terça-feira, 16 de setembro de 2014

AS BEIÇUDAS ESTÃO VOLTANDO

         
Visita ao cerco (Arquivo Chiéus)
            Peter Santos Németh, autor do Glossário Caiçara de Ubatuba, em seu blog (canoadepau.blogspot.com), observando a rotina dos pescadores da Praia da Enseada, nos apresenta mais algumas reflexões ao ser caiçara e à preservação da qualidade do nosso ambiente marítimo.

         Esse mês de julho passei quase inteiro na Praia da Enseada em Ubatuba, revendo meus amigos e Mestres Caiçaras. Não foram somente "férias", na verdade foi minha pesquisa de campo para o projeto de mestrado em ciência ambiental pelo PROCAM/NUPAUB/USP.
       Nesses 20 e tantos dias remei alguns quilômetros, recolhi algumas centenas de metros de tresmalhos, conversei outras tantas horas sob a sombra da nossa velha amendoeira e registrei mais de 700 fotografias e vídeos.
       Morando fora da Enseada por mais de três anos, constatei algumas mudanças positivas e outras negativas. Entre as negativas estão a verticalização desenfreada (e ilegal?) de alguns empreendimentos imobiliários que sistematicamente vêm avançando ano a ano da Praia Grande, pelas Toninhas e agora Enseada e Saco da Ribeira, tudo isso numa região em que o saneamento é perto de zero e o único emissário submarino da Enseada é irregular e obsoleto. Na verdade o emissário apenas "varre" pra debaixo d`água o esgoto junto com cerca de 200 litros de cloro por dia. (Não sei o que é pior para o ambiente o cloro ou a merda). Outro problema são as garagens náuticas, vulgas marinas, que à revelia da lei municipal, ampliam suas instalações tirando o sossego de praias destinadas aos banhistas com seus tratores circulando ou estacionados na areia o dia todo, desvalorizando nosso veranismo.
Mas nem tudo são más notícias, em meio aos ruídos de tratores e jet-skis, do cheiro de cloro, merda e óleo, alguns pequenos milagres estão ocorrendo.
          Embora a pesca artesanal continue decaindo, as fazendas marinhas dos pescadores estão garantindo uma renda extra com a produção crescente de mexilhões (mariscos) e algas de forma 100% sustentável. Esse ano que passou toda a produção foi vendida, e para o ano que vem já estão "plantando" uma nova safra.
  
         Além de garantir a renda em tempos de vacas magras, os cultivos estão prestando um importante serviço ambiental pois são verdadeiras fábricas de organismos marinhos, que entre os mariscos e algas alimentam-se, crescem e se reproduzem, dali se espalhando por toda a região e repovoando as costeiras com espécies nobres como lagostas, polvos, robalos, garoupas e até meros.
Foram vários os relatos de garoupas voltando a ser capturadas nos antigos pesqueiros que por anos ficaram sem produzir nada. Garoupas de 3, 4 e até 6 quilos foram pescadas.
      Mas os próprios pescadores locais alertam para o "perigo" da temporada, quando aqueles "caçadores-sub de aquário" vêm em massa matando tudo que se move em nossa costeira, que é protegida pelo GERCO sendo proibido o arrasto e a caça-sub.
         Só nos resta a esperança de que os órgãos ambientais e de fiscalização façam cumprir a lei que protege nossos recursos para o uso preferencial dos pescadores tradicionais. Mas na prática, até hoje, nenhuma ação preventiva já foi observada tendo como alvo a caça-sub, somente os pescadores artesanais é que são sistematicamente fiscalizados. Arpões, arbaletes e fisgas são livremente comercializados para qualquer um que possa pagar, sem a exigência de licença de pesca, idade mínima ou qualquer tipo de restrição. Assim, ano a ano uma verdadeira matança ocorre em nossa costeira impedindo sua regeneração.

