sexta-feira, 1 de março de 2024

UMA TRADIÇÃO

  

Um galho no telhado - Arquivo JRS

   Um novo dia vem se anunciando. Refleti durante o repouso o quanto as pessoas são dominadas, usadas para que terceiros continuem se aproveitando delas. As pressões são diversas, desde as discretas mensagens revestidas em roupagens sagradas até o uso da força bruta, ameaças de demissões, de perda de “benefícios” etc. Assim é este mundo: está fortemente baseado no princípio de que a satisfação de alguns é resultado da desventura de outros. Neste momento em que muita gente já está em busca de um alimento para a manhã que vem enxotando a noite, me recordei de uma tradição do meu finado pai.

   Papai fazia de tudo um pouco, mas era carpinteiro. Eu e meus irmãos aprendemos um pouco convivendo nas obras, acompanhando seus trabalhos. Ele tinha seus rituais na realização das tarefas, mas deixava que os filhos, por teimosia, fizessem coisas diferentes, adotassem outros procedimentos. Ou seja: a gente aprendia com ele, mas ele também adquiria outros pontos de vista com a ousadia dos mais novos. A tradição a que me referi era a inauguração da cobertura de casas. Estranho? Nada! Explico: após colocar a última telha sobre o madeiramento, ele ia até o mato mais perto, cortava um considerável galho de árvore e pregava na cumeeira da casa. Ficava vistoso, chamava a atenção aquele galho verde no alto. Estava inaugurado o telhado. Ele dizia que era uma maneira de pedir a proteção da casa. Muitas pessoas da cultura caiçara ao verem aquilo sabia do que se tratava. Aquele galho permaneceria no alto por ao menos uma semana, quando perderia as folhas. Até hoje não sei de onde veio esse ritual, mas sigo repetindo-o por acreditar na mensagem, por lembrar do meu pai e por gostar dessa tradição.

 

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