domingo, 9 de julho de 2017

É O PROGRESSO, MEU FILHO!

Puxada de rede (Arquivo ACO)
Garça branca, rio... (Arquivo JRS)

               A partir de 1970, mais ou menos, começamos a escutar sobre ecologia, preservação ambiental, ecodesenvolvimento etc. Passamos a ver com outros olhos as formas de ocupação do espaço, de como íamos jogando um monte de coisas (lixo) na natureza e de que forma usávamos os recursos que nos rodeavam, que faziam parte essencial do espaço caiçara. Passamos a entender que o progresso também fazia estragos. Agora, depois de algumas décadas, creio que a causa ecológica não é uma moda passageira, ela começa nas mínimas atitudes em volta da nossa casa, se alastra para o nosso município e ganha o mundo. Há uma ordem na casa e no mundo. O mundo é a nossa casa: ecologia. Somos cidadãos do mundo!
               Meus avós começavam o dia visitando o tresmalho. Seus apetrechos de pesca eram carregados em balaios que, depois de velhos, iriam servir como lugar para as galinhas se aninharem. Depois, ao perceberem alguma tábua encalhada, trazida pela maré, levavam para casa, iria servir para algo. Até mesmo pregos, caso tivessem, seriam depositados numa cumbuca e aproveitados em alguma ocasião. As linhadas eram desembaraçadas e duravam muito tempo. Os pescados eram consertados  no rio, onde os patos devoravam quase tudo que a gente  não aproveitava, sendo o restante comido por camarões e peixes de água doce. Urubu e garoçá comiam da miuçalha que ficava na praia. Não havia detergente, nem desinfetantes, nem todos esses produtos que usamos em nossos cabelos.  O sabão, desde o de cinza feito pela vó Martinha,  era o rei da limpeza. As vasilhas de barro não exigiam muito, mas as de alumínio eram areadas para brilharem.  Hoje sabemos que tudo era dificultoso, mas na época, conforme as palavras do Seo Zé Pedro, “a vida não tinha dificuldade porque a gente não conhecia facilidade”.

               Um exemplo de aproveitamento que me marcou muito foi me dado por Seo Dito Coimbra, morador do sertãozinho do Perequê-mirim. Ele era morador único dali, sozinho mesmo! Bem mais tarde é que o Miguel da Maria Clarinda foi morar naquele lugar.  A água vinha do morro numa bica de bambu, formava um pequeno charco onde ele cultivava agrião e escorria sem nenhuma pressa para o cercado das criações (pato, galinha...). De lá passava pelos canteiros da horta bem cercada de bambus e escorria para o bananal. A cada dia, exceto nos dias santos e domingos, o Seo Dito saía com uma cesta para vender ou trocar seus produtos. Ainda tenho bem na lembrança o seu andar tranquilo, o seu lugar aprazível. Agora, passando por cada córrego do nosso município, sentindo em muitos deles o cheiro de esgoto que segue para o mar, sinto o quanto é urgente pesar os prós e os contras, de avançar com cuidado, mas avançar mesmo em defesa da natureza! Imagine que tem "gente sabida" defendendo a verticalização, mais esgoto ainda para o nosso mar! "Ah! Depois a gente cobra do governo um tratamento adequado do esgoto!".

               Naquele tempo, meados de 1970, quando veio uma ordem para cortar as árvores que enfeitavam as margens da rodovia, o Seo Dito parou onde eu estava junto ao balaio da rede e disse: “É o progresso, meu filho! Aonde vamos parar?”

               Não chego a ser pessimista, pois, conforme o ditado, “o pessimista é um otimista bem informado”, mas desconfio que, a a partir dos abusos do sem-noção do meu entorno e dos poderosos devastadores da natureza em nível mundial, a política dos pequenos passos não salvará o mundo, mas... sigo fazendo a minha parte.

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