quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

RIMAS E RUMOS

Flor do quintal (Arquivo JRS)

                O saudoso Gusto, natural da Praia da Santa Rita, nos marcou bastante no tempo da infância porque sempre tinha um simples comentário ao ver as nossas reinações. “Não deixem essa garuzada na lata por muito tempo senão eles morrem por falta de ar”; “Vocês precisavam mesmo tirar os umbigos dos cachos para fazer barquinhos?”; “Peguem essas mandiocas, toda essa miuçalha, que vou mostrar a vocês como se faz vaquinhas”.  Algumas vezes ele, com um cigarro na boca, apenas olhava o que fazíamos, como se admirasse as nossas brincadeiras, as nossas “artes”.
                A saudosa Dona Antônia, natural de Minas Gerais, já era a sua companheira quando eu conheci o Gusto.  Ela também era muito compreensiva com aquela criançada que se tecia pela vizinhança. Só esbravejava quando alguém ficava assobiando para eles em sinal de provocação. Xingava mesmo!

                Os mais velhos do lugar diziam que a primeira esposa do nosso personagem era muito especial. O nome dela: Maria Paula. Contavam que, após o casamento, depois de alguns meses, se dizendo estar grávida, foram a uma função (baile) na casa da Maria Sodré, na Enseada. Ao passar na barra (rio), ela estacou, parou de repente. Então o Gusto, que estava conforme o costume caiçara andando na frente, chamou: “Venha logo, mulher. O xiba já começou. E quem não dança o xiba, também não dança a miuçalha. E por que você tá aí parada no meio da barra?”. É aqui que entra a famosa fala dela: “Eu escutei um tchibum na água. Acredito que foi a minha criança que caiu. O dó!”. Pode isso? De acordo com as conversas dos mais antigos, o Gusto logo enviuvou em decorrência dessa gravidez complicada da dona Maria Paula.

                Do Gusto também é a nossa conhecida “rima”:

                A lua nasceu  bonita

               E redonda igual um tamanco;

                Olhei pra cama

                A Maria Paula tava com a perna pra fora.

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