra, mas deve continuar existindo o Caminho das Três Praias, né? Era a nossa mata de tucum e ingá. Na costeira, além do Saquinho Manso, tem a Pedra Redonda e a Pedra do Zé Brás. A Santa Rita é um caso à parte, mesmo não existindo mais aquele jundu maravilhoso. A primeira atração é a Pedra do Sino. Atravessando por ela, ou melhor, voltando um pouco chega-se à costeira da Bela Vista, onde encalharam muitos corpos dos passageiros do Príncipe das Astúrias, o navio naufragado nas costas da Ilhabela há muito tempo. Infelizmente a casa mal-assombrada de outros tempos não deve ter resistido ao tempo. Na Enseada, na prainha do Canto do Góis, ainda resistem restos de um engenho de pinga, mas precisa atenção de quem anda interessado em ver além das pedras arrumadas em partes. Lindeza de cambucazeiros e jaqueiras atestam a ocupação dos primeiros empreendedores. Em seguida, siga em frente para conhecer os pescadores, o Povo do Paru, a linda trilha da Praia de Fora. Pelo caminho não deixe de vislumbrar muitas frutíferas, lagartos e outros bichos! Com esforço é possível contemplar a beleza de quatro praias (Tapiá, Pixirica, Xandra e Maria Godói). Eu rebatizaria a trilha por Caminho do Paru. Só que, infelizmente, a continuidade do acesso à praia das Toninhas está barrada. Um condomínio de ricaços pode fazer isto: fechar um Caminho de Servidão, herança da cultura caiçara. Quem irá reabrir?

   Impressionante como viemos perdendo gosto pelo esplêndido material que a natureza nos deu ou de tudo aquilo que herdamos dos mais antigos!


sábado, 8 de novembro de 2025

CORTE CULTURAL

 

Rosa no terreiro - Arquivo JRS 

      O homem olha a praia e o entorno depois de deixar as ruas da cidade. Calçadas estragadas, sem lixeiras, cimento e asfalto cobrindo tudo, obras na beirada do rio e sobre as pedras das costeiras, muro de concreto querendo segurar a força das marés, terra nua, mato sem jardim, jundu desaparecido, cheiros ruins aflorando de quase tudo...O que é isto tudo e mais coisas que escapam aos sentidos agora? É um corte cultural! Melhor dizer que é resultado de uma confusa arquitetura que veio, recorrendo ao Saramago, "em marés desajustadas sobre a cidade". Onde está a ligação cultural da cidade com o seu povo? Uma ou outra rua tem resquícios de sua história. Uma ou outra praia preserva traços primordiais. Uma ou outra associação defendem a cultura original, onde estão as sementes comunitárias sendo zeladas, mas...

     Muita coisa já desapareceu devido ao corte cultural notado muito bem com o advento do turismo e da especulação imobiliária. O grande desafio é traçar outra arquitetura, remendar os traços culturais, aproveitar as contribuições valorosas que chegaram depois, esclarecer o que está confuso. A natureza precisa ser respeitada, os rios não podem desaparecer... A linha de jambuis ainda é a melhor barreira contra as marés... Cada habitação deveria ser obrigada a ter ao menos uma árvore em sua calçada... Nada deveria apagar a mística, o sabor da nossa terra!

    Um menino pesca na linha do perau, puxa um peixe que faz força. É um cação pequeno, ficou contente, mas diz que por hoje basta porque está com muita fome. O homem olha a praia, contempla o pescador adulto que, no jogo das ondas segue em pé, vai mar afora em sua canoa. Entra na sua cabeça: "Enquanto cada um estiver puxando a brasa para a sua sardinha, a gente só se ferra". Se volta, olha os transeuntes e os veículos que rodam e têm a preferência nos espaços. Apesar da barulheira, a realidade é inquietante. A questão do momento: 

     O que vou semeando para ter uma colheita melhor?


quinta-feira, 6 de novembro de 2025

QUE LINDO!

 

Ninho na janela - Arquivo JRS 

Gibão-de-couro - Wikipedia 

    O vizinho me chamou para ver um ninho fora do normal, tendo "pedras como alicerce", no dizer dele. E não é que era verdade mesmo? Fui pesquisar. Trata-se de um pássaro marrom, pouco maior  que o tamanho de uma andorinha.  Ali, na janela do banheiro da casa, no alto do morro, um casal de gibão-de-couro (Hirundinea ferruginea), também conhecido por outros nomes: caça-moscas-da-rocha, birro, bem-te-vi-de-gamela, está com o ninho pronto. É o terceiro ano que eles aparecem, têm suas crias (2 ou 3) e depois desaparecem, voltam ao seu lugar de origem. A espécie está espalhada por mais da metade do Brasil, desde Nordeste até o Sul e Centro- Oeste. Lembra um pouco o joão-de-barro. Mas só um pouco!

   O interessante é que eles, de fato, usam pedras para sustentar a parte mais confortável, tal como um alicerce. É um alicerce mesmo! Creio que contribui para segurar os materiais mais leves, as palhas. Ajuda também no travamento, não deixa o vento carregar. Olhei aquele lindo ninho e fiquei imaginando os dois pássaros preparando o lar temporário deles. Será que carregam aquelas pedras nos bicos ou pelos pés? Prometo no próximo ano observar melhor.

quarta-feira, 5 de novembro de 2025

ODILON

 

Praia da Santa Rita - Arquivo Clóvis 

    O nome era Odilon, mas ganhou o apelido de "Satanás" correndo trecho, passando de obra em obra. Era feio, não gostava de tomar banho e era viciado em cachaça. Diziam até que era viciado em outras drogas. Natural da Paraíba, pedreiro, tinha um coração de ouro, era amigo de todos e sempre puxava um bom papo. Difícil mesmo era só ter de aguentar aquele aroma desagradável que lhe era característico. Sempre, para mim, a sua fala carinhosa era: "Você é gente boa, Zezinho". Fazia parte da peãozada que construiu o condomínio Casa Grande, na praia do Perequê-mirim (Ubatuba), onde era sítio da querida Dona Belinha. Quase toda a turma era nordestina, mas tinha muitos mineiros também. Era final da década de 1970.


   "Zé do Quepe", o vigia do canteiro de obras, natural do Rio Grande do Norte, era muito espirituoso. Numa ocasião, depois de vários meses, quando os prédios já se encontravam em fase de acabamento, chegou espalhafatoso anunciando o primeiro milagre realizado pelo "Irmão Venâncio", na igreja que ficava na rua que vai para o Sertão, perto do Dito "Pejeca": "Satanás se libertou, peãozada! Agora está tomando banho e não usa mais cocaína!". Pensei na hora: "Isso não é verdade". Mais tarde pude constatar que era mesmo. Foi uma alegria para todos, pois o cidadão estava muito melhor!


    Na semana seguinte, novamente o nosso vigia chegou desafiando: "Satanás agora está numa boa, né? Qual é a moral que podemos tirar disso tudo, peãozada?". Vários foram falando: "Nunca é tarde para se converter", "Pião bom é pião cheiroso", "O Velho Odilon nunca mais será o mesmo", "Quem gosta da gente é a gente mesmo" etc. Mas a melhor mesmo foi a frase do próprio José Bezerra Sobrinho, o nosso "Zé do Quepe", a verdadeira pérola: "Neste momento, para nós, Satanás não fede e nem cheira".

   

    Agora, a novidade: sonhei na noite passada com o Odilon. Ele me perguntava se era verdade que o Francisco, do Ceará, tinha sido eleito vereador. Quis saber se eu tinha notícias do Osvaldo, o capoeirista, e de mais gente.  Nooossa! Até tinha me esquecido dessa companheirada de outros tempos! Nomes e nomes acompanhados de lembranças me vieram à mente. Já sabemos que o nome é a última coisa a morrer?



terça-feira, 4 de novembro de 2025

RETRATO DE UM POVO

 

