terça-feira, 30 de junho de 2015

CULTURAS E CULTURAS: SÓ ISSO É RIQUEZA


 
Primeira inscrição na Colônia Z-10 - Ubatuba        (Arquivo Patural)
                    Bem-vinda ao blog, Eny Proença!
                   
             Na noite passada, durante a Festa de São Pedro, padroeiro dos pescadores, pensei no finado Jean Pierre Patural que, conforme o documento atesta, foi quem fez, em 1956, o primeiro registro na nossa Z-10, a Colônia dos Pescadores. 
             Para aqueles que, dentro da Colônia dos Pescadores, não acreditam no potencial cultural de uma festa assim (com procissão marítima, barracas, danças típicas, comidas...) para alavancar a suas atividades, eu escrevi este texto reflexivo. Aos demais que fizeram bonito, principalmente no prato típico da tainha, os meus sinceros parabéns.

        Em qualquer país é complicado defender uma pureza cultural. É coisa de atraso na evolução do intelecto. Ou de fanatismo. Chega a ser doença. Enfim, nunca será saudável e muito menos coerente, sobretudo em tempos de globalização, ver ou buscar difamar aquele que não é da nossa cultura. Quem sabe definir tal cultura? Em se tratando de Brasil, de qualquer rincão ou da moderna capital federal, incluindo aí o nosso município, quem procede assim é mais incoerente ainda! Afinal, vejamos um exemplo local: até mesmo os indígenas facilmente encontrados na feira, no mercado de peixe, fazendo compras no supermercado... são provenientes de outra região. Só estão aqui porque o saudoso Lacerda, na década de 1970, executou uma estratégia de guerrilheiro indigenista. E os tupinambás? Ah! Os tupinambás, que aqui habitavam na época da chegada dos portugueses, foram condenados à morte na famosa “Paz de Iperoig”, há mais de trezentos anos. Até mesmo a cultura caiçara é questionada na atualidade em que os migrantes constituem a maioria absoluta da população e os jovens naturais daqui sentem vergonha de seus poucos traços culturais, desconhecem a sua história, etc.
      Já publiquei um trabalho, realizado no final do século passado, sobre o pioneirismo de Jean Pierre Patural e sua esposa, dona Silvia. Para quem ainda não leu, posso adiantar que eles tiveram muita coragem para iniciar a vida matrimonial e empreendedora no sertão da Sesmaria do Ubatumirim, no início da década de 1950, quando sequer se sonhava com a rodovia Rio-Santos, sendo Ubatuba, conforme dizer do finado Odócio, “uma casca de saquaritá no cisqueiro lá de casa”, coisa que poucos viam ou valorizavam. Um desses poucos foi Félix Guisard, da Companhia Taubaté Industrial, que teve a iniciativa de apresentar ao jovem casal de franceses o quanto este pedaço de Brasil tinha de promissor, mesmo estando tão isolado, com os caiçaras que só tinham o “de comê”. Naquele tempo quem queria ver dinheiro migrava para a labuta nos bananais da Baixada Santista, ou ia morar em Caraguatatuba e trabalhar na fazenda dos ingleses.
Infelizmente o promissor agrônomo que entendia de tudo um pouco morreu cedo, quando o bananal começava o ciclo de exportação e seu filho Jean Pierre acabava de nascer no território caiçara. A Serra do Mar engoliu, junto com o monomotor montado num quintal de Taubaté, um jovem idealista repleto de sonhos. O tempo deu um fim ao trator, ao primeiro barco motorizado, e àquele que ocupa a inscrição número um na nossa Colônia dos Pescadores.
  

        A terra da família Patural que se transformava numa referência econômica antes do advento do turismo foi grilada. Hoje, após a morte da dona Silvia, seus filhos (Patrícia está na área da educação e Jean Pierre no setor pesqueiro) continuam como munícipes em Ubatuba. Assim se fizeram e continuam fazendo pelo Brasil e ao nosso município: através do trabalho e da evolução intelectual. Todo o resto pode ser classificado como perversidade, atraso da humanidade.

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