domingo, 13 de novembro de 2011

Vovó Eugênia, um espírito aberto

              
                Uma das pessoas mais atentas a nós, crianças na época, era a vó Eugênia. Era um verdadeiro “espírito aberto”: aceitava sugestões, conselhos e críticas de qualquer pessoa ou situação, sempre sem nenhum preconceito. Lembro-me bem dos momentos. Exemplos: se  estivesse escolhendo feijão para cozinhar, caso alguém chegasse e começasse um caso pertinente, logo ela parava de movimentar as pequenas mãos sobre a peneira e se voltava totalmente à pessoa.  Caso estivesse em pé, se chegasse uma criança para contar-lhe algo, a vovó tinha a sensibilidade e o respeito de se agachar a fim de ficar na mesma altura, demonstrando assim total atenção. Isto era um prazer, dava uma imensa satisfação a nós!
                Foi ela quem nos contou, numa manhã chuvosa, depois de ter adiantado o almoço, a respeito do Zé Teotônio, da praia Grande do Bonete. Foi assim:
                “O Zé Teotônio teve um machucado no pé que se enfezou, foi causando uma vermelhidão que não teve benzimento e remédio que resolvesse. Deu gangrena. O homem berrava dia e noite por céu e terra. Pra vocês terem uma ideia, do Canto do Joaquim, um lugar tão longe,  os outros diziam que se escutava o berreiro. Era uma dor medonha. Depois de uma semana berrando, ele se desesperou: foi no rachador de lenha, pegou o machado amolado e cortou a própria perna. Imaginem o sofrimento desse homem! Que dor tamanha fez com que ele escolhesse uma dor menor?”.
                Eu conheci o Zé Teotônio. Pelo jeito a “operação” foi um sucesso, pois morreu de velhice, com o seu toco de perna, bem feliz no seu paraíso praiano.
                Ah! Que falta faz pessoas e sociedades abertas, capazes de se corrigirem por vias pacíficas e por atitudes respeitosas!

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