sexta-feira, 5 de junho de 2015

CHIRUNGO

Aí tem tatu! (Arquivo JRS)
Chirungo (Estevan)

               - Tio Neco, com é mesmo o nome daquela armadilha de caçar tatu?
               - É chirungo, Zé.
               Assim comecei umas das prosas de sábado com o Tio Neco. E ele se embalou nos detalhes:
               - Perto de nossa casa, no Sapê, tinha o tatu da vargem e o tatu do morro. O tatu da vargem é preto; o do morro é vermelho. Dos dois a gente pegava no chirungo. Era assim: ao encontrar uma toca de tatu, a gente cortava um monte de varetas com mais de metro de tamanho. Ia fincando em círculo, deixando o buraco do bicho bem no meio. No alto das pontas, com um cipó resistente, era feita uma amarração, formando uma espécie de funil de cabeça pra baixo. Depois, entre as varetas, a gente enchia de terra até em cima. Ficava lá. Ao sair, o tatu ia cavando para cima até chegar ao ponto máximo, no funil. Aí, sem espaço de manobra, ele ficava encurralado, preso.   Depois, para a nossa alegria esfomeada, bastava levar para a mamãe preparar a refeição.
                     - E ouriço, Tio? Eu me lembro pouco das vezes que vi a vovó preparando esse bicho.
               - A gente comia muito ouriço também. Ele tem pele caruguenta  (enrugada); deve ser pelado (passado no fogo) como gambá.  Assim que queima as pontas dos espinhos, eles caem porque a vida deles está na ponta. É por isso que eles andam pelos corpos que espetam.
                  - Tinha tanto ouriço assim, Tio?
               - Tinha sim. Tinha de dois tipos: o cacheiro que é mais escuro, grande, de espinhos amarelados; e o cachimbo que é pequeno, peludo, branco. Seus espinhos ficam escondidos entre os pelos compridos.
                    - Eu não conheci o ouriço cachimbo, Tio.

               - Não? Antigamente era fácil de encontrar deles pelos caminhos, nas árvores. Eu me lembro de uma ocasião quando eu e o Dito, ao levarmos a comida para o Girdo e o padrinho Antônio que trabalhavam no engenho de pinga da Maranduba, avistamos um ouriço cachimbo no galho de ingá-feijão, que tinha muito na beira do rio. Largamos o caldeirão de comida no chão e partimos para a caçada. Depois de muitas tentativas, derrubamos e matamos o bicho. Na volta, recolhemos o coitado e levamos para a mamãe. Eu tinha oito anos e o Dito dez. A gente ficava todo orgulhoso em levar uma caça para casa, em contribuir com a alimentação de todos. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário