sexta-feira, 9 de março de 2018

AS NOSSAS PROFESSORAS

Na margem do rio, o grupo escolar de Ubatuba (Arquivo Ubatuba )


           Uma mulher, ou melhor, duas senhoras batalhadoras (Olga e Valda) marcaram meus primeiros anos escolares. Depois, lógico, aprendi muito com a tarefa de outras pessoas que se dedicaram a ensinar aos caiçarinhas num tempo onde as adversidades eram outras. Porém, o respeito pelas pessoas e seus ofícios era outro. No caso das escolas isoladas, onde quem ensinava precisava caminhar bastante, enfrentar travessias marítimas e conviver junto à famílias caiçaras, havia uma integração marcante: professora (ou professor) participava das festas e dos momentos angustiantes, dava a sua contribuição nos encaminhamentos comunitários e vivenciava as mesmas condições que, geralmente, dependiam do tempo (chuva demais, estiagem duradoura, ventos fortes...). Ontem, ao ler o relato da Maria Angélica falando da “Ditinha” da Ilha dos Búzios, reconheço o quanto é importante ter acesso à escola, poder estudar sobre o mundo, adquirir os conteúdos, os conhecimentos que proporcionam autonomia. Lembro-me da minha avó dizendo que no tempo dela, há cem anos ou mais, não havia escola para as meninas. “Só os meninos podiam estudar, meu filho! A sala do tio Onofre era onde a professora ensinava. Ela morava com eles, era parte da família do titio”.


          Ontem pedi que as crianças escrevessem uma mensagem para uma mulher que elas amassem muito. Depois do exercício entregue, pedi que imaginassem essa mensagem não tendo mais destinatário, ou seja, suas mães, tias e outras mulheres admiradas demais não existiam mais, morreram queimadas numa fábrica com um patrão terrível, em péssimas condições de seguranças e condições ainda piores de trabalho (15 horas diárias em condições insalubres, exploração do trabalho infantil etc.). Elas sentiram então aquilo que eu senti quando a professora Olga, em 8 de março de 1970, usando a mesma estratégia, nos explicou a História do Dia Internacional da Mulher, destacando que “as conquistas das mulheres, que alguns ainda não respeitam e nem valorizam até hoje, está assentada em cima de muitos martírios. Custou vidas ter melhores condições de trabalho, de leis que garantem direitos e atitudes respeitosas. Se eu hoje sou professora de vocês, devo isso à sede de justiça e à convicção que tantas mulheres demonstraram pelo mundo afora em outros tempos”.


        Assim, pessoas como as professoras Olga e Valda, muito importantes na minha infância, ajudaram a desenvolver nos caiçaras daquele tempo sentimento de respeito, de consideração pelas mulheres. Elevaram a autoestima de minha mãe e de tantas mulheres simples que enfrentavam as adversidades no território caiçara. É por isso que me emocionei com a atuação da “Ditinha”, aquela mulher caiçara que está à frente dos pescadores do arquipélago da Ilhabela. Imagino quantas exemplares professoras deram a sua contribuição nas conquistas dessa mulher. Parabéns mesmo! Pobre da pessoa que desconsidera, que desvaloriza, que não tem nenhum respeito por quem, depois dos pais, é um farol para nossa rota com dignidade!
   

Nenhum comentário:

Postar um comentário