quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

BASTA UM BILU-BILU

Ponta da Fortaleza (Arquivo JRS)

Eu e o Oliveira (Arquivo JRS)


               Olho o mar, mas olho com mais interesse as matas, as costeiras. Busco avistar as modificações e confirmar aquilo que permanece nas minhas lembranças. “Lá está o Saco do Zacarias. É onde morava o tio Zacarias da Ponta antes de se mudar para a praia das Sete Fontes. Mais tarde acabou a sua vida na praia do Perequê-mirim. Tá vendo aquela água que escorre na Pedra Preta? É uma água muito boa, marcou muito a minha infância, quando eu vivia correndo pelas pedras. Que refrescante que era! Ali perto, note bem, tem o Papo do Passarinho. Na verdade é um galho de araçarana, onde está grudado um cupinzeiro muito antigo. Formou uma imagem muito bonita em cima da costeira. Certamente que é habitado ainda por cupins, senão... não existiria mais. E Olha a Ponta!”.

               Tais referências são para poucos que conhecem bem a região da Fortaleza, praia da minha infância. Agora é lugar de muitos turistas. Do pessoal antigo, poucos restaram. Sempre será um prazer encontrar com o Oliveira e ter “um dedo de prosa”:

               Agora estou com 94 anos. Todo dia faço a minha caminhada desde a Praia Brava até aqui. A Fortaleza é a minha vida. Nela eu me criei, me casei... Pesquei muito e sempre tive o meu eito de roça. A minha primeira mulher, a Filomena, era muito trabalhadeira, enfrentava qualquer tarefa. A nossa casinha era ali no jundu, na vizinhança com o vosso tio Maneco Armiro. Perto de nós morava o Mané Bento, irmão da Filomena. Morava sozinho, ele nunca se casou. Era muito intiqueiro. Em tempo de maresia brava, no mês de agosto, a espuma da arrebentação das ondas chegava até o nosso cisqueiro, onde estava o varal de roupas. Depois, conforme você sabe, enviuvei, vendi a casa e me mudei para a Praia Brava. Logo me casei de novo.

               Conhecendo o Oliveira, sabendo da sua disposição em brincadeiras, em gozações, perguntei se continuava namorando ainda.
               É claro, meu filho! O quê? Quer coisa melhor que continuar tendo saúde para manter a brincadeira com quem você gosta?!? Estou com 94 anos, mas ainda faço bonito! Só que não é mais todo dia, né? De vez em quando a mulher faz um bilu-bilu no gigante que dorme em berço esplêndido... Ele acorda... e... olha que dá trabalho o sujeito! É muito bom, né? Graças a Deus tenho muita saúde! Uns tempos atrás estava sentindo umas dores na coluna, fui num médico em Caraguá e ele deu um jeito, me deitou numa cama que estica a gente. Até escutei os estalos, parecia que ia me romper, separar a minha cabeça do restante do corpo. Mas deu resultado, viu?! Agora é só alegria! Ando pra lá e pra cá, me dobro, me estico. Tá tudo bem assim.

               Ah, o Oliveira, um dos companheiros do saudoso vovô Armiro!

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