Desigualdade - Arquivo internet 

   Estamos bem longe de uma sociedade igualitária. Me refiro ao Brasil que conhecemos, onde se encaixa a minha cultura caiçara, mas é assim também mundo afora, com raríssimas realidades menos desiguais, sem muito contraste entre quem ganha mais e quem ganha menos. No entanto, esses poucos países "igualitários" se beneficiam de explorar outras nações. As leis ambientais deles são descumpridas em outros países por eles mesmos, por suas empresas. Seus produtos repudiados, condenados porque são venenosos, seguem sendo produzidos e vendidos em outras terras. Seus parlamentos fazem vista grossa aos crimes que suas empresas patrocinam em outras terras, não tomam posicionamento contrário aos absurdos que determinadas nações promovem mundo afora, continuam apoiando guerras etc. "Que país legal de se viver!". "Ah é! Saiba você que a empresa que causou aquele acidente ambiental e foi perdoada é de lá". "Gostaria de ir morar num lugar assim!". "Ah é! Lá é um paraíso fiscal inalcançável, onde corruptos brasileiros têm suas granas depositadas conseguidas à base de injustiças praticadas". Pouca gente para e pensa nesses aspectos, entender que para existir riqueza tem de haver pobreza. Povos inteiros foram empobrecidos para resultar em países ricos longe dali. Também no nosso país é assim: a pobreza de muitos está na base da riqueza de poucos. Para isso se recorre a tudo: trabalho escravo, fim dos direitos trabalhistas, salários vergonhosos, instabilidade profissional, péssimas condições de moradias e de lazer, propagandas enganadoras etc.

  Quando viajo e vejo pelas estradas pessoas caminhando em direção a qualquer santuário, pagando promessas, me recordo de um frase de José Saramago, escritor português: "São o retrato cruel, mas exato de um povo que durante séculos sempre pagou promessas próprias e benesses alheias". Quem pode mudar as leis que protegem esses criminosos que sustentam essas desigualdades? Agora, por exemplo, esses bandidos organizados não querem uma lei que combata os sonegadores e facções criminosas, não desejam que os ricos paguem mais impostos que os pobres, são contras rever seus disparates salariais, faltam no serviço, mas nem se importam com isso etc. Pior: inculcaram na classe mais pobre que política é coisa ruim. A pergunta é: Ruim para quem? Quanto menos pessoas se interessarem pela política verdadeira (arte de cuidar da cidade, da coletividade), melhor para os que vivem dos pagadores de promessas que sustentam as benesses alheias. Faz me lembrar também do Analfabeto Político, de B. Brecht: "Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio dos exploradores do povo". Não continua atual esse poeta alemão do século passado? Não continua?


segunda-feira, 3 de novembro de 2025

ZABÉ E LINDO

 

Serão chegando no morro - Arquivo JRS 

     "Passa por casa, minino, veja a Zabé e dê recado: O tempo tá se armando, do Mar Virado nada se vê; é chuva e vento de arregaçá. Junte só as criança e suba, se acomode na vossa irmã. Eu cá ficarei cuidando das coisa. Só desça quando o pió passa. Vá logo, corra minino!". Eu subi na disparada, sem sentir nem estrepe no pé. Tia Izabel olhava aflita na porta da cozinha, pressentia o recado. Logo puxou as três crianças. Também não me deixou para trás. "Deixa o seu tio lá, ele é homem, se vira melhó que nós. Tudo vai acabá bem, você vai vê". Eu, medroso que era, me senti protegido e até ajudei a carregar alguma coisa que nem me lembro mais. A chuva forte com vento nos pegou antes de entrar na casa da tia Chica. Como todas dali, a casa dela era de pau-a-pique com cobertura de sapê. Ai que medo dela não aguentar o esbarro, a ventania com água que torcia uns pés de cana no cisqueiro. Mais alguém chegou buscando proteção. Eu e as outras crianças nos encolhemos num cantinho sem dar nenhum pio. As mulheres rezavam ajoelhadas no oratório. Não sei dizer o tempo que durou o temporal, mas parecia sem fim. Quando chegou o serão, tudo se abrandou. Tio Lindo assobiou duas ou três vezes lá da praia avisando que nos esperava. Lá fomos nós, de vez em sempre alguém escorregava no caminho de barro molhado. Todos seguiam descalços, sem chinelos. Que bom! O mar estava liso de novo, a praia estava varrida, o verde de tudo parecia mais alegre, mostrando as diferenças de tons. "A chuva lava tudo, minino!". Entramos. O fogão continuou aceso, titio atiçou com novas lascas de lenha para ferver água para o café. Titia pegou uns pedaços de peixes na gamela. "Que bom que vamos ter peixe frito com café e farinha!". Aquele foi o nosso jantar acompanhado de banana assada e mais farinha. Éramos pobres, mas havia comida todo dia: vinha da roça e se trazia do mar. De quando em quando alguém da vizinhança chegava repartindo alguma caça ou coisa diferente do cotidiano. Naquele serão distante, uma menina chegou segurando uma vasilha de alumínio: "Mamãe mandou umas bolachas que ela assou quase agora, antes da chuva". Tio Lindo e tia Izabel moraram juntos até a morte chegar, na praia do Cedro. O armazém mais perto estava na praia da Fortaleza. Era o Cáindo e o Jorge que os acudiam depois de caminhar uma hora no mato grosso e na praia quase toda. Ah! Apesar da distância, a criançada estudava, não tinha preguiça do ir e vir pelos caminhos orvalhados a cada manhã! Escola perto? Não tinha! A da praia Grande do Bonete era a mais próxima. Tinha turistas? Sim, mas apenas onde havia estrada boa e chegava carro. Foi nesse tempo que alguns caiçaras, para melhorar a vida, venderam algumas posses junto ao mar. O resultado disso: ir deixando a beirada das praias e começar a subir morros, deixando de ter o tempo (sol, chuva...) como patrão para ser assalariado dos ricaços.  Assim as praias foram se tornando propriedades particulares, sendo restringidas e podendo até serem privatizadas em vez de públicas. Resumindo: todos esses retalhos na memória faz me lembrar da saudosa tia Izabel a dizer certa vez: "Escute Lindo: tudo isso um dia não será mais nosso, mas nós não estaremos mais aqui! Tais me escutando?".


