quarta-feira, 24 de junho de 2015

MEU COMPADRE CHICO

O  Chico é como borboleta curiosa (Arquivo Marly Lopes)

                Tia Tereza Lopes, natural da Praia do Pulso, foi uma mulher lutadora. Maria, Aurora, Chico, Nini e Anastácio são seus filhos.
                Chico Lopes, meu compadre, se fez carpinteiro depois de cortar pedras e de passar por muitos ofícios. Na luta pela sobrevivência ele continua fazendo a sua parte, mas deduzo que, caso tivesse outras condições, ele iria pelos estudos no caminho da Antropologia.
                Como bom caiçara, agora morando no Ubatumirim, não longe da Praia da Justa, junto com a comadre Marly, o Chico sempre está atento a tudo, sobretudo aos aspectos da exuberante natureza, da Mata Atlântica. De repente, com um olhar azul inconfundível, parece estudar cada detalhe de um cipó, cada aroma que nota entre folhagens. “Tá sentindo esse cheiro, compadre? É embirana. Deve vir de uma folha partida e está bem perto. Será que foi algum bicho que passou desesperado entre a ramagem?”.
                Quantas vezes eu não vi o Chico, sem certeza em relação a uma planta, partir para provar frutos, cheirar folhas, quebrar um galho para apreciar alguns detalhes internos !?! “Tá vendo essa planta, compadre? Além das folhas miúdas, quebrando o galho e reparando na cor dá pra dizer que é cabreuva”. Ah! Então tá bom: o Chico seria botânico! É, pode ser mesmo. “É sujeito treinado em distinguir coisa que a gente nem enxerga” – dizia o papai – “Antigamente todo a nossa gente era assim". Quanto o mundo não ganharia se aos conhecimentos médicos se ajuntassem a sabedoria dos antigos em raízes, folhas, cipós e tantas outras coisas que nos acudiam nas necessidades? O Velho Machado de Assis, creio que nessa direção, assim expressou: “Nem tudo tinham os antigos, nem tudo temos os modernos; com os haveres de uns e outros é que se enriquece o pecúlio comum”. 
                Mas voltando ao início deste texto, ainda identifico o Chico com antropólogo. É que em muitas ocasiões, convivendo em outras comunidades, eu tive o prazer de observá-lo na interação total, sem reservas. Visitava tal como uma borboleta curiosa os ambientes de roçados, de pescaria e das prosas. Mais tarde tecia seus valiosos comentários. Como eu adorava esses momentos!

                Na verdade, ele mantinha uma “observação exaustiva” de tudo na comunidade em que era hóspede. “Você conhece semente de pacová, né compadre? Aprendi que ela é usada pela gente daqui como remédio para o coração”. 

2 comentários:

  1. Parabéns Zé Ronaldo!!!!
    Isso é Sabedoria Popular Caiçara!!!!
    Forte abraço

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    1. É mesmo, Marcos! Assim os nossos pais e tantos outros têm muito a contribuir com a nossa existência mais feliz. Um abraço.

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