segunda-feira, 4 de abril de 2022

A ÁGUIA DO MAR

     

Pescaria no Itaguá - Arquivo Postal


    Isaac, pescador de costeira, aceitara o convite para uma pescaria em alto mar. "Quando?" - eu quis saber. "Já faz um ano isso. Só que foi uma vez para nunca mais. A primeira e única!".  Logo eu deduzi que a experiência não tinha sido boa. "O que será que aconteceu?" - Pensei, mas nem precisei inquirir o amigo. Puxando um banquinho dali de perto me sentei, pois bem conheço o cidadão, no seu estilo que se assemelha ao Zé Roseno (aquele que, mesmo se dizendo com pressa, ainda proseava no mínimo uma hora antes de se despedir). Eis o relato que me deixou impressionado:


       "Nós fomos longe, Zé: uma hora mar afora depois da Ilhabela. Naquela ocasião é que eu soube ser ali rota de navio, desses monstruosos que aportam no porto de São Sebastião. Chegamos no local ao entardecer. Assim que a embarcação foi fundeada e começamos a pescar, o piloto 'desmaiou' porque vinha de uma semana corrida, fazendo viagens demais. A noite foi chegando; o escuro vinha com uma mensagem que se ouvia no rádio de bordo: 'Águia do mar saiam da rota do navio...Águia do mar saiam da rota do navio...Águia do mar saiam da rota do navio...' E a mensagem se repetia a pequenos intervalos. Quando eu fui repor isca no anzol, li no bote o nome do barco: Águia do Mar. Então me assustei. Aquela mensagem era para nós, Subi na casaria para enxergar mais longe, além das grandes marolas (comum em alto mar). Nossa! Lá se aproximava aquele mundão espalhando água para os lados. Gritei, corri para acordar o timoneiro. Quem disse que o homem acordava? Alguém, também desesperado, teve a ideia de encher um balde com água do mar e jogar nele. Só assim mesmo! Ao se inteirar do perigo, deu a partida enquanto eu suspendia a âncora ao menos alguns metros. E o motor poc, poc, poc, poc... foi nos tirando do caminho, mas os perigos nos perseguiam, as marolas gigantes nos alcançaram. Quando o navio passou, aí que veio a verdadeira onda, lavando totalmente o convés daquele barquinho, carregando tudo que havia por ali e lançando ao mar. Foi tudo fora. O meu patrão gritou ao piloto: 'Você tem dez minutos para chegar na praia das Cigarras senão nós o matamos aqui mesmo'. Ao chegar na praia, a proprietária do barco já estava lá. Certamente recebera notificação pela polícia marítima. Nós deixamos imediatamente o local, pois ela disse que primeiro precisava conversar com ele - o piloto - para depois ouvir a nossa versão. Eu não fiquei; fui imediatamente embora, ainda tremendo. O piloto deve ter sido demitido na hora. Não sei dizer se alguém da turma foi indenizado pelo prejuízo. Só sei que eu não recebi nada, saí perdendo".


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