segunda-feira, 18 de maio de 2015

ZÉ BRÁZ E O FIM DO MUNDO


Arte Nossa (Arquivo JRS)
                  Em março de 2011, dei a conhecer esta contribuição de duas mulheres  caiçaras maravilhosas: Nilséa e Dona Santa. Agora, homenageando essas saudosas companheiras de outros tempos, vale a pena recordar.         
                   No ano de 2005, recordando-me de algumas  histórias  contadas  por dona Francisca "Santa",  da  praia  do  Perequê-mirim, senti  vontade  de   escutá-las   novamente. Telefonei para a sua filha Nilséa e marcamos um encontro. Foi   um   dia  maravilhoso! Saí encharcado pelo banho de cultura que as duas esbanjaram!
            Apresento, hoje, de forma resumida, a façanha do Zé Bráz. Desta família tradicional do lugar eu somente conheci o João Bráz. Os seus descendentes são poucos, e, por enquanto, não mostram interesse pela memória interessante de seus antepassados. Eis o causo:
            Há cem anos, mais ou menos, na praia do Perequê-mirim, morava um solteirão por nome de Zé Bráz. Muitos diziam que ele era meio tonto, desequilibrado, mas não é isso que se conclui depois de analisar os seus muitos feitos. É o contrário!  Ele era muito astucioso, capaz de elaborar os melhores planos com a intenção de pregar boas peças nas pessoas. Era um verdadeiro maroto!
            A história do fim do mundo é a sua mais famosa elaboração. Veja a engenhosidade dele: primeiramente divulgou uma história. Anunciava a todos que “no dia 25 de março o mundo vai acabar. Todos devem se preparar para perceber o principal sinal em cima do mar, pois ele vai pegar fogo e vai ser o fim de tudo”.
            Quando se aproximava a dita data, Zé Bráz preparou uma balsa com talos de bananeira e colheu muito capim seco. Depois, já no referido dia, com sua canoa rebocou pacientemente (bem escondido de todos!) aquela jangada até a costeira da ponta da praia da Santa Rita. Bem para lá da Pedra do Sino, num ponto bem distante da praia, de onde os moradores dos vários pontos e praias tinham uma boa visão.
             Naquele tempo as pessoas cumpriam um ritual no serão, ou seja, na chegada da noite todos iam até o porto (chegada dos caminhos no jundu) mais próximo para dar uma última olhada no mar. Até proseavam um pouco antes de se retirarem para o repouso da noite. Sabendo disso desde que arquitetou a ideia (que as pessoas estavam no lagamar admirando o crepúsculo), o astucioso acendeu a tal balsa. Aí, as pessoas, muitas delas já apreensivas e angustiadas por causa da história que era de domínio de todos, reconheceram o tão profetizado sinal: o incêndio no mar.
            Foi um desespero só! Gritavam, choravam, chamavam os filhos para ficarem juntos até o momento da morte.   É preciso lembrar que as pessoas eram simples e respiravam numa atmosfera de temor religioso? Isso bastou para tornar a armação bem verídica!
            A sorte foi que alguém percebeu a canoa do Zé Bráz nas proximidades do mar em fogo e matou a charada. Logo tudo voltou ao normal. E assim uma brincadeira tão distante de nós passa um pouco do ser caiçara: engenhoso, religioso, irreverente, contemplativo e astucioso.
Eis um comentário do querido amigo Diego:
Nossa! Fico emocionado ao ouvir e ler História da nossa terra,das nossas origens esquecida,que precisam ser resgatada. Lembro-me da saudosa "Dona Francisca",quantas histórias de Ubatuba,que Deus a tenha..Lembro muito das tardes de tantas histórias que jamais irei esquecer....

Um comentário:

  1. Bela história! Quando leio os contos no blog, faço uma viagem fascinante do passado de Ubatuba.
    Fica a saudade de Dona Francisca e de sua filha Nilsea, conhecida por "Ceia".
    Saudades dos tempos bons de tarde, contos, risadas e etc.

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