sábado, 1 de novembro de 2025

É SINA

 

Arte em casa - Arquivo JRS 

    A gente sofre, chora, fica inconformado por um tempo quando parte do nosso meio uma pessoa querida. A cada finados os cemitérios recebem visitas na intenção de reverenciar os mortos, aqueles que nos deixaram. Os pesquisadores já afirmam que o culto aos mortos é muito antigo, fazia parte dos primeiros grupos de seres humanos. Deduzem isto pelos achados arqueológicos, pelas formas como os esqueletos foram arrumados e por restos de oferendas no local. Podemos inferir de tudo isso que, desde aquele tempo primordial, os humanos acreditam numa outra forma de vida que está além da breve existência do corpo vivente? Mais tarde surgiram divindades, inferno, purgatório, céu...e o conceito de alma imortal. É isto: não queremos aceitar que a vida seja só isto (nascer, viver e morrer). 

    Os conceitos de céu e inferno visam servir como parâmetros morais: se fizer o bem merecerá o céu, se fizer o mal arderá nas chamas do inferno. Sacerdotes e sacerdotisas vivem às custas das teologias, das exigências das divindades para com seus fiéis, mas tudo se sustenta na crença da existência da alma. Se ela é imortal, precisa ir para algum lugar depois da morte corporal. Sacerdotes e sacerdotisas pretendem saber o caminho melhor para a alma, ditam os preceitos morais. Aos demais humanos resta a escolha do caminho, fazer em vida as ações merecedoras da vida no além. "Porque a justiça divina vem".

    Edifícios teológicos estão no topo da pirâmide social. Quem almeja o poder político sabe disso. Não é à toa que agora até está se criando uma "bancada cristã" na sede do poder em Brasília. Localmente, até um conselho de pastores recebe terreno público para se fortalecer. (Leia-se fortalecer o poder político). Edifícios teológicos são superados pelos edifícios de riquezas dos ídolos dessa bancada que se justifica em "honra e glória a Deus". Igrejas são isentas de inúmeras taxas porque precisam ostentar poder e riqueza? Porém, já sabemos da moralidade predominante no povo que grita "Deus, Pátria e Família". Aqui apresento uma frase em torno de uma tragédia recente: "Se você é uma pessoa cristã e está comemorando o que aconteceu no Rio de Janeiro, já pode rasgar sua Bíblia e sair da igreja". Vale para qualquer pessoa, independente de ser dessa ou daquela denominação. Vale para todo ser humano que tenha a ética como parâmetro: as injustiças não podem justificar matanças. Segundo consta, disse Jesus: "Eu vim para que todos tenham vida". "Ah, mas a bancada cristã vibrou no plenário!". 

  Enfim, não se trata de ter alma ou não ter alma. A nossa responsabilidade é por vida digna, plena, para todos nesta Terra, nesta vida! Acima de toda moral está a ética! Lembremos os nossos mortos, bem como todos os que passaram por esta Terra cultivando os maiores e melhores valores que eles escolheram. Só assim a gente se fortalece. É sina dos sóis se apagarem, mas a memória de cada pessoa que nos deixou com bons exemplos irá permanecer em nossas memórias como o Sol maior.