quarta-feira, 13 de novembro de 2013

É O PROGRESSO!


             Seja bem-vinda, Lirca!

Eu compartilhei no facebook um hino de Ubatuba legendado. Parece que muita gente curtiu. Os comentários também são expressivos. Hoje, ao preparar o presente texto, busquei e encontrei a contribuição do Renato Teixeira, o mesmo que canta que “‘É preciso amor pra poder pulsar/ É preciso paz pra poder seguir/É preciso chuva para florir”. 

O Renato, em diversas ocasiões, falou da cidade de Ubatuba no tempo da sua infância. Foi quando, juntamente com as estradas, ocorreu a chegada do turismo. “O nosso lugar era repleto de araçás, de cantorias e bate-pés, de canoas e canoeiros”.

Ao ler sobre a lenda da Gruta que chora, o amigo Elias, caiçara da Trindade, disse que lá também tem narrativa semelhante. Grutas eu sei que tem várias. Será que alguém já fez uma pesquisa arqueológicas nelas? E as nossas histórias: quantas famílias e quantas escolas continuam a cultivá-las? Saudades eu tenho das festas juninas nas escolas e nas capelas! Quantas boas lembranças e quantos boas amizades eu trago desse tempo!?!

O farmacêutico Washington de Oliveira escreveu as suas lembranças de menino, de quando só as canoas faziam as interligações da nossa terra, sobretudo das canoas de voga utilizadas até a década de 1910. Depois vieram os barcos a motor, as lanchas de cabotagem. “As grandes canoas foram recolhidas aos ranchos de abrigo e ali se deteriorando, corroendo-se à fúria das brocas e esboroando-se nas contorções do ressecamento”. Elas são o tema preferido de várias pessoas, dentre elas o Peter. Faz lembrar dos mestres na arte de fazer canoa: dos desaparecidos e dos que continuam “cavoucando o pau”: Antonio Julião, Fabiano da Enseada, Oliveira Quintino, tio Tonico, meu pai, o pessoal do Sertão do Ubatumirim e tantos outros.

Em relação às canoas caiçaras, eu não me lembro de nenhuma que não tivesse um esperado acabamento. Porém, não me sai do pensamento, por ocasião desse tema, a denominada “Cu grande”, do tio Genésio, lá na Praia da Fortaleza. “Era curta e grossa para aproveitar o pau, um ingazeiro tirado no Morro da Anta”, conforme explicava o meu pai ao me ver desapontado diante da embarcação do titio. Era a canoa preparada para as mais significantes cargas, pois cabia muita coisa e era bastante segura. “Não tonteia nunca!”.

As canoas, até o advento dos barcos de cabotagem, se teciam com cargas de banana, de cachaça, de peixe seco, de farinha de mandioca. O paraíso do comércio dos nossos produtos era a cidade de Santos. “Lá se vendia de tudo. Na volta também a gente trazia muita coisa”. Das bananas, a preferida era a banana da terra, cujos pés mereciam um tratamento e um escoramento especial devido aos fortes ventos que “deitavam os bananais”. Também galinhas e perus eram encomendados aos caiçaras pelos clientes da Baixada Santista. Aos poucos o progresso e as tantas interferências foram chegando. Ao compor o hino Ubatuba sim, o professor Francisco Gomes desejou que, enquanto aguardava “o progresso que vem que fique guardada com tudo quanto tem”. 
        Questão: 
Quem está preocupado em guardar tantas coisas significativas, capaz de dar um outro sentido para os turistas e os migrantes que para cá acorreram?

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