quarta-feira, 16 de agosto de 2017

ELAS NOS PROTEGEM

Uma das minhas jabuticabeiras (Arquivo JRS)
                         Ao meu amigo Napoleão:

                Quem não se lembra de ao menos de uma árvore marcante em sua vida? Eu desconfio que não me esquecerei de muitas!
                Na minha primeira infância, na Praia do Sapê, no terreiro da Tia Rita Carlota, o que me impressionava era uma nogueira a abrandar a quentura do areião, onde brincávamos. Por ali também, no caminho do rio, um grande cajueiro se sacudia com os nossos corpos (eu, Ana e Mingo). Na casa do Jonas, uma árvore que mamãe chamava de papoula,  estava sempre repleta de flores brancas no começo do dia e rosadas depois. Na área da vovó Martinha, além de cajueiros, jaqueiras e aroeiras, tinha um abacateiro que ficava carregado de frutas vermelhas. Hoje não sei onde encontrar outro igual. Os araçaeiros nem se podia contar! Toda Queimada era infestada!
                Em seguida, indo morar na Praia da Fortaleza, a jabuticabeira era bem na porta da cozinha da vovó Eugênia. Que delícia ficar nas grimpas quando chegava a primavera e os frutos escureciam  o tronco! Outra atração era um mamoeiro, desses bem antigos, cheio de galhos que sempre tinha algum fruto maduro em algum de seus braços. E as laranjeiras (da terra, da China, da Pérsia, mexerica...)!?! Depois, no morro, a sombra na porta da sala era uma frondosa aroeira, onde estirávamos nossas esteiras para as madornas em dia de calor, recebendo a viração de fora que refrescava toda a baía. E que vista de lá! Mar...ilhas...navios deixando rastros de fumaça...canoas com traquetes esbranquiçados chegando na praia... Mas maior atração era um gigantesco tarumã, no caminho do rio! Ele tinha um oco na raiz onde galinhas faziam ninhos, mas que também servia de esconderijo, onde criança se escondia  para dar susto nos passantes. “Buuuuu”.  Na verdade, em cada morro a gente tinha árvores como referência: “A enxada e a foice fica guardada na sapopemba cheia de caraguatás onde fica o ninho de gambá”, “A melhor água é aquela que sai do ciosal, na timbuíba da grota da tia Martinha”, “Já é tempo de dar uma olhada no grande caneveteiro, onde fica a touceira de tucum para tirar coco azedo” etc.
                No Perequê-mirim, o ponto de encontro era na figueira preta, do canto do rancho de canoa do Targino. E volta ao tema as jabuticabeiras (do terreno do velho Hiasa, do Zé Barrigudo, do Licínio Barreto, do Seo Pascoal etc!). Na Enseada, no morro do Dito Henrique, um jatobá se perdia nas alturas, mas jogava para nós e aos bichos suas frutas de polpa em pó. "E aquele cheiro, hein!? Não lembrava chulé?".  Quem nunca comeu? O meu amigo Napoleão preferia as frutas antes de chegarem ao ponto de secura total.

                Agora, nestes dias, dou uma volta sempre no meu quintal para sentir o cheiro da florada...da jabuticabeira, lógico!        
      Essas árvores! Não somos nós que protegemos elas, mas sim, elas quem nos protegem! Alguém duvida?

3 comentários:

  1. Obrigado amigo por compartilhar contos e momentos tão especiais.

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  2. Deus te abençoe amigo José Ronaldo. E era assim mesmo! Era os tempos de primeiros.

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