sexta-feira, 13 de julho de 2018

OLHAR DO HOSPÍCIO

Mapa de Ubatuba  por volta de 1870 (Arquivo Ubatuba)


Canoas na beira do rio por volta de 1950 (Arquivo Ubatuba)

               A Ilha de Villegagnon, no Rio de Janeiro, foi fundada em 1555 pelo almirante Nícolas Durand de Villegagnon. Antes era conhecida dos indígenas por Serigipe. Os portugueses a chamavam de Ilha das Palmeiras. Desde 1938, ela abriga a Escola Naval. Esta informação é para entender parte do que escreveu o escritor Lima Barreto, quando estava recluso no hospício, no começo do século XX, em janeiro de 1914, por ocasião do aniversário da cidade.  Este brasileiro, que morreu aos 41 anos (1881-1922), nos deixou um importante legado de crônicas, ensaios e críticas literárias. Hoje, ele nos ajuda a conhecer o nosso contexto histórico, a contribuição indígena no nosso ser caiçara.

               “Vejo passar por Villegagnon, através das grades do salão. Villegagnon ainda tem muros, mas não lhe vejo as palmeiras. Acode-me pensar na fundação do Rio de Janeiro, que a data comemora. Nesta enseada [na Baía da Guanabara] houve, segundo a história, um combate com os franceses – o das canoas. Olho-a, está um tanto crespa, e as águas são turvas e dão ao olhar a impressão de que estão mais povoadas do que as outras. Há pescadores em faina. Canoas ainda! Heranças dos índios! O remo também vem deles! Quantas coisas dos seus usos e costumes eles nos legaram? Muitas! A farinha de mandioca, do milho, certas tuberosas, nomes de rios e lugares, muitos, adequados e expressivos”.

               Bem lembrado! As denominações indígenas são tão adequadas que, mesmo forçando modificações, nem sempre estas se estabeleceram. Vejamos o exemplo do nome da nossa cidade (Ubatuba – significando muitas ubás). Até hoje, enquanto a civilidade local ainda permite, vemos nas margens do Rio Ubatuba, hoje mais conhecido como Rio Grande de Ubatuba, uma espécie de cana silvestre, já chamada de ubá pelos tupinambás que viviam nesta terra. Famosa eram as flechas de ubá, a parte inflorescente que servia aos índios como hastes portadoras de pontas agudas a serem atiradas por seus arcos.  Aos caiçaras serviam, sobretudo, à confecção de gaiolas. Foi próximo à boca da barra deste rio que, em 1637, se deu a fundação da Vila Nova da Exaltação da Santa Cruz do Salvador de Ubatuba. Após um certo tempo... faz uma lei, decreta outra... somente a herança indígena restou. O resto, a parte forçada pela cristandade, desapareceu. Ficou apenas Ubatuba!
               É isto! Os nomes têm uma íntima relação com aquilo que se quer dizer. Eu chamaria isto de espiritualidade! Não há porque recorrer às palavras que são modas, denotando simplesmente falta de gosto e de autonomia étnico-cultural.

2 comentários:

  1. Valeu amigo por compartilhar grande e importante conhecimento.
    Aproveite bem as férias e a família.
    Abraços e até dia 30,
    Napoleão.

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    1. Valeu, Napoleão! O mesmo eu desejo a vocês. Grande abraço, amigo!

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