segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

O NAVEGANTE E O FAROL


Morro da Piúva (Arquivo JRS)

        Sigo o acontecimento: dois homens, por volta de cinquenta anos cada, vão no carro pela estrada da roça. De repente o veículo para ao lado de duas crianças, meninos ainda, entre oito e onze anos. Uma porta, a de trás do motorista, é aberta. Não percebo o motivo disso. Algo escorrega do assento traseiro e vai ao chão de barro. O menino maior pega aquilo e já vai correr, mas o passageiro consegue segurá-lo e logo começa a estapeá-lo no rosto, como se quisesse dar uma lição pelo furto. Acho horrível a cena. Prestando mais atenção, noto que o motorista não está bem, quer falar alguma coisa. Mostra-me uma pequena faca e diz que tentou o suicídio. Foi atendido no hospital, mas continua mal, como se continuasse perturbado. Ele chama o outro e narra toda a situação daquele menino que acabou de levar uns tapas. É triste demais: os pais o abandonaram, vive sozinho, a escola é o único apoio de verdade, mas falta demais por razões bem óbvias. O outro, aquele que surrou o menino, se arrepende e quer consertar o mal feito. Não sei como terminou esta história. Só sei que nas escolas a gente fica sabendo dessas tristes histórias; elas se repetem muito mais do que se imagina. Tudo porque ainda há muitos pais e mães irresponsáveis, que não levam a sério o que é o compromisso de trazer uma criança ao mundo.

     Minha filha e meu filho, assim como eu e minha esposa, trabalharão e viverão honestamente e com o suor de seus rostos, não serão cegados pela cobiça, pela ânsia de dinheiro. Verão e viverão as injustiças; lutarão contra elas. Farão o bem a muita gente porque o bem é o nosso alvo. Festejarão a paz e deixarão o mundo melhor do que encontraram. Se apoiarão em nossas ausências, mas sabem que sempre estaremos ao seu lado.

      Hoje, ouvindo a deputada federal Luíza Erundina, numa comissão especial, fiquei impressionado como alguém, com oitenta e cinco anos, consegue tanta vitalidade, tanta clareza diante da vida. Como eu gostaria de alcançar essa idade com tanta saúde, sobretudo espiritual (aquilo que dá sentido ao nosso viver)!

       Que as comemorações dos Santos Reis sejam celebrações da vida com justiça e amor! Com carinho.

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