sábado, 20 de setembro de 2014

POESIA SOB CONTROLE

       
Olha aí o João! (Arquivo JRS)

           Ali, entre o morro e a praia (onde sapinhaoá era em fartura), rostos caiçaras se teciam nos afazeres e nas diversões. Dona Pitiá fazia seus benzimentos.  Seo Fabiano, Maneco Antunes, Ditinho Henrique, Silvério Sabá, Didi e outros mais vividos confabulavam com o meu pai a respeito do evento que acontecia tão longe, mas que assistíamos naquele terreiro areado. Parecia que todas as crianças brincavam por ali. No fundo, todo mundo era uma só parentalha. E tudo tinha o seu valor porque promovia a solidariedade. Quem? Onde? Quando? Eu, menino ainda, no lugar chamado de Pedra Branca, no meio da Praia da Enseada!
A convite do Gastão, um dos cariocas que a extração do granito verde atraiu para Ubatuba, fui assistir, com o papai, a final da Copa do Mundo de Futebol que se realizava no México. “Ah! Como era linda a Ludmila, a filha daquele senhor!”. Dele era a primeira televisão que trazia imagens coloridas. As poucas outras existentes eram em preto e branco, com péssima recepção de imagens. Dentre os rostos contentes, me recordo ainda do Basílio, do Mariana, da Conceição, do Moacir, do José Carlos de Góis e do João Batista Antunes. É deste, também conhecido como JOBÀN, o poema a seguir. Aos mais novos que não leem e aos desmemoriados: prevalecia neste Brasil a ditadura militar.

DECLARAÇÃO

Quero deixar bem clara a minha posição:
Não sou contra os homens que mandam
Por não saber dirigir
Nem contra os que obedecem
Por não saber reagir
Nem contra os que agridem
Nem contra os agredidos
Quero deixar bem claro:
Não importa a cor
O nome ou origem
Não importa o grau cultural
Nem a beleza física
Sou contra, sim:
Os que aceitam quando podem recusar
Os que recusam
Porque não querm se envolver
Os que sugerem quando devem agir
E os que agem sem pensar
Os que omitem para não somar
E os que fogem pra se libertar
Quero deixar bem clara a minha posição:
Não sou a favor de amedrontar
Para dominar
Nem abrir mão para enganar
Nem pedir quando é necessário
Nem encobrir erros
Que mesmo encobertos aparecem
Que a força emana do povo
Eu sempre ouvi falar
O que eu nunca acreditei
É que existisse essa força
Força essa que caminha para a extinção
E fortalece o poder arbitrário.

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