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Um disco...uma mensagem (Arquivo JRS) |
domingo, 9 de outubro de 2022
FAZER O QUÊ, NÉ?
sexta-feira, 7 de outubro de 2022
AS BELAS MEMÓRIAS DA TIA HELÔ
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Capa do livro - Arquivo JRS |
Há apenas alguns dias descobri uma falha em minhas publicações no blog. Alguns textos foram convertidos em rascunhos, desapareceram para os leitores. Este - As belas memórias da Tia Helô, testemunho maravilhoso do estimado Jorge Ivam, era um deles. Lógico que precisava ser resgatado! Afinal, trata-se da apreciação de uma memorialista fantástica: a Tia Helô.
Tia Helô, quando eu a conheci, exercia a profissão de professora na E.E. Capitão Deolindo, em Ubatuba. Era Mestra em Língua Portuguesa. Na mesma época, quando uma poesia minha foi classificada no concurso da Fundart, foi essa pessoa maravilhosa quem se ofereceu para a declamação na noite das premiações.
Desde já peço desculpas a quem acompanha o blog por tal falha não percebida há tempo. E peço perdão ao amigo Jorge por apenas agora recuperar o seu texto primoroso.
As belas memórias de Tia Helô
Na semana passada, Michael Keep comentava, numa crônica para o suplemento Equilíbrio da Folha de S. Paulo, que muitas vezes o leitor fica decepcionado ao conhecer o escritor, pois julga, equivocadamente, que a fala deste tem a mesma sedução de sua escrita.
Lembrei-me de Keep quando comecei a ler “A saga de uma caipira em terra caiçara de Anchieta”, de Heloísa Maria Salles Teixeira, e, por pensar que não é raro também encontrarmos pessoas que são extremamente interessantes quando falam e burocráticas quando escrevem, fiz-me esta pergunta: será que o livro da Tia Helô é tão sedutor quanto sua fala? É que essa mulher espirituosa só precisa de poucos minutos de conversa para cativar o interlocutor, ser o centro das atenções. Nas poucas vezes que tive contato com ela, fiquei fascinado com sua energia, sua inteligência, seu carisma. Com certeza, se tivesse seguido a carreira de atriz, seria uma estrela conhecida mundialmente.
A minha pergunta obteve resposta logo. As primeiras páginas já me fisgaram. Tia Helô escreve com elegância e correção. Seu texto tem a virtude de fazer o leitor esquecer-se de que está lendo as memórias de uma professora de português. O pedantismo, típico de tantos mestres dessa disciplina, não achou lugar em sua escrita, que flui com a mesma naturalidade e o mesmo encanto de sua fala.
De leitura agradabilíssima, além de extremamente formativa e informativa, essa obra deveria ser obrigatória nos concursos públicos e nas escolas de nosso município.
Muitos fatores concorrem para que a leitura desse livro seja prazerosa. A leveza do estilo da Tia Helô, seu senso de humor, sua seleção dos fatos. Este quesito é crucial. Ao olhar para trás, um memorialista precisa selecionar criteriosamente o que deve entrar no livro, isto é, deve ponderar o que é essencial e o que é (senão supérfluo) dispensável. Imagino o quanto ela deve ter ficado angustiada para condensar, nesse livro, quase um século de uma vida vivida intensamente. O resultado mostra, entretanto, que soube lidar magistralmente com isso. Passo a passo, os fatos vão sendo tratados na justa medida: o que merecia mais delonga recebeu atenção maior, o que era mais episódico foi relatado com brevidade. Tudo está em seu devido lugar.
São formativas as páginas desse livro porque, entre outros motivos, mostram o percurso de uma pessoa exemplar, uma mulher que enfrentou os percalços da vida sem se abater, sem jamais perder a dignidade e muito menos lamentar-se. Ficou órfã de pai e mãe ainda criança, viu dois filhos morrerem jovens; sofreu muito, mas essas e outras tragédias não foram suficientes para tirar-lhe o desejo de viver, lutar.
E o que dizer da sua garra, da sua entrega na vida profissional? Que desprendimento! (Como atestam os depoimentos de seus alunos.). Que dedicação para ensinar e aprender! Quantos professores se disporiam (ou se dispõem mesmo com todas as facilidades de hoje) a arrostar a oposição do cônjuge e arriscar a vida diariamente subindo e descendo à noite a Serra do Mar “simplesmente” para melhorar sua formação? E quantos encontrariam, no meio de sua cansativa labuta, ânimo para a luta sindical?
