segunda-feira, 20 de novembro de 2017

A VERDADE ESTÁ NA NATUREZA

Garça na beira do rio (Arquivo JRS)

               A história do mundo é uma infinidade de deslocamentos. Tudo se locomove buscando as melhores adaptações; todos os animais fazem isso. Os homens também estão em permanente busca por melhores lugares para a sua sobrevivência. É daí que vem os ajuntamentos que originaram os povos diversos, as culturas tão diferentes entre si.
               Os caiçaras resultam dos sobreviventes de três grupos básicos: índios, portugueses e negros. Neste lugar, entre a serra e o mar – um cercado natural! -  conseguiram uma simbiose que firmou a cultura caiçara. Aqueles que ultrapassaram a serra – “os de Serra Acima” são denominados de caipiras.
               Desde os primórdios da história brasileira, caiçaras e caipiras mantiveram contatos de toda espécie: comercializavam seus produtos, tinham festas em comum, se davam em casamentos... Mas sempre se mantiveram em territórios distintos. Porém, a partir do advento do turismo, a realidade do litoral (espaço caiçara) se tornou um poderoso atrativo econômico, “lugar de ganhar dinheiro”. Assim, a partir da metade do século XX, os caipiras vieram morar e trabalhar em Ubatuba, deixaram as suas lidas de campo (criar animais, produzir queijos, fazer farinha de milho etc.) e se encaixaram nas funções de serviço ao turismo.
               Meu avô Armiro, especialista em embaralhar as palavras para nos transmitir algo mais profundo, deste jeito começou a prosa num dia chuvoso: “Os judeus pedem sinais, os gregos andam em busca de sabedoria e os caipiras descem a serra doidos por dinheiro! É gente boa essa caipirada, mas fazem de tudo para levar vantagem. São cismados, não se importam em serem amigos de verdade”.
               O tempo passou...passou...passou... Outros grupos de retirantes chegaram ao litoral, fugindo de condições ruins de sobrevivência, deixando suas raízes em territórios distantes. Local de sobrevivência passou a ser sinônimo de lugar de ganhar dinheiro.
               Quando a meta é ganhar dinheiro, o resto não tem muita importância. É por isso que se verifica um aumento assustador das degradações ambientais (queimadas, invasões de morros, apropriação de áreas públicas, devastação de mangues e gamboas, esgotos nos rios etc.). Ou seja, muitos componentes dos diversos grupos que aqui chegaram não têm uma relação afetiva com o ecossistema local, não desenvolveram uma interdependência com a natureza que nos rodeia. Vieram para ganhar dinheiro, na ideia de "colônia de exploração" aprendida em História. Muitos do lugar também traíram seu espírito original, engoliram a isca da “vida fácil é a vida que importa”.
               No fim da vida, vovô Armiro dizia, após ver tantos estragos no nosso ambiente: “As épocas mudam os espíritos. O que hoje muita gente tem como mérito, até bem pouco tempo era defeito, coisa que até era pecado pensar. Quer a verdade? A verdade está na natureza!”.

               

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