sexta-feira, 12 de agosto de 2016

NIPÔNICOS NO LAGAMAR


 
Japoneses, em vindas promovidas pelo Sr. Igawa, catando sapinhauás no  Canto do Acaraú (Arquivo Igawa)
         Cheguei ao fim desta etapa, da minha parte na empreitada (de dar a conhecer a história do Sr. Igawa, um japonês que apostou muito em Ubatuba). Em prosa com o Nelson Igawa e sua esposa Mary, vislumbrei outras pistas de pesquisa que futuramente espero apresentar aos que seguem meus despretensiosos  textos. É muito bom saber que seus descendentes continuam firmes em seus projetos no município! Quanto a mim, nesta necessidade de conhecer e transmitir coisas de caiçara, vou trabalhando de acordo com meus recursos e correria do dia a dia, com prazer em escutar, descobrir tesouros que estão por aí, na nossa história, alguns ainda encaixotados e carinhosamente mantidos por pessoas sensíveis. Por isso aceito sempre alguma pista para um trabalho neste molde. E agradeço muito!

Conclusão:
Sr. Igawa (conhecido pelos funcionários como Sr. Álvaro) nunca morou em Ubatuba, fazia a rota São Paulo-Taubaté pela via Dutra, ainda de mão simples, e descia a serra em estrada de terra. A atual rodovia dos Tamoios nem existia, era mesmo feito uma trilha. Só por isso  dá para pensar  que ele era mesmo um desbravador. Em São Paulo participou ativamente até quando pôde de empreendimentos da colônia japonesa: na federação das escolas de língua japonesa, na construção do kaikan – associação  nipo-brasileira no bairro onde morava, e por muitos anos na Casa da Esperança ( Kibo-no-iê ), instituição para doenças  mentais e físicas graves. E ainda teve tempo para ser rotariano ativo, participando até mesmo das reuniões  em Ubatuba quando por aqui se encontrava.
Sr. Igawa faleceu em 28 de fevereiro de 2009, um dia antes de completar 87 anos.

          Na minha prosa com o Nelson, ainda nos lembramos:

1- Do empreendimento do Santokura, na Praia da Barra Seca. Começou com enguias, cujos alevinos vinha em avião da França. “Vinham dormindo, numa temperatura de quase zero grau. Quem trazia do aeroporto para cá era o Jorjão, num caminhão isotérmico. Chegando aqui, passavam de um tanque para outro, em temperaturas diferentes, rigorosamente controladas. Eles compravam gelo para reanimar os alevinos. Ali cresciam, engordavam e eram vendidos. Era só para exportação. Depois, das enguias, Santokura criou peixes tropicais. Ah! Por fim também funcionou como ranário. Faz tempo que já acabou tudo”.

2- “Outro japonês que investiu em Ubatuba tinha um ranário, no Itamambuca”. Como era mesmo o nome dele?

3- E o que dizer dos Matsuoka, Makiyama, Orito, Yamada, Hyasa, Imai, Utyama, Ikeda etc. que abraçaram as chances oferecidas nesta cidade?

Faço questão de acrescentar o comentário esclarecedor da amiga Mary neste espaço:

Oi Zé, bom dia!
Nos lembramos de outras famílias japonesas que aqui estavam quando viemos em 1977 - os Kuramoto que tinham pousada e restaurante no Pereque-açu, o famoso Rancho da Lua, os Niyama, do Rio Escuro - agricultores, os Assai até hoje com comercio de água e gás na Thomas Galhardo .Na época havia muito japonês por aqui, mas quando o Japão começou a receber os dekasseguis brasileiros muitas famílias daqui foram pra lá .Um lugar que meu sogro costumava almoçar era no restaurante São Jorge, da dona Izabel  e seu Jorge  - não sei o nome japonês - que faleceu nos anos 80 e a dona Izabel tocou sozinha até pouco tempo atrás. Vi esses dias  que o espaço onde ela morava e tinha restaurante e quartos pra alugar (na rua Jordão H. da Costa próximo a Casa Fernandes) deve virar logo logo um prédio.  
Bom fim de semana a todos!
abraço, Mary