Esse livro é formativo também na demonstração de tolerância com o outro. É de se supor que a autora, em algum momento de sua longa vida, tenha sofrido alguma injustiça ou tenha sido vítima de alguma intriga em virtude da inveja que devia (involuntariamente) causar, entretanto, sabiamente não usa suas memórias para acertar as contas com ninguém. Passa por cima de qualquer dissabor que possa ter tido e só menciona pessoas para agradecer-lhes a amizade ou indicar-lhes qualidades. Nunca para criticá-las. Ao contrário, quando revela alguma “desavença” é para desculpar-se, não para expressar mágoas. Por exemplo, atribui à sua imaturidade as discórdias que tinha com a sogra. Acusa-se de não ter sabido, na época, respeitar a cultura local, os valores da comunidade.
Não se trata de síndrome de Pollyana. É que tia Helô está acima das questiúnculas a que muitos indivíduos dão uma enorme importância. Procura compreender seus semelhantes em vez de julgá-los. Por isso é tão amada, por isso permanecerá sempre como um exemplo a ser seguido e, como diz Camões, vai “da lei da Morte se libertando”.
Seu livro também tem imenso valor informativo, porque é obra de quem pode dizer: “Meninos, eu vi”.Tia Helô é testemunha privilegiada das numerosas mudanças pelas quais o Litoral Norte, o Vale do Paraíba e, (Por que não dizer?) o Brasil passaram nesse período de oito décadas e meia. Ela, que conviveu com a elite e com os mais humildes moradores de comunidades pesqueiras tem muito a dizer e diz, inclusive comprovando com fotos magníficas. Como no ditado popular: “mata a cobra e mostra o pau”. Por tudo isso e muito mais - que você, leitor, poderá descobrir - a leitura de “A saga de uma caipira em terra caiçara de Anchieta” é indispensável.
Autor: Jorge Ivam
(Observação: o texto original data do final de janeiro de 2013)
quinta-feira, 6 de outubro de 2022
DESAGREGAÇÃO PENSADA
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Maria e Estevan - Arquivo JRS |
domingo, 2 de outubro de 2022
TUDO DEPENDE DA REFLEXÃO
Apelo infantil - Arquivo JRS |
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Uma capa de anos - Arquivo JRS |
Em muitos momentos da minha história eu presenciei pessoas aparentemente sossegadas, mas armadas de ideias perigosas. Parece que ainda ouço alguns dos caiçaras de outros tempos comentando em voz baixa a ditadura que se instalou no meu país quando eu era criança e nem sabia falar. Então chegou o momento de eleições municipais, quando um veterano e um jovem disputaram a prefeitura. Os comentários gerais eram de que era hora de renovar, que o mais velho deles não podia apresentar nada de novo, estava alinhado com o sistema e o grupo dominante etc. Ganhou o jovem, mas não demorou nada e logo estava rumando para um cargo em Brasília. Decepção. “Não era um subversivo”. Ou foi cooptado?
Mais tarde, a polarização entre dois partidos. A ditadura queria parecer democrática, mas continuava torturando gente, perseguindo os opositores. Por aqui, em Ubatuba, pessoas da linha de frente e muita gente anônima também se reunia, protestava, pensava em como sair daquela enrascada histórica e voltar ao trilho democrático. Meu pai acompanhava Idílio Barreto, do MDB (Movimento Democrático Brasileiro). Mamãe permitia que eu os acompanhasse em encontros que tratavam de política. Me recordo bem de uma dessas reuniões ocorrida numa noite, na praia da Tabatinga. Muitos pescadores e roceiros presentes escutaram e tomaram posições. As mulheres não estavam ali. A maioria dessa caiçarada não ganhou nome na história, mas tenho certeza que seus votos apressaram o fim daquele período de trevas.
