terça-feira, 14 de março de 2017

A SOLITÁRIA DE IPEROIG (I)

Idalina Graça (Arquivo Ubatuba Antiga)


               Pelo que eu sei, ao menos duas escola recebem o nome da Idalina Graça: uma no centro da cidade e outra no bairro do Ipiranguinha. Tenho certeza que pouca gente, inclusive professores, sabe muito pouco dessa mulher. Então, resolvi transcrever este belo texto, em duas partes, do Seo Filhinho, de 1983.

               “...Sinto-me obrigado a atender à  curiosidade daqueles que, agora, por aqui passando, querem saber quem foi a Solitária de Iperoig, a maviosa escritora do TERRA TAMOIA.
               A Solitária de Iperoig – pseudônimo de Idalina do Amaral Graça – foi, indiscutivelmente, uma das personagens mais notáveis e marcantes na vida de Ubatuba.
               Nascida em Ilhabela – quando o Litoral Norte se debatia na mais angustiosa crise de decadência  - , órfã, ainda na infância, enfrentando no seio da família sérios problemas de sobrevivência, sem meios de frequentar a escola primária, na qual não conseguiu ao menos dois anos de comparecimento, a ela só cabia seguir o exemplo dos jovens caiçaras daquele tempo: emigrar. Ir para Santos onde facilmente encontraria mercado de trabalho e, consequentemente, sorriam promessas de dias mais tranquilos, mais felizes.
               Foi assim que Idalina, em tenra idade, totalmente só, ignorante, desprotegida, abandonada ao léu, soube enfrentar a cidade grande, com todas as vicissitudes, todos os seus vícios e misérias e, com galhardia, de ânimo forte e cabeça erguida, pôs-se a lutar na esperança de atingir destino melhor.
               Enfrentou o pior. Foi empregada doméstica, Vagou de casa em casa suportando, sem meios de reação, admoestações, reprimendas e interminável série de injustiças que só acontecem aos fracos e desprotegidos.             
               Mas, no decurso dessa penosa caminhada, sempre que podia suavizava sua desdita na leitura de todo material impresso que lhe chegava às mãos, desde retalhos de jornais até compêndios que obtinha por empréstimo de raras pessoas compreensivas, das quais conseguia se aproximar.
               Foi esta a sua escola, foi assim que conseguiu acumular algum conhecimento, para que, no futuro, pudesse extravasar em rústicas palavras toda a sensibilidade que lhe transbordava da alma!
               Idalina trabalhava, sofria e sonhava!
               Certo dia o destino apresentou-lhe aquele que seria o fiel companheiro de seus dias pela vida afora, Albino Alves da Graça, igualmente caiçara, natural de Ubatuba, que também lutava por melhores dias na mesma cidade praiana [Santos].

               Casados, desambientados na trepidação da cidade grande e saudosa do bucolismo das regiões em que nasceram, vieram para Ubatuba, onde, depois de pouco tempo como comerciantes na Enseada, estabeleceram-se com pequeno e modesto hotel na cidade, no Largo da Matriz, no qual Idalina se multiplicava no desempenho de todas as tarefas, desde faxineira, arrumadeira, lavadeira, até cozinheira".

Um comentário:

  1. É da Idalina um dos mais belos registros da Praia da Enseada antes do turismo chegar e acabar com tudo. Tem um trechinho aqui: http://canoadepau.blogspot.com.br/2015/08/ilha-anchieta-110-anos-atras.html

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