quinta-feira, 14 de novembro de 2013

CURRICO

Tirando canoa  no Ubatumirim (Arquivo Chieus)

                   Por ocasião do lançamento do livro    Ser tão mar, do amigo Jorge Ivam, em parceria com Pedro Paulo, apresentei, como homenagem aos caiçaras da Ponta Grossa, o presente texto.

                Existe uma modalidade de pesca que não é muito divulgada, mas os caiçaras, em ocasiões especiais, a usam. Trata-se de pescar curricando, que nada mais é do que soltar a linhada com a embarcação em movimento.

                A linhada, junto ao anzol, tem uma peça metálica que rodopia com a isca devido ao deslocamento da canoa.  É assim de propósito; serve para atrair os peixes que preferem iscas em movimento.  Também é atrativo o brilho do metal que rodopia. Por isso que, no tempo das anchovas, cavalas, sarambiguaras e outros pescados de igual hábito, os caiçaras curricam. É emocionante pescar no currico! A gente se empolga pelos cruzamentos de linhas, pelos saltos dos peixes prateados, bem distantes da borda.
                O que contarei a seguir, eu escutei do Garné, na praia do Cedro (da Ponta Grossa):

                Ele e Zeca pararam perto da Laje  de Fora; sondavam cavalas. Soltaram as linhadas, mas nada de fisgada. Então resolveram remar mais para fora, no correr do Boqueirão. A canoa era a “Pau cheiroso”, feita pelo finado Fabiano, da praia da Enseada. Canoa boa, segura. As águas a leste zuniam nas linhadas; logo veio peixe. E dos grandes!

             - De repente, vindo não sei de onde– disse-me o Garné – uma bitela de lancha passou por nós. Quase alagamos! Sorte nossa a canoa não ser louca, senão... E continuou:

                - O Zeca xingou, mas quem escutou alguma coisa naquela máquina barulhenta? Sabe que a danada se foi mais uns quinhentos metros, deu a volta e veio de novo pra cima de nós? Novamente veio aquela maré crespada de onda sobre onda, quase danando com a nossa embarcação. E o cheiro de óleo empesteou tudo! A danada parou quase dez metros de nós. Achei que aquilo mais parecia uma mansão flutuando. Um bacana vermelho como tomate apareceu na proa e gritou:

                    - Aqui pega peixe no currico?

             - Aí o Zeca, danado da vida que estava porque quase fomos a pique por duas vezes pelo mesmo idiota, respondeu do jeito que ele sabe muito bem:
                - Pega! Pega sim! Pega no currico, pega no cu pobre,  pega na puta que pariu!

                - Só então o  bacana percebeu a besteira que fez. Eu, controlando o balanço com o remo n’água, me desmanchei em risada, enquanto o Zeca continuava emburrado. 

                Esse é o Garné, do Baguari de Fora!

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