domingo, 7 de outubro de 2018

COITADO UMA OVA!

Bichos-frieira atravessando uma pista asfaltada (Arquivo JRS)




               Bem cedo abro o portão para ver o movimento da minha rua. Hoje é dia de eleição; como sempre a via pública está cheia de “santinhos” de candidatos, endereçados a escorrerem para o rio assim que começar a chover, mas a maioria virará uma pasta no chão conforme vai se dando o passa-passa no piso molhado. Ah! Sempre vai ter os que serão recolhidos e levados como “cola” para orientarem votos. Que democracia!

               Nem bem acabo de pensar, vejo um sujeito que regula a minha idade. É funcionário municipal, caiçara, que varre ruas na cidade. Pobre de lascar!  Ele se dirige ao ponto de ônibus. Seu local de votação é no centro, na zona onde trabalha. De repente para, se agacha e pega um dos papéis e diz: “É neste mesmo que eu vou voltar. É do lado do Bolsonaro, é pra foder tudo mesmo!”. Coitado! Que miséria cultural acreditar que só o poder das armas pode melhorar a sociedade brasileira! “Vai, mardito!”.

               Coitado uma ova! No fim da tarde, ele vai passar novamente, de braços dados com a esposa, para ir à igreja: é cristão. Que “cristão”! Uma pessoa que pega um papel no chão e torce pelo pior: quer  prova maior que determinadas igrejas estão alienando cada vez mais? Ao menos ele expressou que o  candidato escolhido por ele é capaz de ferrar de vez com o país. Exerceu o livre- arbítrio. Escolha digna de cristão? Coincidentemente, quantas versões de orientações cristãs dão atenção ao texto que atribui ao Cristo ser o primeiro comunista da História, querendo que os ricos repartissem com os pobres para merecerem o Reino do Céu? Será que é tudo mentira aquelas orientações para que os mais marginalizados fossem os mais respeitados, porque dos menores é a maior recompensa divina? E os pecadores perdoados? Como detesto esses “cristãos” que atiram a primeira pedra contra negros, índios, homossexuais etc.! Pobres sujeitos que só podem ser comparados à frieira, capazes de se comprazerem com perspectivas desesperadoras! É, são bichos-frieira que nem sonham com cidadania! Na melhor das hipóteses, conforme disse um dia um jornalista: "São cidadãos de papel".

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