terça-feira, 25 de abril de 2017

AS PRIMEIRAS MADRES EM UBATUBA (II)

Marco da Praça, no Ipiranguinha (Arquivo JRS)

               As primeiras povoações brasileiras nasceram sob a moral religiosa. Ubatuba, fundada em 1637, não poderia ser diferente. No bairro do Ipiranguinha, onde moro há mais de 20 anos, também tem o mesmo princípio formador: foi uma religiosa (Irmã Sofia) que, em 1965, iniciou um trabalho muito importante nesse bairro, convidada por um professor que professava outra religião. “Era crente”. O trabalho dessa madre foi tão marcante que até lhe homenagearam com uma praça.  Mas o legal é escutar o depoimento dessa mulher: “O professor Fernando fundou uma escolinha no Ipiranguinha e me convidou para ensinar o catecismo às crianças das famílias católicas. No começo eu ia a pé, mas logo compramos uma Kombi para facilitar o trabalho”.

               A ação da Irmã Sofia inicialmente era com as crianças, cultivando nelas propósitos morais: não beber, não fumar, se comportar bem na escola, respeitar os mais antigos etc. Em seguida, auxiliada por senhoras católicas (Dona Maria Guatura e Dona Iracema), Irmã Sofia incentiva, em mutirões, a construção de um Centro Social. O terreno foi doação do Senhor Acácio à Congregação das Cônegas de Santo Agostinho. Porém, Irmã Sofia, já chamada por todos por Madre, achou por bem não ficar com o terreno. “Nós já estávamos com muito terreno na cidade. Assim, doamos aos frades conventuais franciscanos, cujo vigário era Frei Francisco Calderoni. Mais tarde esse religioso comprou mais três ou quatro terrenos  para fazer uma pracinha em frente à igreja para o povo se reunir em dias festivos”.    
     
        Nessa Obra Social as pessoas aprenderam artesanatos (costura, crochê...) e ofícios (pintor, encanador, eletricista...) e receberam aulas de catecismo. Por volta de 1980, quando eu fui conhecer o bairro, encontrei além da Madre Sofia, o professor Pedro Paulo Scandiuzzi e o leigo Carlinhos, um caiçara natural da Ilha do Promirim. Que comunidade bonita! Posso dizer que esses três se entregavam ao trabalho com o apoio das pessoas de boa vontade do bairro. Assim, com o incentivo dessa religiosa, foi fundada a Sociedade dos Vicentinos e a Sociedade Amigos do Bairro.  Mais tarde, conforme depoimento do Seo Benedito, assumiram a luta para se criar uma escola no bairro. “As crianças estudavam no salão do Centro Social, mas eram muitas para o pequeno espaço. Assim fomos atrás das autoridades. Eu viajei muitas vezes até Caraguatatuba por conta disso. Em São José dos Campos, conseguimos um encontro com Dr. Chopin Tavares de Lima, da Educação, que nos garantiu a construção de uma escola. Assim, desde meados da década de 1980, temos a Escola Idalina do Amaral Graça”. Desse modo surgiu e cresceu o bairro do Ipiranguinha!


               Hoje, ao passar pela Praça da Igreja, ao ler os dizeres do marco, é bom saber que nós temos o dever de cultivar a memória de Madre Sofia e de tantos pioneiros desse nosso lugar. E como se faz isso? Com uma boa educação!

Um comentário:

  1. Relato maravilhoso! Grata Zé, por mais esta história entre tantas e sem dúvida, sem educação todo um povo sofre e desaprende a sonhar por futuro melhor.

    ResponderExcluir