domingo, 9 de dezembro de 2018

O NOSSO CAPITAL CULTURAL

Canoas na Barra Seca (Arquivo JRS)


               Parabéns para a minha Gal que, neste dia (10 de dezembro), completa mais um ano de vida.

               Oba! Maria e Estevan estão de férias! Ambos estudam na Universidade Federal de Juiz de Fora (MG). Então, com a devida aprovação, apresento agora o trabalho do Estevan, na disciplina de Hidrogeografia. Trata-se de relação entre poema, os objetos estudados na disciplina e a foto exposta (canoas caiçaras na praia da Barra Seca, em Ubatuba).
               Se nos orgulhamos de ambos? Lógico! Nosso filho e nossa filha são o nosso capital cultural!


"Vós, com tantas terras,/ Por que quereis meu pedacinho de céu,/ Meu ranchinho à beira-mar,/ As terras do meu avô,/ Minha escola e meu diploma/ Do ofício de pescador?" (10-15).  SANTOS, Domingos Fábio dos. Peixe-palavra (Poesia caiçara). São Vicente, SP, 2012.
O trecho do poema Protesto Caiçara, de Domingos Fábio, caiçara da praia da Fortaleza, retrata bem o conturbado processo de urbanização ocorrido no município de Ubatuba-SP, e do qual é feito pouco caso, porém até hoje provoca – e cada vez mais – problemas relacionados ao meio ambiente e à sociedade, que afetam diretamente no modo de vida da população, com destaque aos povos tradicionais.

Dos anos 60 até os anos 70, verificou-se um significativo crescimento urbano nas praias de Ubatuba, sendo isso um resultado direto do crescimento do turismo, influenciado pela beleza natural e pela facilidade de acesso por conta das estradas recentemente abertas. Com a emergência do setor de turismo, cresceu a especulação imobiliária em cima das áreas próximas à praia e, no caso do sertão, próximas aos rios. Os caiçaras de então, que viviam predominantemente da pesca, mas também da coleta e da agricultura familiar, viram-se coagidos pela especulação, desapropriação e mesmo invasões, em alguns casos, a migrar para o centro da cidade e para o interior, em áreas como os bairros da Estufa (1 e 2) e do Itaguá, antes ocupados por manguezais com grande biodiversidade e que sustentavam a economia familiar, além de serem adaptados ao regime das águas dos rios Tavares e Acaraú, hoje poluídos e constantemente inundados, trazendo diversos problemas para as famílias mais simples.

O poema aborda diretamente a questão da especulação das terras litorâneas, que foi onde mais se notou o processo de urbanização e construção de empreendimentos imobiliários como condomínios e residências de veraneio de alto padrão: “Vós, com tantas terras” (10). Foi este o principal motor da migração dos caiçaras da praia para a planície litorânea do centro do município e sertões, destino comum dos imigrantes menos abastados atraídos pelas ofertas de emprego relacionados à construção civil e turismo. A perda do espaço pelas comunidades tradicionais ocasionou num desmonte do modelo de sociedade e economia que existia então, que se apresentava numa relação sustentável do povo com a natureza, sem a exploração predatória do mar e da terra, com respeito ao regime dos rios e ao ciclo de vida de caças e pescados. Foram retirados a “escola e o diploma”(14) do “ofício de pescador”(15) de um povo cuja vida era essencial e intimamente ligada à água, seja na forma do mangue, do rio ou do mar, e dessa forma foi retirada sua identidade cultural, o caiçara foi definitivamente colocado na globalização, tornando-se dependente de fatores sócio econômicos que naturalmente não afetariam seu estilo de vida, podendo-se interpretar assim a “escola e o diploma”(14) como a terra e o mar na vida das comunidades tradicionais, e que sem essa relação desses fatores com a vida, é privada ao povo a manutenção de seu estilo de vida, chamado de “preguiçoso” por aqueles de regiões mais avançados na globalização e no modelo de produção capitalista – e principalmente pelos capitalistas em si, que viram naquela área “esquecida” uma grande oportunidade para investimentos e exploração. O Estado também teve decisivo papel na retirada de direitos do povo, ao limitar a pesca, o corte de madeira para embarcações de pequeno porte, dentre outras medidas que provocaram a necessidade do alinhamento do caiçara com o capital, e não trouxeram nenhuma melhoria na questão ecológica do município, sendo que esta só se agrava negativamente a cada dia – o que nos permite inferir que foram medidas com único e exclusivo objetivo de limitar ao caiçara sua cultura, empurrando-o para a globalização.

Referências
SANTOS, Domingos Fábio dos. Peixe-palavra (Poesia caiçara). São Vicente, SP, 2012. p. 20. Disponível em <https://issuu.com/edicoescaicaras/docs/peixe-palavra_revisado_issuu> Acesso em 28 nov. 2018


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