terça-feira, 8 de novembro de 2011

Sem medo de assombração

Contam na família de meu pai sobre meu tetravô, de sobrenome Lopes, que era homem de muita coragem.
Estava ele na praia grande do Bonete e resolveu passar a noite por lá mesmo. Entrou num rancho de canoas na beira da praia e se deitou dentro de uma canoa de voga, grande e pesada, dessas para oito remadores. Quando fora da água uma canoa de voga só é movimentada sobre rolos na areia, por meia dúzia de homens fortes. Pois o Lopes se acomodou e pegou no sono, tranquilo.
Quando chegou a madrugada, o Lopes foi acordado de forma brusca e se deu conta de que a canoa estava sendo sacudida. Olhou em torno e não viu ninguém, aquilo não podia mesmo ser gente. Uma força misteriosa levantava a canoa pela proa e largava violentamente sobre os rolos de madeira.
Ainda assim o Lopes não se deixou abater: se não tinha medo de gente ou de bicho, pra que ter medo de assombração? Se segurando como podia, começou a desdenhar: “Ê ê ê, bobagem! Quer quebrar, quebra. Ela não é minha mesmo.” Ainda foi chacoalhado algumas vezes junto com a canoa, depois tudo se aquietou e o velho Lopes voltou a dormiu sossegado ali mesmo. Naquela noite a assombração desperdiçou seu tempo.

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