quinta-feira, 16 de junho de 2011

Franceses sonhando em terras de Ubatuba (Parte VII)

       
        Chegamos à parte mais dolorosa da história de Jean-Pierre Patural e familiares. Em 1961 aconteceu o desastre. Numa véspera de embarque de bananas, Jean Pierre decolou para Ubatuba. Ao chegar ao Ubatumirim constatou que uma peça fundamental para que o trator funcionasse estava quebrada e, a urgência do serviço fez com ele  retornasse no mesmo dia para Taubaté. Estranhamos o seu retorno.
        Como sabíamos que ele tinha retornado? Era fácil, pois o hábito dele era, antes de aterrissar em Pindamonhangaba, dar um voo rasante sobre a nossa casa. Assim, calculávamos que após uma hora já estaria conosco. Era o tempo suficiente para acomodar a aeronave no seu devido espaço e tomar um ônibus que circulasse entre as duas cidades.
       Assim fez ele: providenciou a peça e retornou para o Ubatumirim. Tinha pressa porque o barco passaria no dia marcado, para fazer o embarque da grande carga bananeira prevista. Foi quando aconteceu o desastre.         Estranhamos a sua não chegada no dia esperado; nem no outro, nem no outro. Quando recebemos o telegrama do capitão do barco bananeiro dizendo que Jean-Pierre não havia estado no Ubatumirim e que não tinha encontrado nenhuma carga de bananas na praia, desconfiamos que o pior já tinha acontecido. Imediatamente entrei em contato com a fábrica CTI (em Taubaté) que tinha uma linha telefônica direta com Ubatuba. Assim confirmei que o meu amado tinha desaparecido. Com o auxílio de amigos, funcionários da Mecânica Pesada, chamamos o Batalhão de Exército de Pindamonhangaba. Assim foram iniciadas as buscas pela Mata Atlântica. Após uma semana só o avião foi encontrado: estava totalmente destroçado. As buscas continuaram sem nenhum resultado. Desesperada, chamei uma equipe de paraquedistas de São Paulo especializada nesse tipo de busca. Em vinte e quatro horas encontraram o corpo de Jean Pierre na beira de um rio, cuja distância era, aproximadamente, quatro quilômetros dos destroços do avião.   O avião, modelo “teco-teco”, provavelmente foi jogado na mata por uma dessas fortes rajadas de ventos, tão comum de ocorrer naquela época do ano. Foi essa a suposição de um comandante das buscas.  É quase certo que tenha sido assim mesmo”.
        O avião caiu não muito longe da estrada, numa distância média de cinco quilômetros. Ele se feriu e, segundo o laudo pericial, ainda sobreviveu uns cinco dias. Isso se deduziu pela grande distância entre os destroços do avião e o corpo desfalecido. É certo que teria se salvado se tivesse tomado a trilha certa: bastava seguir o lado da bifurcação que o conduziria à estrada em vez de  se enganar e acabar por embrenhar-se ainda mais na mata fechada. Mas... se é fácil de se enganar pelas veredas quando estamos sãos, imagine as grandes probabilidades para quem estava ferido e não estava ainda tão familiarizado com a Mata Atlântica. Talvez também tivesse sido socorrido pelos caçadores se fosse tempo de caçadas. Mas não era. 
       Entre o momento em que eu recebi o telegrama de Santos (do comprador das bananas) e o desfecho final (encontro do corpo), passaram-se vinte e um dias.  Era o ano de 1961; meu marido tinha trinta e dois anos.

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