sábado, 15 de abril de 2023

A VACA NO RUMO DO BREJO

 


Caveira - Obra do Mestre Bigode


     Estou na leitura do segundo volume da obra de Laurentino Gomes em torno da escravidão. No contexto brasileiro, onde os discursos de ódio continuam grassando, conquistando gente humilde para esse desvio moral, continuo firme na convicção de que, no fundo, o neoliberalismo continua investindo na escravização. Afinal, é sobre o sangue e suor de quem trabalha que vive maravilhosamente bem uma minoria que pouco se importa com a soberania nacional e a felicidade do povo. Justiça social, então, nem corisca no horizonte! Dividir o povo, as etnias etc. é um primeiro passo para exercer pleno domínio. Agora, diante de papos bestas em torno de armas como solução aos problemas, achei por bem uma passagem daquele tempo horrível de escravização dos africanos:

Entre 1750 e 1807, a Inglaterra, o maior de todos os fornecedores bélicos, teria embarcado para a África mais de 22 milhões de toneladas de pólvora, média de 384 mil quilos por ano, além de outros 5 milhões de toneladas de chumbo, metal usado para a fabricação de projéteis para fuzis e espingardas. Um relatório português de 1725 dizia que a quantidade de pólvora estocada em Luanda era tão grande que seria suficiente para garantir a defesa militar de Angola e de todo o Brasil, e ainda sobraria para outras necessidades.

    A indústria da morte se aninhou naquela época no solo africano, jogou pobre contra pobre. Hoje, me entristece escutar pobres encampando discursos armamentistas. Quer prova incontestável de que se contagiaram pelo medo e ódio? A simples fala já é um clamor por um mundo mais violento. Quem ganha com isso é o opressor. Me entristece mais ainda constatar gente da minha cultura caiçara embarcada nessa canoa furada, passando os próprios pais e irmãos para trás etc. Miséria cultural! Gente que faz vistas grossas para não admitir a lógica cruel do dividir para escravizar! A vaca que vai pro brejo é a nossa humanidade. Despencamos dos caminhos da civilidade para a barbárie. Enquanto os pobres se matam, os ricos se regozijam em suas realizações e as empresas mortíferas se aperfeiçoam em suas metas.


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