segunda-feira, 19 de setembro de 2016

UM PATRIMÔNIO CAIÇARA

Se despedindo do nosso lugar (Arquivo Edson Silva)

Família do pescador Antônio Athanásio: Virgínia (esposa), Antônio Athanásio, Alzira “Santinha” (filha), João Barroso (sobrinho), Maria da Lapa (Maria Antônia dos Santos Rosa (tia do Antônio Athanásio). Agachados: Idir e Edson (filhos).

               Edson é um patrimônio caiçara! Alguém duvida?

           O seu pai  Athanásio, que hoje empresta o nome à rua onde se localiza o Projeto Tamar,  era proprietário da área do atual aeroporto, recebida como herança de Maria da Lapa. Em 1940,  o governo começou  a retirada das famílias que residiam na área para construir o Campo de Aviação, sob pretexto de emergência de guerra. Na foto de 1942, a Família Athanásio desmanchava a casa e posava para a última recordação do local, no jundu, onde nasceram todos.

               Muito à vontade, numa manhã de sábado, eu, Andréia e Ernani nos encontramos com o Edson da Silva para uma agradável prosa. Para quem não sabe: o Edson é quem possui um maravilhoso acervo de fotografias antigas de Ubatuba. Muitas delas certamente você já viu, mas em nem todas aparece o crédito, o nome de quem as fez. São registros de lugares e de pessoas que marcaram a história desta cidade, da nossa Ubatuba. Ouçamos um pouco da prosa deste caiçara sempre disposto a repartir conhecimento:



Edson da Silva (Arquivo JRS)


               " Eu sou caiçara, nasci aqui perto, na Barra da Lagoa. O meu pai era Antônio Athanásio da Silva. Toda essa área que hoje engloba o Campo de Aviação, a avenida Guarani, até o loteamento Parque Vivamar era da minha família. Por ali era nossos roçados de mandioca e nossas plantações de banana, de cana e de outras culturas. A casa da minha avó era bem perto da lagoa que mais tarde foi aterrada. Hoje é a parte chique, a avenida Guarani. Onde está o aeroporto, bem ali, era onde criávamos cabras. Era um terreno de altos e baixos, de gamboa com caxetas, taboa, peixes e aves. Foi muito aterro; quase tudo com areia da praia. Naquele tempo podia, né?”.



               “Eu estudei num colégio Diocesano, em Taubaté. Fui para lá em 1948, sob recomendação do Dr. José Cembranelli, um médico que tinha casa na avenida [Iperoig], na esquina com a rua Condessa de Vimeiro, onde atualmente é a Sucolândia. Ele costumava recomendar ‘leite de cabra e ar de Ubatuba’ aos pacientes com problemas respiratórios. Na época, ele disse ao meu pai da escola dos padres, em regime de internato, onde eu seria bem acolhido. E assim eu fui. Naquele tempo, a viagem até Taubaté durava até seis horas, num ônibus tipo ‘jardineira’ que transportava gente, criação (galinha, pato...). Numa ocasião, o jacá [grande cesto de taquara] das galinhas caiu no chão e elas saíram desesperadas, correndo pra todo lado, voando pelas janelas abertas, ganhando o mato. Foi uma correria do pessoal atrás delas, catando uma por uma para poder continuar a viagem".

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