segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

EM ALGUM LUGAR... A LUTA CONTINUA!

A união e a solidariedade de tanta gente resultou na vitória (Arquivo Trindadeiros)
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               O loteamento da Estufa, em Ubatuba, aprovado pela prefeitura em 1952, por determinação do investidor Licurgo Querido, tem o nome de Gurilândia Caiçara. Só aos poucos, com o crescimento da cidade, esse lugar foi se consolidando de fato, com ruas que receberam nomes de times de futebol. Num apêndice, divisando com os herdeiros do Marigny, surgiu o loteamento denominado Parque Paris, onde os pioneiros se estabeleceram em terrenos de características muito próximas de brejo. Prova disso você constata a cada chuva forte, com moradores passando agruras, ficando isolados e tendo perdas materiais. Ah! Nessas condições, em casas de blocos bem características, foram trazidos os caiçaras da Praia da Trindade e adjacências, por ocasião do êxodo forçado, envolvendo interesses multinacionais! Era o início da década de 1980 quando esses caiçaras foram enxotados daquele paraíso do extremo sul fluminense.
               Agora, me recordando da jornalista Priscila Siqueira, do frei Valdir Oswaldo e de tantos jovens que se engajaram na causa dos trindadeiros, faço questão de celebrar a vitória dos caiçaras. Era muita gente graúda contra os roceiros-pescadores! Veja esta passagem do livro da Priscila (Genocídio caiçara):
               “Em 1977, numa declaração à imprensa, John Sillers, então representante da empresa na praia, afirmava que ‘a vastidão da área propiciava a ação de grileiros’. Devido a isso foram enviados homens armados a Trindade, ‘armamento convencional como revólveres, rifles e metralhadoras’. Sillers dizia ter procurado acordo com os trindadeiros, mas não admitia terceiros nas posses’. Um dos terceiros a que se referia era o senador Severo Fagundes Gomes, que em 1973, através de Ivete Maciel, conhecida neste litoral pela alcunha de ‘Loba do Mar’, adquire as praias de Baixo, Cepilho, de Fora e Cachadaço, revendendo-as posteriormente”. A afirmação dos jagunços e do representante era: “contra a companhia nada se pode fazer”. No entanto, a luta valeu! A companhia perdeu! E “a maioria dos caiçaras que se mudou para o Parque Paris, na periferia de Ubatuba, voltou para Trindade. A companhia não lhes forneceu a escritura definitiva de suas casas e muitas delas apresentavam péssimas condições desde o início da construção”. O que vem a seguir se passou nesse loteamento, trinta e cinco anos depois da saga dos trindadeiros.
               Dias atrás, andando nas cercanias procurando localizar a nova moradia do primo Zé Roberto, avistei uma quadra tomada por mato alto. No meio de tanto capim , avistei um banco de concreto. Deduzi: “Isto é uma praça! Mas assim?”.
               Pois é! Lá está uma mostra muito negativa de civilidade! Nem as pessoas, nem a prefeitura cuidam do espaço reservado como praça. Isso fez com que eu procurasse uma passagem no livro Incidente em Antares, de Érico Veríssimo:

               “Como toda cidade pequena que se preza, Antares tem a sua rua do Comércio e a sua Voluntários da Pátria. E duas praças, uma delas a ‘enteada’ da família, a gata borralheira, fica na extremidade norte, é malcuidada, cercada de casas velhas e baixas, o chão de terra entregue às formigas, às urtigas e à guanxumas”.

                              Bem... pode ser que a nossa cidade tenha muitas outras ‘enteadas’ em condições bem mais precárias!

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