sábado, 10 de outubro de 2020

FARRA DE CAUSOS (I)

 

Noite de causos (Arquivo JRS)

    No ano de 2006, a minha esposa iniciou uma atividade com alunos adultos durante as aulas de História. A proposta era trabalhar a contação oral e escrita de causos, estimulando a convivência entre eles. Assim aconteceu: contaram histórias, falaram  de suas vidas, suas experiências, medos, crenças, valores, ou seja, cada um expôs um pouco de si mesmo perante os colegas, revivendo a tradicional contação de causos da tradição caiçara.  "A atividade de contar histórias faz as pessoas se identificarem com os outros não somente pelas experiências, valores e temores, mas sobretudo pela própria condição tão humana de narradores", diz a minha Gal.

    A partir de hoje, ainda que de forma lacunar, darei minha contribuição no objetivo de levar os textos deles a outras pessoas, a leitores reais, que todos tinham em mente quando escreveram suas histórias. Infelizmente, no momento, não temos como acessar os autores dos causos para agradecer, noticiar a minha iniciativa e deixá-los mais orgulhosos ainda da obra final deles. Ela se perpetua, continua se expandindo mundo afora. Parabéns e obrigado pela produção maravilhosa! Conforme forem acessando, tomando conhecimento, repassem aos demais, por favor. Espero que apreciem a  Farra de Causos.


ASSOMBRAÇÃO NO FUSCA

    Minha cunhada morava com um mecânico em um sobrado ao lado da casa da minha comadre. Na parte de baixo do sobrado, no fundo do quintal era uma oficina, cheia de carros velhos.

    Então, um belo dia, minha cunhada brigou com o marido e eles se separaram. Ela foi morar na parte de cima e ele ficou em baixo. Ele gostava muito de beber. Um dia, ele saiu para beber e encontrou com um amigo que havia acabado de sair do presídio e convidou esse amigo para morar e trabalhar com ele. O amigo ficou trabalhando e morando nesta oficina durante seis meses.

    Passando esse tempo, ninguém sabia nada a seu respeito. Ele passou a beber e acabou falecendo dentro dessa casa. As pessoas que moravam lá tentaram contato com os familiares dele sem sucesso, então o enterraram assim mesmo. Após o enterro do rapaz, sete dias certinho, minha comadre saiu no quintal e viu dentro de um fusca velho velas acesas. Ela foi olhar se eram mesmo velas e quando chegou perto viu que não havia nada dentro do carro, nem um pingo de vela.

    Passaram-se mais sete dias e aconteceu novamente. Então ela achou que seu cunhado havia bebido e estava com palhaçada. Ela foi olhar na casa dele e ele não estava lá. Aí ela ficou preocupada.

    A mesma coisa aconteceu três vezes seguidas. Na quarta vez, ela viu o rapaz que havia falecido dentro do carro e o carro estava pegando fogo. Só que quando ela se aproximou, tudo sumiu.

    Minha comadre então mandou rezar missa para ele durante quatro domingos em seguida e ele não voltou a aparecer mais. 

(Autora: LF)

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