terça-feira, 18 de julho de 2017

CABEÇA, IRMÃO!

Tradição da fogueira (Arquivo JRS)

               Jorge “Cabeça”, filho do tio Izídio Antunes de Sá e da tia Luzia agora está sepultado no Morro do Cemitério, acima da costeira da Maranduba. Há pouco mais de dois meses nos encontramos no ônibus; voltava para a sua casa, no Sertão da Quina. Estava animado para a prova pedestre, prevista para o dia 13 de junho, da subida do Morro de Santo Antônio, em Caraguatatuba. “Ainda ontem treinei com o filho do Mário, viemos correndo desde a Caçandoca até o Sapê. Logo vou completar 71 anos. Acho injusta a minha categoria (acima dos 60 anos): 10 anos faz diferença. Poderia ter uma categoria de 70 anos acima.  Mesmo assim, no ano passado eu fiquei com a terceira colocação.  Você sabe que eu sempre tentei estar em todas. Moderei nos meus vícios; já não bebo muito faz tempo. Agora me dedico mais às minhas corridas”.

               Numa ocasião, quando eu era bem moleque, também escutava uma conversa entre o frei Pio e o comerciante João Pimenta, o “Incréu”, conforme dizia papai. O armazém dele me encantava. Na minha lembrança tinha mais de dez pessoas assistindo e participando da prosa. Jorge, bem jovem ainda, também estava por ali, meio que embalado pela “mardita branquinha”.  Só que prestava bem atenção, balançando de espaço em espaço o vantajoso beiço ou para o lado do frei ou concordando com o comerciante. Em frente era o Largo do Sapê, com vista para o mar e o Porto do Cruzeiro (ao lado da casa da Maria Balio). De repente, cansado do assunto, o Jorge falou: “Quem sou eu para julgar quem tá mais certo ou mais errado?! Entendo quase nada de religião! Mas para mim Deus é um sonho. Um sonho é assim: pode ser interpretado de todo jeito. O Seo João tá certo e o frei Pio também tá certo. Aquilo que o mano Tobias disse acho que não tá errado. Não discordo da opinião do Clóvis. O Calixto deu o seu ponto de vista que é muito interessante. Também tá certo. Um sonho permite tudo. Agora eu vou indo porque a mamãe, a esta altura, já cozinhou a garoupa que o Chico Félix levou. A fome é maior que este papo de religião, entenderam? Sou cabeça, viu? Num assunto desse, assim costuma dizer o papai: ‘A gente usa muitas mentiras bonitas para encobertar as coisas que podem causar vergonha’ Cabeça, né? Cabeça, filho de Cabeça! Cabeça, bicho!”.

               Pelas notícias, A sua morte foi causada por alguém que dirigia bêbado e nem habilitação tinha. Jorge Cabeça, meu primo. Pedreiro. No último dia de vida terminou a casinha de cachorro da dentista. Cabeça, irmão!

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