            Finalmente, apresento o seguinte texto que esclarece alguns aspectos da cultura japonesa e da importância do Sr. Igawa na origem da Associação Esportiva e Cultural de Santana, na capital paulista:

           Apesar de refletirem muito das tradições do país, existe outra forma de conhecer mais a cultura nipônica que muitos brasileiros ainda têm pouco conhecimento: os Kaikans, pequenos clubes de bairro da colônia, comuns em vários locais onde a Imigração é marcante, como ocorre no ABC.
           Formado a partir dos termos “kai” (que quer dizer reunião) e “kan” (prédio), originalmente “Kaikan” era o nome dado apenas ao espaço onde os imigrantes, ainda pouco integrados ao Brasil, se reuniam para se confraternizar.
           Pouco frequentados fora do círculo nikkei – como são chamados os descendentes da “Terra do Sol Nascente” –, os kaikans desenvolvem atividades semelhantes a várias associações do gênero, com o diferencial de servirem também como redutos culturais do país oriental.
          Segundo a diretora do Museu de Imigração Japonesa de São Paulo, Célia Abe Oi, os Kaikans podem ser entendidos como “associações que tem a finalidade de reunir os descendentes e suas famílias para promover, em conjunto, as atividades sociais, esportivas e culturais de seu país”.
            A Associação Cultural e Esportiva de Santana completa 40 anos de existência. Foi uma longa caminhada. Quando volvemos nossos olhares para o caminho percorrido, enchemo-nos de emoção.
 1o Presidente: Suekazu Igawa  - 1967~1980   

 2o Presidente: Toyohiro Shimura - 1981~1990
3o Presidente:  Vicente Hayashida  - 1991~1996
 4Presidente: Toshihiko Komatsu - 1997~2000
 5o Presidente: Mário Suga - 2001~2008

No primeiro semestre de 2023, recebi esta mensagem da amiga Mary Igawa: Oi Zé, fiquei emocionada ao reler, muito obrigada. Saudades do tempo em que apanhávamos os sapinhoás, abundantes nesse canto do Acaraú. Depois que a Sabesp desviou o despejo de esgoto do rio Tavares para o rio Acaraú junto  ao esgoto da Coambiental em seguida, nunca mais vimos por aqui nem as anêmonas nas pedras, nem  os pepinos-do-mar, nem as lesmas marinhas, nem pindás, nem sinhás-rosas ,  bicudinhos , peixe-rei e outros, acabou tudo . Sem falar nas sardinhas que abasteciam as  dezenas de salgas espalhadas pela cidade e que eram fartamente distribuídas no caizão a quem dos barcos pesqueiros se achegassem. Outros tempos.....

2 comentários:

  1. Quero aqui parabenizar o criador desta página e colaborar com alguns detalhes. Lembro me que o Sr. Godoy, farmaceutico em Arujá com quem eu trabalhava desde os nove anos, (à essa época eu tinha 15 anos) detestava dirigir, e tinha interesses imobiliários na baixada norte, e por isso eu dirigia para o mesmo assim que saíamos da via Dutra em S. José dos Campos até Ubatuba. De Caraguá a Ubatuba o trajeto era parte praia e parte estrada de terra (uma viagem); e é desse período que pude acompanhar as negociações de venda da área da praia da barra seca ao Sr. Santokura, e dessa forma pude ver e acompanhar o desenvolvimento dos tanques e depois a engorda das "unaguis" ou enguia japonesa, e também acompanhar a tecnologia já adiantada de criação de peixes em cativeiro, com água do mar. É uma pena saber que tudo acabou. Lembro também que a essa época, uma das vezes que descemos para a baixada, o fizemos pela velha estrada de santos, e no Guarujá, rumamos para a balsa de Bertioga, e dali à frente, através das praias e pequenas escapadas por estradas de terra, até Caraguatatuba. (um dia inteiro).

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  2. Gratidão por compartilhar essa experiência. Poderia escrever mais a respeito?

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