domingo, 23 de outubro de 2022

NÃO O RECONHEÇO

Uma casa para orquídea - Arquivo JRS

 

        Fonseca passou por mim, mas fez de conta que não me viu. Logo pensei: "é porque eu não apoio o mesmo candidato dele nas próximas eleições". Comungo com o Mestre Luiz Bezerra que disse mais ou menos o seguinte: “Educador é para ajudar na evolução da civilização. O momento exige combate aos milicianos, aos pedófilos, aos homofóbicos e a tantos outros desvios de caráter que podem nos reconduzir à barbárie". São mentiras e ações que impedem muita gente de ver a realidade opressora que vai passando como normalidade nos dias atuais. E assim, conforme Mestre Saviani, “estamos no fenômeno da democracia suicida quando, o povo, iludido por falsas promessas e enganado por informações inverídicas, acaba votando em seus próprios algozes”.

       Outros se comportaram da mesma forma, seguiram na esteira do Fonseca, mas se dizem "defensores da cultura local e popular". Eu não posso fazer muita coisa se eles não enxergam que o atual mandatário do país serve apenas de mula para o posicionamento político internacional de extrema-direita, onde o heróis maior do altar é Hitler, patrocinador dos conhecidos horrores na humanidade contemporânea. Será que desejam uma liderança brasileira nesse altar?

        Ter um posicionamento político significa saber que nós nos tornamos inventores de mundos. Mestre Rubem Alves enumera algumas do tanto de coisas que deram essa feição à humanidade. Foram os homens que “plantaram jardins, fizeram choupanas, casas e palácios, construíram tambores, flautas e harpas, fizeram poemas, transformaram seus corpos, cobrindo-os de tintas, metais, marcas e tecidos, inventaram bandeiras, construíram altares, enterraram seus mortos e os prepararam para viajar e, na sua ausência, entoaram lamentos pelos dias e pelas noites”. O mundo está ruim? Vamos desconstrui-lo e reconstruir em outras bases desprezadas no decorrer da História! Não vamos nos omitir diante de uma situação que se mostra cruel para os mais desfavorecidos, aos sucumbidos pela ganância, onde o imperativo da sobrevivência está se fundamentando em dizimar tudo, inclusive a nossa capacidade de compadecimento. Essa gente, inclusive o Fonseca e outros conhecidos e parentes meus, não estão querendo a vida plenamente, inclusiva. Essa gente se aliou a um desvio cultural, a corpos que dão ordem contra uma razão humanitária. Eu, observando, sobretudo a massa jovem, sei que não existe cultura sem educação. É esta que vai lidar com os nossos desejos. Afinal, cada ser humano é um ser de desejo. Eu desejo um mundo melhor, que não seja privilégio de uma minoria.

 

O lado ruim do processo de crescer

e mudar ideias e prioridades,

é que eu menino passaria por mim sem me reconhecer.

 

      Estas palavras significativas acima é do mano Mingo, sob o título Não o reconheço. Elas  confirmam o que escreveu Rubem Alves de que “os poemas não quebram as correntes nem abrem as portas mas, por razões que não entendemos bem, parece que os homens se alimentam deles e, no fio tênue da fala que os enuncia, surge de novo a voz de protesto e o brilho da esperança”.

(Blog do mano Mingo: barbatuba.blogspot.com)

3 comentários:

  1. Infelizmente, Zé, o nosso país está cheio de fonsecas! Não param para refletir e acabam escolhendo ficar do lado opressor, enganados que estão por um discurso moralista, defendido por quem é imoral!

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  2. Cada vez que eu penso que são mais de 51 milhões de Fonsecas, perco a esperança de que esse país ainda tenha solução. E tento entender quanta ingratidão existe entre esses milhões de Fonsecas que viveram um verdadeiro período de prosperidade e agora amargam tempos sombrios e mesmo assim apoiam seu algoz. Como resposta só me vem a cabeça o mestre Paulo Freire: quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser opressor.

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  3. Boa reflexão, Mano Zé, o fascismo seduz os parvos e os que não sentem empatia por ninguém e nem por um bichinho.

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