terça-feira, 8 de outubro de 2019

O FRÁGIL MUNDO CAIÇARA

Arte maravilhosa  do Tiano (Arquivo JRS)


Guinho no avião do Santos Dumont (Arquivo JRS)

            Surpresa no começo da noite, grande mesmo! A mana Ana me enviou uma imagem fantástica! Trata-se de um quadro do Tiano. Que sensibilidade, amigo!

            Na praia do Cruzeiro, a Yperoig  tupinambá, está o sino comemorativo dos jesuítas, o padre Anchieta, o mano Guinho (Wagner) no monumento que homenageava Santos Dumont. Tudo em ruínas, se esfarelando. Mais ao longe, na linha mais esticada, se vê a escultura do caiçara, a estátua do Zé Vieira (Zé Capão), vô do Tiano, que está numa rotatória, na entrada da cidade. Do céu sai uma mão divina em cujos dedos estão os fios a ligar as figuras da nossa história, tal como as Moiras na mitologia grega.

            Conheci o Cristiano “Tiano” há um bom tempo, quando ele, adolescente ainda, estudava na escola do bairro, do Ipiranguinha. Eu já era amigo da sua mãe que, em idos tempos, foi companheira da minha mãe. Ambas eram serventes municipais, na escola Anchieta. Suas irmãs também são conhecidas, seguem na luta pela vida. Assim que vi a imagem, pensei sobre o (s) significado (s) do conjunto. “O que será que o Tiano quis expressar para nós?”

            É, Tiano, em nossa breve existência nós somos testemunhas de descasos com os nossos patrimônios culturais, com a nossa cultura caiçara. O padre Anchieta agora segura um toco de vara. Como vai escrever na areia de Yperoig? O sino resiste porque é pesado, mas quem nota os detalhes da obra? “Virou lugar de mijo, meu filho!”. Imagine você que pouca gente conheceu o monumento ao Pai da Aviação. Ainda bem que registramos o Guinho sentado ali, no começo da década de 1980, quando a praia do Itaguá era limpíssima, com a população se banhando, brincando e pescadores puxando suas redes por ali! Até a praça teve sua denominação modificada! E agora, apesar de ter outro homenageado, todos a chamam de Praça da Baleia. Mais distante ainda da nossa realidade, quase se apagando por trás do morro, está o caiçara tradicional, simbolizando os PAIS E MÃES DA TERRA, os tamoios. “O que posso fazer diante de tudo isso?”. De acordo com a prosa do Nenê Veloso, o seu avô gritaria com convicção: “Tá no náilo do Zé Vieira!”. A linha dele, forte, garante! Porém, o céu está para tormenta, sem um bom sinal no mar de Yperoig, a água de tubarões dos antigos tupinambás. Faltaram os coriscos caindo, tal como a descrição do fim do mundo da saudosa tia Maria da Barra, a Tia Iaiá.

            Ainda bem que tem gente lutando neste chão pela cultura caiçara!

           Você é resistência, Tiano! Também grita: "Tá no náilo do Zé Vieira!".

            Viva as nossas guerreiras! Viva os nossos guerreiros!

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