Graças a essa vida de aprendizado, de escutar e de ler assuntos significativos, eu e mais gente da minha geração soubemos apoiar causas mais coerentes com a nossa história. Vieram as Comunidades Eclesiais de Base, vieram os partidos políticos lutando contra as desigualdades sociais e pelos direitos dos trabalhadores, veio o Movimento dos Sem Terra, veio o Movimento em Defesa de Ubatuba etc. Vieram as questões filosóficas preocupadas em incluir mais gente para a felicidade. Pensamentos assim solidificaram nossas crenças em desconstruir para reconstruir. Passei a usar esta frase: “O mundo não nasceu assim. Nós o fizemos desse jeito. Logo, podemos refazer de outro jeito”.
Por tudo isso, digo que se fixou em mim a fé na democracia. Assim, neste dia de eleições gerais no Brasil, meu voto é para não deixar vencer os protagonistas daquele período de ditadura que tão negativamente marcou a minha infância e juventude. Percebo que esse pessoal das trevas se vale da ignorância dos mais simples, dos que não desenvolvem uma reflexão coerente com a vida que lhe é imposta, se alienam e se vendem a troco de migalhas. É pobre querendo perder mais direitos, mulheres aprovando o machismo e a violência, religiosos vestindo pele de lobo, mas se passando por cordeiro etc. Aonde vamos? Voto é força, minha gente! (Observação: Não esquecer de cultivar ideias subversivas, capazes de mudar a ordem que aí está. Não esquecer, sobretudo, da sua classe social e da sua origem). Finalmente, agradeço muito às pessoas que, desde a minha infância, deram sua contribuição neste meu ser democrático que deseja evoluir!
sexta-feira, 30 de setembro de 2022
FUGITIVOS DA INQUISIÇÃO
Nhonhô Armiro, até onde sabemos, provinha de uma mistura de povos diferentes: de judeu a árabe, de português a indígena e negros transformados em escravos. Logo, eu, bisneto desse homem íntegro, também sou continuidade, herdeiro desse caldo cultural, étnico etc.
Numa certa ocasião, naqueles momentos de contação de histórias, Nhonhô falou de um tal parente antigo por nome de Tonico Paparrobalo: “Esse antigo, gente nossa, era judeu. Se criou em Portugal, mas teve de se mudar para a Holanda por perseguição religiosa. Mais tarde veio para o Brasil, morou no Nordeste, em Pernambuco. Quando veio os holandeses para invadir aquelas terras produtoras de açúcar, ele precisou fugir de novo porque foi acusado de facilitar os invasores. Mas sempre escutei que era calúnia contra ele. Na verdade, era coisa de gente que queria ficar de bem com a igreja católica, quando os judeus eram os preferidos para alimentar a sanha criminosa do Santo Ofício, da Inquisição”. Mais coisas interessantes, graças à tradição oral, aprendi com o saudoso Nhonhô. Só que naquele tempo de criança eu não refletia nada disso, pois a maior preocupação era brincar. Esses temas antigos passavam longe. Até achava que tinha coisa muito fantasiosa naquelas histórias. Pensava assim: “Será que já existiu alguém chamado Paparrobalo?” Lógico que parecia ser criação de gente ligada à atividade pesqueira, da beira do mar...coisa de caiçara. Só agora, décadas depois, com a barba embranquecida, descobri que o tal homem – judeu, parente meu – existiu mesmo. Está grifado no livro Arrancados da Terra, de Lira Neto: “De acordo com o que afirmou em suas memórias o próprio donatário da capitania [Pernambuco], Duarte de Albuquerque Coelho, um certo Antônio Dias Paparrobalos indicara o caminho às tropas de Waerdenburch após o desembarque”. Foi essa a versão que vingou, segundo o historiador. Só restou fugir para não ser martirizado. Na prática, para esconder interesses espúrios, quantos inocentes ainda continuam sendo acusados de pérfidos traidores? É recomendável refletir a quem convém articular golpes e enganar a população em geral! O que dizer desses parentes seguindo lobo em pele de cordeiro?
segunda-feira, 19 de setembro de 2022
BRINCADEIRAS E LEMBRANÇAS
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O menino e a canoa - Arquivo JRS |
Criança foi feita para voar
Essas crianças terríveis que sobem nas árvores,
se atiram no rio, não fazem o dever escolar,
pulam o muro atrás de goiabas,
esses guris, quem diria,
terão uma riqueza de lembranças líricas
para quando vier a noite e findar o dia.
sábado, 17 de setembro de 2022
SOLIDARIEDADE
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Plantas nossas (Arquivo JRS) |