sábado, 28 de março de 2020

QUERER VIVER



 
Da raiz morta sob a terra,,, um cupinzeiro! (Arquivo JRS)
                Na natureza, nós nunca nos cansaremos de ver exemplos de busca de vida, de querer viver: é uma árvore que solta um mergulhão ou um broto encantador ao perceber que a sua existência está ameaçada por alguma coisa, por uma praga... ou uma orquídea que, ao passar por condições duras, ameaçadoras, se embeleza ao máximo na próxima florada... é um carrapicho que se gruda nos bichos para ser levado a vicejar em outros territórios etc. Outro exemplo: quem nunca viu, pelas costeiras, aquelas plantas que se desenvolvem nas brechas, nas rachaduras das pedras? E quando menos se espera, lá está um arbusto, uma árvore. Nunca me cansei de admirar, no ilhote do Mar Virado, um coqueiro altíssimo, sempre produzindo naquelas condições que parecem impossíveis! Agora, até mesmo distante dele, imagino o mar trazendo um coco seco, jogando furiosamente entre as pedras mais altas, onde conchas já se transformaram em farelo...De repente sai o broto, se apoia no material que está ali, se sustenta e cresce aquele tanto capaz de extasiar nossa visão. Isso é querer viver! Volto a dizer que as turbulências querem nos sacudir, nos impulsionar. A começar pela velha biblioteca da minha cidade, as leituras me fizeram entender que nas rachaduras das turbulências podemos semear boas sementes, contribuindo assim para gerar um mundo melhor.

               Você consegue com facilidade imaginar mil reais. Também não é difícil imaginar um milhão de reais. As coisas vão se complicando quando é preciso imaginar um bilhão, um trilhão e por aí afora. São quantias que parecem nem caber no mundo. Ao ouvir que os Estados Unidos vão desembolsar trilhões para as pessoas e as empresas deles a fim de conter a propagação do coronavírus, fico pensando: de onde eles tiraram esse dinheiro?

       Não precisa ser muito esperto para saber que as riquezas se formam a partir da exploração dos outros (pessoas e países). Alguns são trilionários neste mundo. Já bilionários são algumas centenas. Mas muito mesmo são os pobres, os empobrecidos que se esgotam para dar lucro a alguém! Imagine o longo tempo em que uma minoria parasita, vive às custas de quem trabalha! Você poderia viver melhor, ter outras opções de lazer com a família, proporcionar ótimos estudos aos filhos, se realizar em atividades dignas etc. E por que não enxergamos isso? Respondo: porque existe uma ideologia dominante! Vou explicar a partir de um exemplo desses dias: fulano de tal, que conheci desde menino e agora já é policial gordo, me avistou de máscara diante da farmácia e foi dizendo: “Daqui a dez dias isso passa. O governador agora quer fazer teste até em mortos”. Logo percebi a sua intenção: defender o presidente que diz que isso (a pandemia de coronavírus) não é nada, que todos devem voltar a trabalhar, repetindo a obtusidade de poucos líderes mundiais. E ainda falou do aperto em que está passando o seu velho pai, vendedor autônomo. Eu sei, conheço-o desde quando a filharada era pequena. (Eu teria vergonha de posar com carro do ano, estar visivelmente bem e ainda deixar o velho nessa correria). Quem faz a cabeça desse indivíduo? Por que não continua lendo, não estuda, não reflete mais para entender que a riqueza acumulada nas costas dos pobres daria para deixá-los muitos meses resguardados desse mal que se alastra demais? (Acabei de ouvir: num só dia, novecentos e setenta morreram na cidade da Lombardia, na Itália. O ministro da saúde do Brasil não compareceu ao encontro mundial de seus pares para refletir e tomar mais medidas contra a doença).

          São trilhões e bilhões que servem a uma minoria. “O mundo tem de perder gente para que esses privilégios atuais continuem possíveis”. Você pensa que essa “segurança” do presidente é verdadeira? E o que dizer daqueles que fazem carreatas em vez de fazer passeatas? Todos eles protegidos, acomodados em máquinas que riem do seu moderníssimo carro popular, se escondem dentro de veículos fechados, com ar condicionado etc. e saem apitando, convocando os pobres para movimentar o comércio, garantir o lucro deles. Você deve se posicionar entre a riqueza, o pensamento de poucos e o seu velho pai que jamais alcançará um milhão de reais, trabalhando até se acabar ali mesmo, sentado numa banquetinha. Você acreditou que essa ajuda de custo anunciada na televisão é bondade do presidente? Saiba que é resultado das lutas de quem quer viver, de quem está semeando boas sementes nas rachaduras da turbulência! Cabe a você decidir entre a opressão e a vida.

8 comentários:

  1. Muito bom Zé! Esclarecedor para quem não entendeu quem são os parasitas do filme do coreano Bong Joon Ho.

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  2. Excelente filme por sinal do coreano Bong Joon Ho!. Parabéns por mais uma postagem maravilhosa!. Me mudei de Ubatuba em 1989 aos 4 anos (Sou Neto de Dona Maria Grazia e do Senhor Vicente Cianci), morei na Rua Hans Staden (Atualmente onde está localizada a Escola Gaia). Sempre dou um pulo aí nas férias de Janeiro ou Julho (Temos casa de varaneio no Perequê-açu....Atualmente sou Biólogo (Já passei pelo Aquário de Ubatuba e Projeto Tamar na época de Estagiário e também trabalhei no Zoológico de São Paulo) mas atualmente sou Professor de Biologia da Rede Estadual no Município de Suzano (Onde moro atualmente) e Ciências na Rede Municipal de SP, na Zona Leste da Capital (Itaim Paulista). Acompanho seu Blog há 3 anos !. Parabéns!

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  3. Obrigado por tudo, principalmente pela informação sobre seus avós. Era ali perto que tinha um terreno cheio de árvores, cuidado pelo Seo Otávio, um cidadão negro?

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    1. Acredito que sim...tinha muitos terrenos vizinhos ao nosso que ao longo da década de 90 deram lugar a muitos prédios residenciais, o terreno da nossa casa é (ou era enorme, depois que tivemos que vender a propriedade em 1997 nunca mais tive oportunidade de entrar lá...) Mas lembro que no nosso quintal (Que meu avô nomeou de Chácara dos bagrinhos)tinha mais de 30 espécies de árvores, a maioria frutífera, como Jaboticaba, Abacate, Ameixa, lima, Bananeiras, Pitangueira, limão e muitas outras...lembro de uma família grega que morava na casa próxima, do outro lado da rua e tinham um comércio quase na esquina) pertinho da praça 13 de Maio.

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    2. Isso mesmo! Eram os Mihalopoulos! A loja deles era a CASA MACEDÔNIA!

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  4. Sim....Meu irmão e eu éramos amigos de um dos netos deles...lá entre 1988-1993.

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