domingo, 5 de janeiro de 2020

O QUE PODE VIR DO ORIENTE?

Numa gruta, essa turminha aí (Arquivo JRS)
       Nem quero me encontrar com uns parentes que votaram na propaganda de ódio contra os pobres, contra a diversidade cultural, contra as organizações populares, contra o direito dos filhos dos pobres estudarem etc! É essa gente, também gente minha, que acha certo entregar as riquezas do nosso lugar para as nações ricas, que apoia a política dos Estados Unidos e das nações ricas, que se entrega de corpo e alma na edificação de muros entre as pessoas etc. Agora, certamente, estão engolindo as notícias tendenciosas contra os árabes e os persas. “Só o Ocidente é bom, só a fé no nosso Deus é verdadeira”. Irão, agora, lutar e entregar seus filhos para “morrer pela pátria e viver sem razão”? Coitados!

      Hoje, véspera de desmontar os presépios, quantos cristãos se lembram da tradição que diz: “Os Santos Reis vieram do Oriente para adorar o menino Jesus”? Estou sempre escutando absurdos contra esses povos, essas culturas tão antigas: “É povo ruim essa gente das bandas do Oriente”, “Eles só pensam neles”, “São uns fanáticos e matam sem pensar duas vezes”, “Nunca quero encontrar um muçulmano pelo caminho” etc. Só para relembrar a esses meus parentes: temos árabes dos dois lados da nossa família: Mesquita e Amorim. E pode ter outros que nem sabemos! Vai saber!

        Segundo a tradição, os ilustres visitantes “foram bem guiados pela estrela do Oriente” e chegaram perguntando “onde era nascido o verdadeiro messias”. Rei Herodes, sentindo-se ameaçado, podendo perder o poder, “ensinou ao três reis magos as avessas do caminho”. Mas não adiantou nada porque eles foram bem guiados. E na gruta daquela cidadezinha encontraram a família, a Sagrada Família! Depois, também já sabemos pela tradição, Herodes, o todo poderoso dali, executou um plano de matança de criancinhas.

       Fazendo uma exegese bíblica, vamos entrar numa teologia da libertação: dos povos marginalizados, do Oriente, vieram as pessoas para nos alertar que é entre os pobres que nasce a esperança, as possibilidades de reconstrução do mundo, de renovação da humanidade. Muitos, no entanto, apesar de darem sete pulinhos, acreditando na ação de Yemanjá, na intervenção dela para o ano que se inicia, falam e agem contra as religiosidades populares, afro-brasileiras, as minorias etc. Montam e cantam em seus presépios, mas acham bom que os Estados Unidos destruam os bárbaros do Oriente, não deixando nenhuma gruta naquele lugar. Vieram de outras terras, se fizeram aqui no litoral, mas vivem falando contra quem está chegando hoje, catando algo para comer das sobras de nossos lares, se abrigando nos piores lugares e "estragando a nossa temporada". É momento de reflexão, de não ficar engolindo só asneiras nas mídias sociais. Tem muitas coisas boas, mas sem exercitar o pensamento, você vai continuar atirando a primeira pedra contra aqueles que menos merecem. Os "cabeças gordas", aqueles que se recusam em exercitar o raciocínio, idolatram a alienação e se tornam opressores e apoiadores da opressão.

       Do Oriente veio a bússola que serve de guia em nossas rotas, mas que também direciona os mísseis sobre os povos. Do Oriente veio a pólvora que detona pedras e abre estradas, mas que é mais usada para matar gente pobre. Do Oriente veio o desenvolvimento da matemática e de tantas ciências… E do Oriente pode vir novas luzes para este ano! 

    Precisa mais? Do Oriente vieram os Santos Reis tão comemorados no dia seis de janeiro de cada ano!

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