quarta-feira, 25 de março de 2020

SOMOS UMA FORÇA INVENCÍVEL!

Grafite no túnel (Arquivo JRS)
Somos uma força! (Arquivo JRS)


           De acordo com a minha infância, no primeiro modelo de vida comunitária experimentado em família, na praia onde nasci e nas outras onde fui me criando, era natural uma referência de vida coletiva que estava em oposição, em muitos aspectos, ao modelo que hoje predomina entre nós, na sociedade atual, onde a ganância, o lucro a qualquer custo tem o maior valor, “merecem” ser idolatrados, são marcas da ideologia dominante.

                Hoje, o mercado e suas leis se tornaram absolutos em comparação à dignidade da vida, a solidariedade, o respeito à natureza. Os demais viventes da Terra são apenas figurantes nesse cenário, nem merecem a mínima consideração. Se a vida das pessoas pouco importa, a dos animais menos ainda! Por isso que, vez por outra, ao participar de ações que confrontam o sistema capitalista, neoliberal, assisto descasos por parte de muita gente, até de "caiçaras engajados", que escrevem "textos comprometidos com a cultura popular". Lógico que são uns coitados, que nem sequer têm consciência do tempo, da vida que “entregam” em benefício de poucos! Minha estimada amiga Egléia afirma que “estão idiotizados”. E é isto mesmo! “São uns cabeças-gordas, incapazes de um exercício mental para perceberem a alienação em que vivem!”. Pois é! Ah se fizessem um mínimo de ginástica mental!”.

                Meus parentes, que vou chamar aqui de “João e Maria” cresceram também no clima comunitário nosso, de caiçaras pobres dependendo do mar e da roça; se desenvolveram graças ao peixe com banana e farinha. Só um detalhe: bem jovens se tornaram “crentes”, seguiram outra religiosidade diferente da católica, aprendendo a doutrina onde a realização econômica (acumular dinheiro e bens, ser rico) é identificada como “graça de Deus”. E seus filhos foram educados assim: “netos de caiçaras, mas agora apenas ubatubenses”. Agora, prestando mais atenção ainda: estando eu e vários outras pessoas vestidos à caráter, com cartazes, faixas etc. numa manifestação contra o sistema social que desmerece a vida da maioria, causando e mantendo a vivência miserável, ao passar por uma rua avistei alguns rostos indiferentes à nossa movimentação, como se não houvesse justificativa para isso, sendo natural essa coletividade que aí está matando, esse modelo tão injusto. Dentre esses alienados, avistei uns filhos de “João e Maria”. Um deles, o caçula, bem vestido e bem nutrido, me perguntou: “Que baianice é essa?”. (Notaram o preconceito contra nordestinos?). Eu, sem nenhuma paciência em perder tempo com o “menino”, respondi: “Eu sou caiçara, com muito orgulho! Para receber uma resposta a essa pergunta, você tem de procurar um baiano!”. (Será que alguém vai perder tempo para uma pergunta idiota dessa?). E me fui achegando aos outros que faziam parte do meu grupo, que se manifestavam a favor da vida para todos.

                Agora, em tempo de pandemia, os “meninos de João e Maria” devem ter notado que as leis do mercado, “os ditames capitalistas”, não os acudirão, pois só importa o lucro a qualquer custo. A solidariedade, as medidas verdadeiramente coletivas que se danem! “O Estado que cuide disso!”. Uns ricaços já se expressam assim: “Pra que se preocupar, deixar de trabalhar e de ir à escola? Vai morrer alguns milhares de pessoas, mas a economia será salva. E além do mais, só os velhos morrerão”. E tem pobre defendendo tal absurdo, inclusive católicos, parentes meus!

Ah, povo-gado! Diz a história que, por volta do ano 45, o imperador Cláudio, constatando uma alternativa de modelo de sociedade perigoso que se apresentava, “expulsou de Roma os judeus que em nome de Chresto provocavam continuamente tumultos”. Nos dias de hoje, seriam “baianices” segundo a fala do “menino-gado”, cujos avós eram simplesmente caiçaras cristãos se assim parecer melhor. 



      

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