2 comentários:

  1. Pratico pesca submarina a alguns anos e fico triste de ler comentários hipócritas e de quem não conhece e nem procura se informar sobre o assunto, sempre gostei de pescar seja de linha ( costeira, praia ou embarcado) sempre via pescadores com peixes pequenos desde garoupas até robalos, já presenciei pescadores com mais de 5 garoupas pequenas pescadas desde de linha até mesmo rede de fundo, porem isso tudo é pouco se comparamos com os verdadeiros culpados pela falência da vida marinha em abundancia, os verdadeiros culpados somos nos(seres Humanos ) que a cada dia mais aumentamos o consumo, precisando de mais e mais, hoje temos vários exemplos de degradação na fauna marinha, vários são os relatos do amigo e também temos a exemplo as grandes traineiras que varem tudo que tem pela frente, destruindo desde corais que levam anos a crescer até mesmo peixes pequenos que são prioridade para o controle da vida marinha, pois se diminui o alimento de uma garoupa diminuirá também sua população, acho que a pesca sub tem seu papel na diminuição, porem muito pequeno comparado a grandes empresas pesqueiras que lucram milhões todos os anos, mais é mais fácil culpar pequenos(Pesca sub) do que grandes multinacionais e com certeza vai ser causa perdida, assim como alguns pescadores sub ( desinformados ou mal carates) no mundo é assim tem laranjas podres em todo lugar, como pescadores de rede ou linha que por sua vez passam o cota permitida e pescam e lugares proibidos, (ex, Ilha Anchieta) toda semana os fiscais da ilha recolhem metros e metros de rede em torno da ilha, como um ex, um pescador sub (mal caráter) foi pego com um mero na ilha a alguns meses atras, tem pessoas boa e ruim, desde pesca de linha, profissional com suas redes, pescadores sub, ou até mesmo um amador que vem desfrutar de um dia de lazer e joga sua linha ao mar, antes de criticarmos , pratique , conheça, só depois faça criticas destrutivas a respeito, pois também tinha duvidas e só depois de conhecer e praticar que me apaixonei pela pesca sub, pois você sai de casa, sem saber se vai ter condições de mergulho, (tonalidade da água, condição da maré, correntes,ventos) se vai ter peixes nos pesqueiros visitados, muitas das pescarias que realizei não pesquei absolutamente nada, porem somente o prazer de ver a fauna( tartarugas, arraias, peixes ornamentais, etc..)que já vale o dia, pois é muito gratificante, é um esporte que alem de dar prazer e relaxamento também tem a vantagem de trazer um alimento saudável para casa, respeitando a cota , peso e tamanho, vai da consciência de cada um,eu faço minha parte, assim como a pesca de linha a pesca sub também tem fiscalização, exigindo carteira de pesca amadora, acho que para alguns pude me expressar e dar um ponto de vista diferente apresentado pelo amigo, porem com a mesma enfase, um grande a abraço a todos.....

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    1. Prezado Wellington, agradeço seu comentário. Eu sou o autor do texto acima, e também pratico a caça submarina responsável. Concordo que não somos a "laranja podre" pois eu só caço para comer. Veja bem, é caça e não pesca, pois a pesca é passiva (vc espera) e a caça é ativa (vc vai atrás). Minha crítica é sobre quem caça para vender e não tem critério de escolha do peixe, "mata tudo o que se move", além de invadir nossas fazendas marinhas que são os berçários de várias espécies de valor comercial. Outra crítica é com a falta de fiscalização e ordenamento sobre a caça-sub. Também a prática dos caçadores de matarem os exemplares maiores é errada, pois uma garoupa adulta produz 200 milhões de ovos e uma pequena apenas 20 milhões, ou seja é muito mais adequado matar as pequenas e preservar as adultas que já estão selecionadas naturalmente e são as mais evoluídas da espécie. Bom, mais uma vez agradeço seu comentário e se quiser ler mais acesse: http://canoadepau.blogspot.com.br/2013/03/o-maior-trofeu-da-praia-da-enseada.html, http://canoadepau.blogspot.com.br/2013/11/so-mais-tres-anos-de-vida-para-o-mero.html.

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