terça-feira, 4 de abril de 2017

NO TEMPO DE NOSSOS AVÓS

Tio Salvador e a caçoa, na Fortaleza (Arquivo JRS)

Canoas da Florentina (Arquivo JRS)

      Tio Neco, vivendo em seu retiro, passeia por todos os lados, em todos os assuntos. Na sua simplicidade tece comentários de tudo, mas a sua preferência é pelas coisas da nossa terra. Este texto foi indicado pelo mano Mingo.
     Aproveito para mandar um forte abraço ao meu amigo Napoleão, fiel leitor das nossas coisas. 


    O verdadeiro caiçara dos tempos de nossos avós

    Nas primeiras horas de um novo dia, logo de madrugadinha, lá estava ele de pé. Acendia a lamparina, preparava o café que tomava acompanhado com peixe assado e farinha de mandioca. Abastecia a barriga e saía para pescar.
   Preparava o balaio e as linhas de pesca, que naquele tempo era de cordonel. Se deslocava até ao rancho na praia, lugar onde as canoas dos pescadores ficavam guardadas.
   E ali chegando tirava a sua canoa do meio das outras, colocando-a sobre os rolos de madeira e empurrava-a até ao mar.
  Não podia esquecer o puçá. Arrumava os apetrechos na canoa e lançava-a na água até que flutuasse, pulava dentro e ficava em pé para remar até ao camaroeiro (lugar onde os camarões se agrupam). Ali ele jogava o puçá, amarrava o cabo de sustentação no banco da canoa e arrastava por um certo tempo.
 Quando tinha capturado camarões em quantidade suficiente, o pescador remava mar adentro pelo tempo de umas quatro horas e ali começava a pescaria.
 A pequena embarcação era suficiente para dois pescadores, que remavam de um lugar para outro até encontrar o peixe.
 Lá pelo meio-dia, horas dadas pela altura do sol, estavam eles retornando à praia.
 Seus familiares estavam esperando e não ficavam decepcionados. O pescador caiçara sempre voltava com a canoa cheia de peixes. Corvina, bagre, cação, xaréu... enfim, uma infinidade de peixes. Era tempo de fartura, ninguém passava necessidade de alimentos.
  Existia o essencial para a sobrevivência, todos tinham roça de mandioca e faziam farinha, colhiam feijão, plantavam café e tinham bananal nas encostas dos morros. Viviam da terra e do mar que dava o que era preciso para fazer o azul-marinho, a alimentação preferida dos caiçaras.
  Após uma refeição dessas vinha uma sonolência danada. Mal dava tempo de buscar a esteira que estava guardada em pé atrás da porta, jogar na sombra de uma árvore do quintal e dormir a sesta.

  Eta vida boa! Este era o viver do caiçara nos bons tempos.

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