sexta-feira, 29 de junho de 2018

A CRUZ... A LENDA

A Cruz de Ferro (Arquivo JRS)


               Meu tio Salvador sempre gostou de cantar umas músicas singulares, dessas que raramente escutamos por aí. Ele tem prazer em continuar repassando aquelas músicas que contém letras interessantes, que falam de fatos históricos e de causos da nossa gente. Foi por uma cantoria dele que eu me interessei pela Cruz de Ferro, na subida da serra, em Ubatuba. Hoje dizem que é lenda. 
               
        O caminho, por onde passava gente e tropas, hoje virou a rodovia denominada  Oswaldo Cruz. Por ela passam carros dia e noite. Oito quilômetros dela é serra íngreme. Pela metade desta distância está a Cruz de Ferro, venerada desde o tempo dos tropeiros. Em sua base está uma história de vingança. Foi o lugar em que o cruel Basílio assassinara Juca, o tropeiro.

               Tudo começou longe dali, no município de Cunha, quando Basílio, também tropeiro, iludiu e levou embora a esposa de Juca, a Maria, deixando em casa apenas o pequeno Gregório, o Gorinho ainda bebê. O honesto  tropeiro caiu na tristeza, mas não se omitiu na tarefa de pai. Para a criança, a sua mãe tinha morrido. Cresceu acreditando nisso. Porém, Basílio de vez em quando aparecia para lhe fazer desfeita, causando muita vergonha a Juca. Na verdade, a intenção dele era matar o homem, o primeiro amor da sua companheira. Foi por isso que, mesmo não largando a vida de tropeiro, Juca se mudou com o menino para Ubatuba, perto do mar. Ele continuava sempre triste, mas o menino logo se adaptou à cidade e ao mar. De caipira virou caiçara. Só não era pescador. Era tropeiro como o pai.
               Numa das viagens, subindo com uma tropa de tecidos para São Luiz do Paraitinga, bem no meio do caminho, na serra encharcada pela chuva da véspera, um homem descarregou em Juca a sua garrucha, ferindo o mortalmente e fugindo. Era Basílio. O coitado do Juca, percebendo a morte certa, contou ao rapaz, o seu filho tão amado, a sua história, a história deles, pedindo que um dia o vingasse. E ali expirou. Uma cruz de cabreúva marcou por muito tempo o local. Diz a história que após quinze anos, Gorinho esperou na mesma subida e acertou as contas com o assassino de seu pai. Uma punhalada bem dada deu fim ao bandido, ao destruidor de uma família honesta. O corpo ficou largado para que os animais dessem um fim. O rapaz apenas tirou a camisa ensanguentada e levou até a cruz, agora de ferro, que substituíra a de cabreúva. “ Meu pai, o senhor está vingado”. E colocou na cruz a camisa do maldito. E, enquanto viveu, uma vez por semana Gorinho subia a serra para acender velas e rezar ao pé da cruz. O milagre, diz a história, é que do nada surgiu uma roseira vermelha que sempre viveu abraçada à cruz após a morte de Gorinho. Eis a Lenda da Cruz de Ferro. E até hoje pessoas devotas param ali para suas orações.

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